Prefácio
Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) –
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas –
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas –
passaram essa tarefa para os poetas.
BARROS, Manoel de. Prefácio. In: Conserto a céu aberto para solos de ave. Obras completas. São Paulo: Leya, 2010. p. 288.
Manoel de Barros, poeta brasileiro, Sul-Matogrossense, contemporâneo, enfatiza em sua poesia a fragmentação contraposta ao todo, o particular oposto ao universal, o homem como parte integrante da Natureza e a natureza do homem.
No poema Prefácio, o eu-lírico
I. estabelece intertexto com o livro bíblico Gênesis.
II. assegura que as coisas foram criadas sem nome.
III. sugere que depois da criação de todas as coisas é que surgiram os sons instrumentais.
IV. garante que há uma finita interdependência entre os componentes da terra.
V. deixa entender que a quantidade e a complexidade dos afazeres no mundo provoca no Homem uma certa ansiedade.
VI. explicita em “A voz se estendeu na direção da boca.” que a “voz”, genericamente, seja uma tentativa de comunicação.
VII. insinua que uma das tarefas dos poetas seja dar sentidos a imagens e sons das coisas anônimas.
VIII. permite a interpretação de que o fato de “Insetos errados de cor caíam no mar” precede o surgimento da linguagem humana e confirma interdependência entre vida, terra, ar e água.
IX. cita “a harpa e a fêmea em pé”, fazendo alusão ao encantamento da musicalidade, da sensibilidade criadora, da possibilidade de reprodução e evolução da espécie, em intertexto com a teoria evolucionista de Charles Darwin.
X. utiliza parênteses, limitando a interdependência de todos os componentes universais.
A soma dos números correspondentes aos componentes frasais acima incorretos, de conformidade com o texto é:
Leia trechos de Sermão da sexagésima para a questão.
Trecho 1
Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador, e o pregador é nome; o que semeia, e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? – É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. (IV, p.125-126).
Trecho 2
O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria.
Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se deve evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto.
Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. (VI, p. 137-138).
VIEIRA, Antônio. Sermão da sexagésima. In: Sermões. Rio de Janeiro: Agir, 1992.
Examine as sentenças abaixo acerca dos trechos de Sermão da sexagésima:
I. Sermão é um gênero sistematicamente utilizado durante a vigência da escola literária do Barroco e no caso dos trechos acima, é predominante o cultismo, que prima pelo culto perfeccionista da forma e da erudição.
II. O gênero Sermão é caracterizado pela elaboração do pensamento argumentativo ou seja, conceptista, como é o caso dos trechos acima.
III. A característica didática do gênero Sermão é revelada por meio de enumerações, comparações, exemplos, contraposições de ideias, registro de semelhanças e diferenças, frases carregadas de redundâncias e das funções metalinguística e apelativa, tornando o texto de fácil elaboração e, consequentemente, de fácil compreensão.
IV. No Trecho 1 Vieira explica diferenças entre o que seja uma competência, ou seja, a função de alguém e o que seja a realização de tal competência, ou seja, a habilidade de alguém.
V. No Trecho 2 Vieira descreve os procedimentos da composição de um sermão, afirmando ser essencial a coerência, a delimitação do tema, a argumentação e a confrontação com o que é bíblico, tudo isso, de forma antropocêntrica.
VI. Na expressão “e o que não é isto, é falar de mais alto.” do Trecho 2, está evidente a diferença entre o que seja e o que não seja sermão, visto que falar ao outro de modo sábio, seja uma forma de aproximação e “falar de mais alto” seja uma forma de afastamento, porque o grito não aproxima, afasta.
VII. O antropocentrismo predominou sobre o teocentrismo durante o Barroco.
VIII. O Barroco é caracterizado por oposições, antíteses, numa tentativa de conciliação de opostos, como é o caso de “há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários”, no Trecho 2.
IX. A tentativa de conciliação entre opostos no Barroco, gera uma outra característica: o otimismo de quem consegue convencer.
X. A expressão “há de” repetida no Trecho 2 denota o desejo do emissor do texto, mas não é suficiente para garantir a ação do receptor, em razão de ser uma expressão propositiva.
A diferença entre a soma dos números das sentenças acima corretas e a soma dos números das sentenças acima incorretas é:
Leia trechos de Sermão da sexagésima para a questão.
Trecho 1
Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador, e o pregador é nome; o que semeia, e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? – É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. (IV, p.125-126).
Trecho 2
O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria.
Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se deve evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto.
Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. (VI, p. 137-138).
VIEIRA, Antônio. Sermão da sexagésima. In: Sermões. Rio de Janeiro: Agir, 1992.
Identifique a alternativa completamente correta acerca da sentença: “Entre o semeador e o que semeia há muita diferença.”
Leia trechos de Memórias de um sargento de milícias para a questão.
Era no tempo do rei. [...]
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dous (sic) morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira; sobre o padrinho houve suas dúvidas: o Leonardo queria que fosse o Sr. juiz; porém teve de ceder a instâncias da Maria e da comadre, que queriam que fosse o barbeiro de defronte, que afinal foi adotado. Já se sabe que houve nesse dia função: os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da terra, dançavam o fado. [...]
algibebe: mascate, vendedor ambulante.
saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
maganão: brincalhão, jovial, divertido.
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Tecnoprint S.A. s/d. p.31-34
Examine as sentenças abaixo acerca do trecho de Memórias de um sargento de milícias:
I. Memórias de um sargento de milícias é uma obra em prosa literária que faz uma reflexão acerca dos espaços, sobretudo urbanos, no Rio de Janeiro no início do século XIX, ocasião em que a Família real portuguesa de Dom João VI se refugiou no Brasil.
II. A referida obra possibilita uma reflexão acerca da transição entre o Romantismo e o Realismo no Brasil, evidenciando uma miscelânea de tendências, tais como a prosa regionalista e urbana.
III. A figura do malandro brasileiro retratada na citada obra não se identifica completamente com o malandro espanhol ou pícaro, a exemplo de que este seja um vassalo humilde que aprende por meio de seus próprios erros e aquele não.
IV. No Brasil, a palavra “picaretagem” tem relação semântica com a expressão espanhola “pícaro” que se refere “àqueles que vivem de astúcias, trapaças” mas, nesse sentido, não abrange os malandros de que trata a literatura brasileira, como em Memórias de um sargento de milícias e Macunaíma.
V. Embora a obra seja escrita no período do contexto histórico do Romantismo, não possui características fundamentais do movimento Romântico, como a idealização da mulher, a fantasia, o subjetivismo, o egocentrismo e o saudosismo.
VI. A forma de os brasileiros Maria e Leonardo, da época em que a obra foi escrita iniciarem um namoro condiz com a mensagem da letra da música do final do século XX, Entre tapas e beijos, de Leandro e Leonardo.
VII. A linguagem da obra é popularesca, coloquial, mais de acordo com a das pessoas de nível cultural “inferior”, pertencente a camadas sociais simples, antecipando características do Realismo Naturalismo, ainda não consolidado.
VIII. No trecho: “o menino de quem falamos é o herói desta história”, o termo “herói” está concebido de acordo com as características do herói épico.
IX. O trecho: “os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da terra, dançavam o fado.” enfatiza o processo de fusão da cultura de Portugal com a dos Nativos da Colônia brasileira, numa festa que celebra a determinação do destino do menino, confirmada pelo uso da expressão “dançavam o fado”.
X. O texto deixa claro que o apadrinhamento batismal, na concepção do pai, não está contaminado de interesses por poderes econômicos e sociais, mas de valores afetivos.
A diferença entre a soma dos números das sentenças acima corretas e a soma dos números das sentenças acima incorretas é:
Leia trechos de Memórias de um sargento de milícias para a questão.
Era no tempo do rei. [...]
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dous (sic) morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira; sobre o padrinho houve suas dúvidas: o Leonardo queria que fosse o Sr. juiz; porém teve de ceder a instâncias da Maria e da comadre, que queriam que fosse o barbeiro de defronte, que afinal foi adotado. Já se sabe que houve nesse dia função: os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da terra, dançavam o fado. [...]
algibebe: mascate, vendedor ambulante.
saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
maganão: brincalhão, jovial, divertido.
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Tecnoprint S.A. s/d. p.31-34
Identifique a afirmação incorreta acerca do conteúdo dos trechos de Memórias de um sargento de milícias, dentre as seguintes.
Leia a carta de Graciliano Ramos a Heloísa Medeiros, para as questão.
A HELOÍSA MEDEIROS
Por que não te deixaste ficar onde estavas?
Heloísa: Chegaram-me as duas linhas e meia que me escreveste. Pareceram-me feitas por uma senhora
muito séria, muito séria! muito antiga, muito devota, dessas que deitam água benta na tinta.
