TEXTO VIII
Latas pregadas em paus
fixados na terra
fazem a casa
Os farrapos completam
[5] a paisagem íntima
O sol atravessando as frestas
acorda o seu habitante
Depois as doze horas de trabalho
Escravo
[10] britar pedra
acarretar pedra
britar pedra
acarretar pedra
ao sol
[15] à chuva
britar pedra
acarretar pedra
A velhice vem cedo
Uma esteira nas noites escuras
[20] basta para ele morrer
grato
e de fome
Agostinho Neto
Agostinho Neto, poeta angolano, combatente da luta anticolonial e primeiro Presidente da República, apresenta uma obra que se confunde com a história de seu país. Um dos seus temas é a relação penosa do homem com o seu trabalho no cotidiano, tornando assim sua arte popular e engajada.
Em todas as alternativas, as obras de arte expressam uma das temáticas presentes no poema de Agostinho Neto (Texto VIII), EXCETO em:
O período do Renascimento foi muito fértil em reflexões políticas. Em contraste com o pragmatismo de Maquiavel, alguns pensadores, inconformados com os males de seu tempo, escreveram sobre sociedades imaginárias. As obras desses pensadores expunham análises realistas que denunciavam as imperfeições das sociedades, e continham propostas de sociedades ideais, baseadas na Razão e capazes de promover a paz, o conhecimento, a justiça e a igualdade em benefício de todos os seres humanos.
A obra mais representativa dessas novas propostas é
TEXTO II
Uma mesa cheia de feijões.
O gesto de os juntar num montão único. E o gesto de
os separar, um por um, do dito montão.
O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos
[5] tempo que o segundo.
Se em vez da mesa fosse um território, em lugar de
feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas
num montão único é trabalho menos complicado do
que o de personalizar cada uma delas.
[10] O primeiro gesto, o de reunir, aunar, tornar uno todas
as pessoas de um mesmo território, é o processo da
CIVILIZAÇÃO.
O segundo gesto, o de personalizar cada ser que
pertence a uma civilização, é o processo da CULTURA.
[15] É mais difícil a passagem da civilização para a cultura
do que a formação de civilização.
A civilização é um fenômeno colectivo.
A cultura é um fenômeno individual.
Não há cultura sem civilização, nem civilização que
[20] perdure sem cultura.
Almada Negreiros
Vocabulário
aunar - juntar em um todo; unir
TEXTO III
Pasolini foi o mais aguerrido defensor da diferença,
ao detectar uma verdadeira mutação antropológica do
mundo moderno: a condição humana e a condição
burguesa passavam tristemente a coincidir. Tratava-se de
um poder invisível, diluído e onipresente. Tudo se tornava
igual a tudo em todo lugar. Era a melancolia da
semelhança, inspirando boa parte de seus desesperados
Escritos corsários. Era o fascismo de consumo que
devastava a singularidade das culturas. Era o fim dos
substratos sagrados, como vemos acontecer em Medéia.
O sujeito dava espaço ao consumidor. O corpo passava à
condição de mercadoria. Uma erotomania generalizada a
braços dados com o bom-mocismo desenxabido do
politicamente correto. Toda razão para Garaudy: o Ocidente
é um acidente. Um acidente que se imagina universal.
Tanto assim que, de Roma a Nova York, de Buenos Aires
a Paris, Pasolini deparava-se com jovens cada vez mais
parecidos entre si, a um só tempo infelizes e orgulhosos,
mesquinhos e arrivistas. Em Isfahan, por exemplo, muitos
começavam a usar um corte de cabelo à europeia. Para
dizer que não eram iguais aos bárbaros, aos mortos de
fome dos arredores: “somos burgueses, eis aqui nossos
cabelos compridos, que provam nossa modernidade
internacional de privilegiados.” Recusavam a própria
cultura para ingressar acéfalos no submundo da
modernidade. Quem poderá pressentir a profundidade do
abismo que os ameaça ou a tristeza que os cerca? Quem
os poderá salvar de si mesmos?
Marco Lucchesi
Vocabulário
Medeia - personagem da mitologia grega
erotomania - exageração, às vezes mórbida, dos sentimentos
amorosos e do fascínio por contatos sexuais; mania de sexo
Garaudy - Roger Garaudy, pensador francês
Isfahan - cidade no Irã
TEXTO IV
O dia em que nós formos inteiramente brasileiros e
só brasileiros a humanidade estará rica de mais uma
raça, rica de uma nova combinação de qualidades
humanas. As raças humanas são acordes musicais
(...) Quando realizarmos o nosso acorde, então
seremos usados na harmonia da civilização.
Mário de Andrade
Assinale a alternativa que correlaciona, quanto ao sentido do termo “civilização”, o fragmento de Mário de Andrade (Texto IV) com o fragmento de Almada Negreiros (Texto II).
TEXTO
Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre:
[5] Dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm,
e abater os que aqui nascem?
Se o fazeis pelo interesse
[10] de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.
E suposto que os louvores
em boca própria não valem,
[15] se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.
O certo é, pátria minha,
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
[20] desse tempo e dessa idade.
Haverá duzentos anos,
nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.
[25] Então vos pisavam índios,
e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
Nota: entenda-se “Bahia” como cidade.
Gregório de Matos
Vocabulário
alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro,
ignorante; que ou o que é tolo, parvo, estúpido.
ressábios - sabor; gosto que se tem depois.
cafres - indivíduo de raça negra
Identifique a alternativa em que o pronome sublinhado retoma e sintetiza, na progressão textual, um enunciado anteriormente expresso. (Texto)
TEXTO
Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre:
[5] Dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm,
e abater os que aqui nascem?
Se o fazeis pelo interesse
[10] de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.
E suposto que os louvores
em boca própria não valem,
[15] se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.
O certo é, pátria minha,
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
[20] desse tempo e dessa idade.
Haverá duzentos anos,
nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.
[25] Então vos pisavam índios,
e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
Nota: entenda-se “Bahia” como cidade.
Gregório de Matos
Vocabulário
alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro,
ignorante; que ou o que é tolo, parvo, estúpido.
ressábios - sabor; gosto que se tem depois.
cafres - indivíduo de raça negra
Todas as afirmativas sobre a construção estética ou a produção textual do poema de Gregório de Matos (Texto VII) estão adequadas, EXCETO uma. Assinale-a.
TEXTO
Modinha do exílio
Os moinhos têm palmeiras
Onde canta o sabiá.
Não são artes feiticeiras!
Por toda parte onde eu vá,
Mar e terras estrangeiras,
Posso ver mesmo as palmeiras
Em que ele cantando está.
Meu sabiá das palmeiras
Canta aqui melhor que lá.
Mas, em terras estrangeiras,
E por tristezas de cá,
Só à noite e às sextas-feiras.
Nada mais simples não há!
Canta modas brasileiras.
Canta – e que pena me dá!
Ribeiro Couto
Os versos dos poetas modernistas e românticos apresentam relação de intertextualidade com o poema de Ribeiro Couto, EXCETO em uma alternativa. Assinale-a.