Redação #1258987
Previsão: 23/11/2022
Na obra "Utopia", de 1516, o filósofo Thomas More, retrata uma sociedade ideal e perfeita. Nela, pontua-se a ausência de conflitos e de adversidades, o que vem, desde então, inspirando as civilizações ocidentais. Contudo, a falta de tratamento humanizado como garantia da luta antimanicomial tem feito o Brasil se afastar desse lugar utópico. Nesse prisma, é mister analisar a negligência estatal e o estigma acerca dos indivíduos portadores de doenças mentais a fim de mitigar os males relativos a essa temática.
Diante disso, é importante pontuar como o Poder público lida com a questão da luta antimanicomial hodiernamente. Nessa perspectiva, o contratualista John Locke, afirmou, no "contrato social", que o Estado tem a função de garantir os direitos imprecindíveis de todos os cidadãos, como a liberdade. No entanto, mesmo após o episódio conhecido como "holocausto brasileiro", em que milhares de pacientes acometidos com alguma doença mental morreram aprisionados após maus tratos no Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, a população ainda carece medidas mais humanizadas de tratamento para essa parte da populaçã, indicando a grotesca falha na função do estado com o "contrato social" de Locke. Isso pode ser percebido na quantidade irrisória de políticas públicas voltadas para suprir a defasagem no atendimento de pacientes que buscam por consultas e tratamentos e encontram enormes filas de espera, ainda mais quando necessitam de internação. Assim, é notório que mesmo hodiernamente o Governo não foi capaz de criar medidas substitutivas para tal imbróglio, o que carece de atenção.
Ademais, ressalta-se o estigma dos indivíduos, como outro fator que contribui para a manutenção do preconceito acerca do encarceramento como tratamento das doenças psiquiátricas. Nesse sentido, é lícito referenciar o período da Idade Média, na Europa, em que os doentes mentais eram vistos como seres demoníacos, já que, naquela época, não havia estudos acerca dessa temática e, consequentemente, ideias absurdas eram disseminadas como verdades. É perceptível, então, que existe uma raiz histórica para a existência de manicômios,ocasionando um intenso preconceito e exclusão.Dessa forma, é notório que os brasileiros, sem acesso aos conhecimentos acerca dos transtornos mentais, vivem na ignorância, disseminando atitudes preconceituosas até os dias atuais. Logo, é evidente que as doenças mentais são tratadas de forma equivocada, ferindo a dignidade de toda população e atrasando o avanço na lutaantimanicomial.
Torna-se evidente, portanto, que a questão do enfrentamento antimanicomial como garantia de tratamento humanizado no Brasil exige medidas concretas. Assim, faz-se necessário que o Governo, principal autoridade governante, crie, através de investimentos oriundos de campanhas de combate à corrupção - como a operação Lava-Jato - centros de atenção psicossocial comunitários, a fim de garantir o acompanhamento dos cidadãos historicamente excluídos da sociedade. Além disso, é mister que a escola, forte ferramente de construção social, realize rodas de conversas com os alunos, por meio da ação de psiquiatras e professores, com o intuito de trazer informações sobre a problemática do preconceito com os transtornos mentais. Dessa maneira, o Brasil se aproximará da Utopia proposta por More.
Ipatinga - MG