Segundo Martin Heidegger, “metafísica” é o cerne do filosofar, marcado pelo esquecimento do ser. Tendo privilegiado o ente (conjunto de todos os seres), procurando-lhe a região suprema, toda a filosofia foi destinada a ignorar a pergunta explícita pelo ser. “Qual é o sentido de ‘ser’?”, pergunta a obra principal de Heidegger, Ser e tempo. Essa pergunta é diferente da pergunta “O que é ser?”, cujo formato levaria a confundir ser com ente. De um ente podemos dizer o que é, dar- -lhe definição, encontrar suas características; mas ser não tem características, é indefinível, não se reporta a nenhum gênero – e, mesmo assim, seu significado parece óbvio. Todos sabemos o que ser significa, mas ninguém pode dizer algo a respeito.
Com base nisso, o primeiro parágrafo da obra mencionada aduz os três grandes preconceitos por meio dos quais a filosofia ter-se-ia dispensado de investigar o ser. São eles: ser é maximamente universal, e por isso não podemos conhecê-lo (já que conhecer algo seria dizer a que gênero pertence e qual a diferença que o especifica); ser é indefinível; ser é evidente por si mesmo em todo comportamento humano. Em contrapartida, o pensador alemão afirma: da máxima universalidade só descobrimos que ser não é ente; da indefinibilidade somente descobrimos que o discurso sobre ser não é o da definição, não é a linguagem a que estamos habituados no senso comum ou nas ciências, uma vez que estas tratam dos entes; da evidência do significado de ser em todo comportamento descobrimos a tarefa de dar fundamento a essa evidência, já que sabemos sem nada poder dizer, isto é, sabemos sem saber.
Partindo do enunciado e de seus conhecimentos, assinale a alternativa INCORRETA.
Nietzsche redescobriu os pré-socráticos. Numa nova visão que, na esteira do romantismo, ele nos deu do mundo grego, aqueles pensadores avultaram, ao lado dos poetas trágicos, com dimensões que absolutamente não cabiam no quadro tradicional de um desenvolvimento filosófico culminante em Aristóteles, nem mesmo no perspectivismo histórico mais amplo, traçado pelo hegelianismo recente. Libertados desses esquemas, eles são invocados por Nietzsche em sua polêmica contra a cultura da época, cujas raízes ele procura seguir até o racionalismo socrático e platônico, e mostrados em sua solidariedade profunda com a espiritualidade agonística do mundo grego, um mundo inteiramente deformado pelas lentes de nossa visão tradicional, cristã e racionalista.
SOUZA, J.C. “Para ler os fragmentos pré-socráticos”. In: Os pensadores – Pré-Socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
A música, com efeito, é o melhor exemplo do que queriam dizer os pitagóricos. A música, como tal, só existe em nossos nervos e nosso cérebro; fora de nós ou em si mesma (…), compõem-se somente de relações numéricas quanto ao ritmo, se se trata de sua quantidade, e quanto à tonalidade, se se trata de sua qualidade, conforme se considere o elemento harmônico ou o rítmico. No mesmo sentido, poder-se-ia exprimir o ser do universo, do qual a música é, pelo menos em certo sentido, a imagem, exclusivamente com o auxílio de números.
NIETZSCHE, F. “Os Pitagóricos”. In: Os Pensadores – Pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
Em acordo com os textos acima e com conhecimentos acerca da filosofia pré-socrática, é INCORRETO localizar entre os ensinamentos dos pitagóricos.
Sexto Empírico, em Hipotiposis Pirrônicas, escreve:
Se, portanto, as coisas que nos afetam por natureza afetam todos do mesmo modo, mas os assim chamados bens não nos afetam todos do mesmo modo, então nada é bom por natureza. Não é possível ser convencido por todas as opiniões apresentadas (...), por causa do conflito, nem por alguma delas. Pois aquele que diz que devemos achar convincente esta e não aquela, tem contra si opostos os argumentos daqueles que sustentam concepções diferentes e se torna parte da disputa. Assim, ele precisará, como os demais, antes ser julgado do que ser juiz dos outros. Uma vez, então, que não há critério ou prova, em razão da disputa indecidível a respeito destes, ele terminará suspendendo o juízo e assim não será capaz de afirmar acerca do que é por natureza bom (...).
