Texto
JC – Gregório de Matos é meio maldito até hoje – seus restos estão no Recife, mas sem nenhuma referência oficial. Ainda é um personagem que precisamos celebrar e homenagear? Talvez sua poesia ainda seja muito forte – em seu conteúdo moral e político –, mesmo para os dias atuais.
ANA MIRANDA – Ah, sim, a poesia satírica dele é forte, às vezes chocante, porque não estamos acostumados a obscenidades, ou a política, ou a crônicas na poesia... a poesia é um lugar de sensibilidades, lirismo, sonhos, amores, insônias, coisas assim – João Cabral é outra exceção temática. E Augusto dos Anjos. Mas a obra de Gregório carrega um esclarecimento fabuloso sobre a nossa identidade brasileira, ela desvenda nossas origens como sociedade e como pessoas. Além disso, é uma obra de grande beleza e carga emocional, grandeza de expressão, e um manancial de palavras e termos. Um espetáculo de linguagem e narrativa. Tem ritmo, tem encanto, promove descobertas... Acho que seria bom, sim, averiguar a sua passagem e morte em Recife, e assinalar, incorporar à imensa riqueza que os pernambucanos guardam em seu baú cultural.
Excerto de entrevista da escritora Ana Miranda ao Jornal do Commercio. Disponível em: https://jc.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2015/09/06/ana-miranda-fala-sobre-a-recriacao-de-gregorio-de-matos-e-seusinteresses-literarios-197682.php. Acesso em: 16 ago. 2021.
Considerando o gênero em que o Texto se realiza e seus modos de organização, assinale a alternativa CORRETA.
Texto 1
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 42.
Texto 2
Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura:
Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma mulher, que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava em criatura:
Matem-me, disse eu vendo abrasar-me,
Se esta a cousa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me:
Olhos meus, disse então por defender-me,
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 201.
Texto 3
No dia de quarta-feira de cinzas
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja;
De pó te faz espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te.
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,
E como o teu baixel sempre fraqueja
Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe à vista a terra, onde salvar-te.
Alerta, alerta, pois, que o vento berra.
Se assopra a vaidade e incha o pano,
Na proa a terra tens, amaina e ferra.
Todo o lenho mortal, baixel humano,
Se busca a salvação, tome hoje terra,
Que a terra de hoje é porto soberano.
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 309
Com base na leitura dos Textos 1, 2 e 3, e, considerando as características da produção poética de Gregório de Matos, assinale a alternativa CORRETA.
Texto 5
Quem deixa o trato pastoril, amado,
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.
Que bem é ver nos campos, trasladado
No gênio do Pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado.
Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre:
Um só trata a mentira, outro a verdade.
[...]
COSTA, Cláudio Manuel da. Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa. Excertos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000040.pdf> Acesso em: 05 jul. 2021.
Texto 6
Sou Pastor; não te nego; os meus montados
São esses, que aí vês; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados;
Ali me ouvem os troncos namorados,
Em que se transformou a antiga gente;
Qualquer deles o seu estrago sente;
Como eu sinto também os meus cuidados.
[...]
COSTA, Cláudio Manuel da. Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa. Excertos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000040.pdf> Acesso em: 05 jul. 2021.
Texto 7
Enquanto pasta, alegre, o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia Natureza.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: DCL, 2010. Excertos.
Texto 8
Com base na leitura dos Textos 5, 6, 7 e 8, e considerando as características do Arcadismo no Brasil, assinale a alternativa CORRETA.
Texto 10
Texto 11
Texto 12
Pero Vaz Caminha
a descoberta
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem
gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
ANDRADE, Oswald de. Pero Vaz Caminha. In: MORICONI, Italo (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 79.
Texto 13
“E assim seguimos o nosso caminho por
este mar – de longo até que na terça-feira das
Oitavas de Páscoa – eram os vinte e um dias de
abril [...] topamos alguns sinais de terra [...]”.
“Mostraram-lhes um carneiro: não
fizeram caso dele; uma galinha: quase tiveram
medo dela – não lhe queriam tocar, para logo
depois tomá-la, com grande espanto nos olhos”.
[...]
“Ali andavam entre eles três ou quatro
moças, muito novas e muito gentis, com cabelos
muito pretos e compridos, caídos pelas
espáduas, e suas vergonhas tão altas e tão
cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de
as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma
vergonha”. [...]
CAMINHA, Pero Vaz de. “A carta”. In: CASTRO, Silvio. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 2015. Excertos. p. 87, 91 e 94.
Texto 14
“Desta maneira ir-lhes-ei ensinando as orações e doutrinando-os na Fé até serem hábeis para o batismo. Todos estes que tratam conosco, dizem que querem ser como nós, senão que não têm com que se cubram como nós, e este só inconveniente tem. Se ouvem tanger a missa, já acodem e quando nos vêm fazer, tudo fazem, assentam-se de giolos, batem nos peitos, levantam as mãos ao céu [...].”
NÓBREGA, Manuel da. Em defesa das almas indígenas. In: OLIVIERI, Antonio Carlos; VILLA, Marco Antonio (Orgs.). Cronistas do Descobrimento. Série Bom Livro. São Paulo: Editora Ática, 2000. p. 48. Excertos.
A intertextualidade pode ser evidenciada nas relações entre textos literários e não literários.
Com base na leitura dos Textos 10, 11, 12, 13 e 14, e tendo em vista a noção de intertextualidade, bem como as características da produção literária do Quinhentismo brasileiro, assinale a alternativa CORRETA.
Texto 15
O povo, Doroteu, é como as moscas,
Que correm ao lugar, aonde sentem
O derramado mel; é similhante
Aos corvos, e aos abutres, que se ajuntam
Nos ermos, onde fede a carne podre.
À vista pois dos fatos que executa
O nosso grande Chefe, decisivos
Da piedade, que finge, a louca gente
De toda a parte corre a ver, se encontra
Algum pequeno alívio à sombra dele.
GONZAGA, Tomás Antônio. Cartas Chilenas. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 53.
Texto 16
Com base na leitura dos Textos 15 e 16, e tendo em vista as características da obra “Cartas Chilenas”, de Tomás Antônio Gonzaga, bem como a importância das funções da linguagem na análise de textos literários e não literários, assinale a alternativa CORRETA.