Leia o trecho inicial do conto “A cartomante”, de Machado de Assis, para responder a questão.
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
– Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: “A senhora gosta de uma pessoa...” Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
– Errou, interrompeu Camilo, rindo.
– Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
[...]
– Tu crês deveras nessas cousas? perguntou-lhe
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muita cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranquila e satisfeita.
Cuido* que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões.
(Várias histórias, 1992.)
*Cuidar: pensar.
No trecho transcrito, Rita e Camilo são caracterizados, respectivamente, como
Leia o trecho inicial do conto “A cartomante”, de Machado de Assis, para responder a questão.
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
– Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: “A senhora gosta de uma pessoa...” Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
– Errou, interrompeu Camilo, rindo.
– Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
[...]
– Tu crês deveras nessas cousas? perguntou-lhe
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muita cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranquila e satisfeita.
Cuido* que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões.
(Várias histórias, 1992.)
*Cuidar: pensar.
Examine os versos iniciais do cordel intitulado “A cartomante” (uma adaptação do conto machadiano para a literatura de cordel), de Marcos Mairton da Silva.
A cartomante
A nossa história começa
Na hora em que dois amantes
Encontrando-se em segredo
Falavam em cartomantes.
Contava a moça ao amado
Que havia se consultado,
Com uma um dia antes.
O rapaz era Camilo,
O nome da moça: Rita.
Ela, então, dizia a ele
Que andava muito aflita
Pois temia que o rapaz
Já não lhe amasse mais
Nem lhe achasse mais bonita.
Que, por isso, tinha ido
Consultar-se com a vidente
Para ver se em suas cartas
Ficaria aparente
Se o amor permanecia
Ou se já esmaecia
Tornando-se decadente.
O rapaz ria daquilo.
Quase não acreditava
Nas coisas que a bela Rita
Nessa hora lhe contava.
(http://mundocordel.blogspot.com.br)
O cordel se mantém fiel ao conto de Machado de Assis ao mostrar que
Leia o trecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector
Sim, estou apaixonado por Macabéa, a minha querida Maca, apaixonado pela sua feiura e anonimato total pois ela não é para ninguém. Apaixonado por seus pulmões frágeis, a magricela. Quisera eu tanto que ela abrisse a boca e dissesse:
– Eu sou sozinha no mundo e não acredito em ninguém, todos mentem, às vezes até na hora do amor, eu não acho que um ser fale com o outro, a verdade só me vem quando estou sozinha.
Maca, porém, jamais disse frases, em primeiro lugar por ser de parca palavra. E acontece que não tinha consciência de si e não reclamava nada, até pensava que era feliz. Não se tratava de uma idiota mas tinha a felicidade pura dos idiotas. E também não prestava atenção em si mesma: ela não sabia.
(A hora da estrela, 1998.)
Uma característica marcante da obra de Clarice Lispector que pode ser observada nesse trecho é:
Analise o poema de Luís Vaz de Camões.
A D. Guiomar de Blasfé, queimando-se com ũa vela no rosto.
Amor, que todos ofende,
Teve, Senhora, por gosto
Que sentisse o vosso rosto
O que nas almas acende.
Aquele rosto que traz
O Mundo todo abrasado,
Se foi da flama tocado,
Foi por que sinta o que faz.
Bem sei que Amor se lhe rende;
Porém o seu pressuposto
Foi sentir o vosso rosto
O que nas almas acende.
(Obra completa, 2005.)
No poema, o eu lírico