TEXTO
[...] O índio romântico, mesmo o de Alencar, é o “bom selvagem” de Rousseau, cantado pelos poetas franceses a partir da segunda metade do século XVI [...]. Como vimos, os escritores românticos, no afã de renegar qualquer contribuição que pudesse, mesmo longinquamente, recordar o papel de subalternidade em relação a Portugal, substituíram os modelos literários portugueses pelos franceses. Por mais paradoxal que isso possa ser, e não obstante o fato de terem o índio praticamente na porta de casa, os românticos importam o índio afrancesado, já sublimado de tudo aquilo que poderia escandalizar a sensibilidade católica e tradicional do segundo Império.
OLIVEIRA, Vera Lúcia. Poesia, mito e história no Modernismo brasileiro. São Paulo: UNESP, Blumenau, FURB, 2001 (adaptado).
Sobre os indígenas e a literatura romântica do Império, assinale a alternativa CORRETA
TEXTO
O SERTANEJO FALANDO
A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.
Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-las na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.
MELO NETO, João Cabral. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
João Cabral de Melo Neto é um dos maiores poetas pernambucanos do século XX. Ele fez parte da chamada “Geração de 45” ou terceira fase modernista.
Sobre as características modernistas desse autor, é CORRETO afirmar que, no poema “O Sertanejo Falando”, encontramos
TEXTO
AUTO DA COMPADECIDA
JOÃO GRILO – Padre João! Padre João!
PADRE (aparecendo na igreja) – Que há? Que gritaria é essa?
CHICÓ – Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer um cachorro que
está se ultimando para o senhor benzer.
PADRE – Para eu benzer?
CHICÓ – Sim.
PADRE (com desprezo) – Um cachorro?
CHICÓ – Sim.
PADRE – Que maluquice! Que besteira!
JOÃO GRILO – Cansei de dizer a ele que o senhor benzia. Benze porque benze, vim com ele.
PADRE – Não benzo de jeito nenhum.
CHICÓ – Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.
JOÃO GRILO – No dia em que chegou o motor novo do major Antônio Morais o senhor não o benzeu?
PADRE – Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.
CHICÓ – Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.
PADRE – É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo
mundo faz isso, mas benzer cachorro?
JOÃO GRILO – É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e uma coisa é o motor do
major Antônio Morais e outra é benzer o cachorro do major Antônio Morais.
PADRE (mão em concha no ouvido) – Como?
JOÃO GRILO – Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do major Antônio Morais.
PADRE – E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio Morais?
JOÃO GRILO – É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse, mas o major é rico e
poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de perder meu emprego, fui forçado a obedecer, mas
disse a Chicó: o padre vai se zangar.
PADRE (desfazendo-se em sorrisos) – Zangar nada, João! Quem é um ministro de Deus para ter direito
de se zangar? Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o cachorro!
JOÃO GRILO (cortante) – Quer dizer que benze, não é?
PADRE (a Chicó) – Você o que é que acha?
CHICÓ – Eu não acho nada demais.
PADRE – Nem eu. Não vejo mal nenhum em abençoar as criaturas de Deus.
JOÃO GRILO – Então fica tudo na paz do Senhor, com cachorro benzido e todo mundo satisfeito.
PADRE – Digam ao major que venha. Eu estou esperando.
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 35. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2005.p. 32-34.
O Auto da Compadecida foi escrito em 1955 por Ariano Suassuna. Sobre essa obra, avalie as afirmações a seguir.
I. Estabelece-se como o maior romance da segunda metade do século XX por narrar, de forma inovadora, aventuras de uma dupla atrapalhada que engana seus superiores e recebe uma punição como lição no final.
II. Recebe influência tanto dos autos medievais portugueses quanto da literatura popular nordestina, como o cordel.
III. Seus personagens são alegóricos, ou seja, devem ser compreendidos de acordo com a posição que ocupam na sociedade e no contexto em que os fatos se desenvolvem na história.
IV. Tem um viés crítico, pois denuncia pobreza, violência, cobiça, infidelidade e exalta humildade, honestidade e ingenuidade.
V. O tema do julgamento é o grande responsável pela característica humorística durante toda a obra, pois, enquanto os pobres são punidos de forma injusta; os ricos são perdoados.
Estão CORRETAS, apenas, as assertivas