T E X T O I
Caravelas
Quando os peixes dormem
contra o jade da água
e o mar respira fundo
com o vigor das ondas
batendo contra os cascos desfeitos dos navios
(quando então os peixes mais pesados
sonham as sereias, os corais,
as águas-vivas, as enseadas e o sal)
sabemos que as mesmas marés
escondem recifes
e fabricam a espuma —
a regularidade é uma invenção delas:
as caravelas não são livres.
O poema aprende com o mar
a colocar os corpos em perigo.
MARQUES, Ana Martins. A vida submarina. Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
T E X T O II
Lição de casa
Se os professores soubessem
dos riscos
não mandavam escolares
escreverem poesia.
Ao contrário
nos livros de poesia
deveria estar escrito:
não tente fazer em casa.
MARQUES, Ana Martins. A vida submarina. Belo Horizonte: Scriptum, 2009. p. 22.
Os textos têm em comum a
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
DIAS, Gonçalves. I-Juca Pirama (fragmento). Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=18 21>. Acesso em: 02 ago. 2015.
Esse texto de Gonçalves Dias é representativo do Romantismo brasileiro.
Entre as características da estética romântica que o poema manifesta, destaca-se
“A nossa época não é para longos poemas, pois o sentido da proporção e construção são qualidades que não possuímos. A nossa época é de poemetos, curtas produções líricas, sonetos e canções. A nossa sobrevivência nas eras vindouras assumirá muito provavelmente a forma de Cancioneiros, como aqueles onde se guardam e sobrevivem os trovadores da Provença e os poetas cortesãos do reinado de D. Dinis.”
PESSOA, Fernando. In: Páginas de Estética e de Teoria Literárias. Disponível em: . Acesso em: 10 jul. 2015.
Nesse texto, escrito no século XX, Fernando Pessoa faz referência a um momento histórico específico da literatura portuguesa.
Trata-se da poesia produzida no contexto da estética
O espelho
Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.
COUTO, Mia. Idades Cidades Divindades. Lisboa: Editorial Caminho, 2007.
No poema, o eu lírico expressa