Hipotiposis Pirrônicas III, 192.
Com base no texto de Sexto Empírico, examine, agora, as afirmações abaixo e assinale a alternativa CORRETA.
Nicolau de Cusa — cuja filosofia influencia o pensamento renascentista e se encontra no divisor de águas entre as idades Média e Moderna — a respeito do ser e do conhecer, escreveu o seguinte:
Se desejas progredir, em primeiro lugar toma como verdade o que a sã inteligência de todos os homens atesta: o singular não é plural e o um não é muitos. Por isso o um, em sua singularidade, ou como ele é em si mesmo, não se pode encontrar em muitos, mas pode encontrar-se na forma como é comunicável a muitos. Portanto, não se pode negar que uma coisa, por sua natureza, existe antes de ser conhecida. Disso se conclui que nem o sentido, nem a imaginação e nem o intelecto atingem o modo de ser, porquanto este precede a todos eles. Antes, tudo o que é atingido por algum modo de conhecer, apenas indica aquele modo anterior de ser. O que é conhecido não é pois a coisa mesma, mas semelhanças, imagens ou sinais dela. Portanto, não existe ciência do modo de ser, embora perceba-se com toda a certeza que este modo existe.
CUSA, Nicolau de. A douta ignorância. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.
Sobre o excerto acima, seguem as seguintes afirmações:
I. Conforme Nicolau de Cusa, há intuição mental daquilo que é anterior a todo conhecimento.
II. Para Nicolau de Cusa, o sentido, a imaginação e o intelecto constituem os principais modos de ser.
III. Nicolau de Cusa não busca a simplificação absoluta, a unificação, a singularidade, o Ser em si, o Absoluto.
IV. As semelhanças e imagens ou sinais são, na verdade, essências, Absolutas.
Sobre as afirmações acima, assinale a alternativa CORRETA.
(…) a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão deu a qualquer homem, em geral, a possibilidade de aceder [ao] estatuto de sujeito do direito. O contrato social, por conseguinte, concluía-se, mas fechava-se sobre si mesmo, deixando fora de jogo o mundo, enorme panóplia de coisas reduzidas ao estatuto de objetos passivos de apropriação. Razão humana maior, natureza exterior menor. O sujeito do conhecimento e da ação [se] beneficia de todos os direitos e seus objetos de nenhum.
SERRES, Michel. O contrato natural. Lisboa: Instituto Piaget. 1992.
Para Michel Serres, os contratos sociais imaginados por Hobbes e Rousseau são, por sua natureza intersubjetiva e limitada aos agentes humanos, antropocêntricos demais para servirem à política dos tempos atuais. No livro “O contrato natural”, ele argumenta que o nível de violência contra a natureza justifica que a pensemos como um sujeito que interage com os sujeitos humanos e que possui direitos intrínsecos, impondo assim responsabilidade para com ela.
Segundo o exposto, qual das seguintes assertivas expressa a profunda convicção de Serres, que é base de sua proposta?
Em primeiro lugar, se encontrarmos uma proposição que apenas se possa pensar como necessária, estamos em presença de um juízo a priori; se, além disso, essa proposição não for derivada de nenhuma outra, que por seu turno tenha o valor de uma proposição necessária, então é absolutamente a priori. Em segundo lugar, a experiência não concede nunca aos seus juízos uma universalidade verdadeira e rigorosa, apenas universalidade suposta e comparativa (por indução), de tal modo que, em verdade, antes se deveria dizer: tanto quanto até agora nos foi dado verificar, não se encontram exceções a esta ou àquela regra. Portanto, se um juízo é pensado com rigorosa universalidade, quer dizer, de tal modo que, nenhuma exceção se admite como possível, não é derivado da experiência, mas é absolutamente válido a priori.
KANT, E. Crítica da razão pura. 2ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
Considere o trecho acima, retirado à Introdução da obra kantiana, e assinale a alternativa INCORRETA.