TEXTO:
O novo homem
O homem será feito
em laboratório.
Será tão perfeito
como no antigório.
[5] Rirá como gente,
beberá cerveja
deliciadamente.
Caçará narceja
e bicho do mato.
[10] Jogará no bicho,
tirará retrato
com o maior capricho.
Usará bermuda
e gola roulée.
[15] Queimará arruda
indo ao canjerê,
e do não objeto
fará escultura.
Será neoconcreto
[20] se houver censura.
Ganhará dinheiro
e muitos diplomas,
fino cavalheiro
em noventa idiomas.
[25] Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
[30] em laboratório,
muito mais perfeito
do que no antigório.
Dispensa-se amor,
ternura ou desejo.
[35] Seja como for
(até num bocejo)
salta da retorta
um senhor garoto.
Vai abrindo a porta
[40] com riso maroto:
“Nove meses, eu?
Nem nove minutos.”
Quem já conheceu
melhores produtos?
[45] A dor não preside
sua gestação.
Seu nascer elide
o sonho e a aflição.
Nascerá bonito?
[50] Corpo bem talhado?
Claro: não é muito,
é planificado.
Nele, tudo exato,
medido, bem posto:
[55] o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos,
todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los,
[60] nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa
a todos atende.
[65] Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
[70] este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
[75] de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afeto,
desconhece a aliança
[80] de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio
e, per omnia secula,
livre, papagaio,
[85] sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
[90] em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem.
Bem feito.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. O Novo Homem. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aquilar, 1988, p. 928-930.
“O homem será feito/ em laboratório” (v. 1-2)
“acabou com o Homem./ Bem feito.” (v. 93-94)
O verso 94, “Bem feito”, em relação ao modo como o poeta trata o tema, traduz uma sensação de
TEXTO:
O novo homem
O homem será feito
em laboratório.
Será tão perfeito
como no antigório.
[5] Rirá como gente,
beberá cerveja
deliciadamente.
Caçará narceja
e bicho do mato.
[10] Jogará no bicho,
tirará retrato
com o maior capricho.
Usará bermuda
e gola roulée.
[15] Queimará arruda
indo ao canjerê,
e do não objeto
fará escultura.
Será neoconcreto
[20] se houver censura.
Ganhará dinheiro
e muitos diplomas,
fino cavalheiro
em noventa idiomas.
[25] Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
[30] em laboratório,
muito mais perfeito
do que no antigório.
Dispensa-se amor,
ternura ou desejo.
[35] Seja como for
(até num bocejo)
salta da retorta
um senhor garoto.
Vai abrindo a porta
[40] com riso maroto:
“Nove meses, eu?
Nem nove minutos.”
Quem já conheceu
melhores produtos?
[45] A dor não preside
sua gestação.
Seu nascer elide
o sonho e a aflição.
Nascerá bonito?
[50] Corpo bem talhado?
Claro: não é muito,
é planificado.
Nele, tudo exato,
medido, bem posto:
[55] o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos,
todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los,
[60] nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa
a todos atende.
[65] Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
[70] este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
[75] de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afeto,
desconhece a aliança
[80] de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio
e, per omnia secula,
livre, papagaio,
[85] sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
[90] em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem.
Bem feito.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. O Novo Homem. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aquilar, 1988, p. 928-930.
A imagem destacada pertence a um grande artista do Surrealismo, Salvador Dali, cuja pintura explora, além da percepção lógica, o lado ilógico, inconsciente da mente humana que contradiz a razão.
O verso transcrito do poema que estabelece com a imagem de Salvador Dali uma identidade de conteúdo e reitera a informação destacada em itálico é
TEXTO:
O novo homem
O homem será feito
em laboratório.
Será tão perfeito
como no antigório.
[5] Rirá como gente,
beberá cerveja
deliciadamente.
Caçará narceja
e bicho do mato.
[10] Jogará no bicho,
tirará retrato
com o maior capricho.
Usará bermuda
e gola roulée.
[15] Queimará arruda
indo ao canjerê,
e do não objeto
fará escultura.
Será neoconcreto
[20] se houver censura.
Ganhará dinheiro
e muitos diplomas,
fino cavalheiro
em noventa idiomas.
[25] Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
[30] em laboratório,
muito mais perfeito
do que no antigório.
Dispensa-se amor,
ternura ou desejo.
[35] Seja como for
(até num bocejo)
salta da retorta
um senhor garoto.
Vai abrindo a porta
[40] com riso maroto:
“Nove meses, eu?
Nem nove minutos.”
Quem já conheceu
melhores produtos?
[45] A dor não preside
sua gestação.
Seu nascer elide
o sonho e a aflição.
Nascerá bonito?
[50] Corpo bem talhado?
Claro: não é muito,
é planificado.
Nele, tudo exato,
medido, bem posto:
[55] o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos,
todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los,
[60] nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa
a todos atende.
[65] Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
[70] este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
[75] de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afeto,
desconhece a aliança
[80] de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio
e, per omnia secula,
livre, papagaio,
[85] sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
[90] em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem.
Bem feito.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. O Novo Homem. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aquilar, 1988, p. 928-930.
“Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
em laboratório,
muito mais perfeito
do que no antigório.” (v. 25-32)
Drummond, didaticamente, é considerado um poeta que pertence ao Modernismo, entretanto, em seu fazer literário, como comprovam os versos destacados, ele se apropria de uma técnica de metrificação, cuja forma era explorada pelos poetas pertencentes ao _______ e denominada de ____
A. “Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado.” Albert Einstein
B. “Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.” Clarice Lispector
C. “Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Apenas as mesmas com novas vestimentas.”
Shakespeare
Uma questão fundamental na vida de um ser humano e que aparece como temática no fragmento de Clarice Lispector é
A. “Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado.” Albert Einstein
B. “Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.” Clarice Lispector
C. “Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Apenas as mesmas com novas vestimentas.”
Shakespeare
Clarice, escritora pertencente ao Modernismo, teve seu período mais produtivo em meados do século XX.
Considerando-se a época e a literatura feita no Brasil, sua obra