Tanta gravidade, tanta medida, só vejo em documentos oficiais. Até sinto desejo de começar esta carta
assim: "Exma. Sra.: tenho a honra de comunicar a V. Exa., etc".
Onze palavras! Imaginas o que um indivíduo experimenta ao receber onze palavras frias da criatura que
lhe tira o sono? Não imaginas. E sabes o que vem a ser isto de passar horas acordado, sonhando coisas
absurdas? Não sabes. Pois eu te conto.
Sento-me à banca, levado por um velho hábito, olho com rancor uma folha de papel, que teima em
tornar-se branca, penso que o Natal é uma festa deliciosa. Os bazares, a delegacia de polícia, a procissão de
Nossa Senhora do Amparo... E depois o jogo dos disparates, excelente jogo. "Iaiá caiu no poço". Ora o poço!
Quem caiu no poço fui eu.
Principio uma carta que devia ter escrito há três meses, não posso concluí-la. Fumo cigarros sem conta,
olhando um livro aberto, que não leio. Dança-me na minha cabeça uma chusma de ideias desencontradas. Entre
elas, tenaz, surge a lembrança de uma criaturinha a quem eu disse aqui em casa, depois da prisão do vigário,
nem sei que tolices.
Apaga-se a luz, deito-me. O sono anda longe. Que vieste fazer em Palmeira? Por que não te deixaste
ficar onde estavas?
Não consigo dormir. O nordeste, lá fora, varre os telhados. Na escuridão vejo distintamente essa mancha
que tens no olho direito e penso em certa conversa de cinco minutos, à janela do reverendo. Por que me falaste
daquela forma? Desejei que o teto caísse e nos matasse a todos.
Andei criando fantasmas. Vi dentro de mim outra muito diferente da que encontrei naquele dia.
Por que me quiseste? Deram-te conselhos? Por que apareceste mudada em vinte e quatro horas? Eu te
procurei porque endoideci por tua causa quando te vi pela primeira vez.
É necessário que isto acabe logo. Tenho raiva de ti, meu amor.
Fui visitar o Padre Macedo. Falou-me de ti, mas o que disse foi vago, confuso, diante de dez pessoas. É
triste que, para ter notícias tuas, minha filha, eu as ouça em público. Foram minhas irmãs que me disseram o dia
de teu aniversário e me deram teu endereço.
Tinhas razão quando afirmaste que entre nós não havia nada. Muito me fazes sofrer.
É preciso que tenhas confiança em mim, que me escrevas cartas extensas, que me abras largamente as
portas de tua alma.
Beijo-te as mãos, meu amor.
Recomendo-me aos teus, com especialidade a dona Lili, que vai ser minha sogra, diz ela. Acho-a boa
demais para sogra.
Amo-te muito. Espero que ainda venhas a gostar de mim um pouco. Teu Graciliano. Palmeira, 16 de
janeiro de 1928.
RAMOS, Graciliano. A HELOÍSA MEDEIROS. Por que não te deixaste ficar onde estavas? In: Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1992. p. 89- 90.
Examine as sentenças abaixo acerca da carta de Graciliano Ramos a Heloísa Medeiros.
I. Há uma elevada ansiedade de Graciliano em razão da ausência de manifestação amorosa de Heloísa, provocando neste, manifestações contraditórias, como o amor condicional declarado.
II. A carta de Graciliano a Heloisa é inquisitiva e crítica, por meio da qual ele se revela mais de uma vez na condição de vítima.
III. Em um momento da carta, Graciliano infantiliza Heloísa. IV. Num trecho da carta, o autor faz das palavras de dona Lili as suas, para sensibilizar Heloísa e, a seguir, desmerece a si mesmo.
V. A posição do remetente, na carta, oscila entre a de submissão e imposição em relação à amada.
VI. No triângulo dramático, Graciliano está na condição de vítima e de perseguidor, Heloísa na condição de salvadora e de vítima, e dona Lili de salvadora.
VII. As forças que atuam em sentido contrário: paixão de Graciliano por Heloísa agindo em direção ao amor de Heloísa dado e negado a Graciliano geram o conflito (mal-estar) existencial de Graciliano, conotado na carta.
VIII. O texto da carta é inquisitivo e argumentativo. IX. Religiosidade, subjetivismo, individualismo, escapismo e pessimismo são características românticas presentes na carta, embora seja de um tempo Modernista.
X. Das oito perguntas da carta, uma sugere a possibilidade de Heloísa haver recebido influências de outrem para se afastar de Graciliano.
A soma dos números das sentenças acima corretas, de conformidade com o texto da carta, é