Leia o trecho do romance A carne, de Júlio Ribeiro, publicado em 1888, e responda a questão.
O touro lambeu a vulva da vaca com a lingua áspera, babosa, e depois, bufando, com os olhos sanguíneos esbugalhados, pujante, temeroso na fúria de erotismo, levantou as patas dianteiras, deixou-se cair sobre a vaca, cobriu-a, pendendo a cabeça à esquerda, achatando o perigalho de encontro ao seu espinhaço.
A vaca abriu um pouco as pernas traseiras, corcovou-se, engelhou a pele das ilhargas para receber a fecundação. Consumou-se esta em uma estocada rubra, certeira, rápida.
Era a primeira vez que Lenita via, realizado por animais de grande talhe, o ato fisiológico por meio do qual a natureza viva se reproduz.
Espírito culto, em vez de julgá-lo imoral e sujo, como se praz a sociedade hipócrita em representá-lo, ela achou-o grandioso e nobre em sua adorável simplicidade.
Lenita ouviu um murmurar confuso de vozes intercortadas, viu agitarem-se uns ramos e, pelos interstícios dos troncos, por entre o emaranhado dos galhos, lobrigou indistintamente uma como luta breve, seguida pelo tombar desamparado, pelo som baço de dois corpos a bater a um tempo no solo arenoso do matagal.
Lenita mais compreendeu do que viu. Era a reprodução do que se tinha passado, havia momentos, mas em escala mais elevada: à cópula instintiva, brutal, feroz, instantânea dos ruminantes, seguia-se o coito humano meditado, lascivo, meigo, vagaroso.
Abalada profundamente em seu organismo, com a irritação de nervos aumentada por essas cenas cruas da natureza, torturada pela carne, mordida de um desejo louco de sensações completas, que não conhecia, mas que adivinhava, Lenita recolheu-se titubeando, fraquíssima.
(RIBEIRO, J. A carne. 4.ed. São Paulo: Ática, 1998. p. 55-56.)
Com base no trecho, assinale a alternativa correta.
Leia o trecho do romance A carne, de Júlio Ribeiro, publicado em 1888, e responda a questão.
O touro lambeu a vulva da vaca com a lingua áspera, babosa, e depois, bufando, com os olhos sanguíneos esbugalhados, pujante, temeroso na fúria de erotismo, levantou as patas dianteiras, deixou-se cair sobre a vaca, cobriu-a, pendendo a cabeça à esquerda, achatando o perigalho de encontro ao seu espinhaço.
A vaca abriu um pouco as pernas traseiras, corcovou-se, engelhou a pele das ilhargas para receber a fecundação. Consumou-se esta em uma estocada rubra, certeira, rápida.
Era a primeira vez que Lenita via, realizado por animais de grande talhe, o ato fisiológico por meio do qual a natureza viva se reproduz.
Espírito culto, em vez de julgá-lo imoral e sujo, como se praz a sociedade hipócrita em representá-lo, ela achou-o grandioso e nobre em sua adorável simplicidade.
Lenita ouviu um murmurar confuso de vozes intercortadas, viu agitarem-se uns ramos e, pelos interstícios dos troncos, por entre o emaranhado dos galhos, lobrigou indistintamente uma como luta breve, seguida pelo tombar desamparado, pelo som baço de dois corpos a bater a um tempo no solo arenoso do matagal.
Lenita mais compreendeu do que viu. Era a reprodução do que se tinha passado, havia momentos, mas em escala mais elevada: à cópula instintiva, brutal, feroz, instantânea dos ruminantes, seguia-se o coito humano meditado, lascivo, meigo, vagaroso.
Abalada profundamente em seu organismo, com a irritação de nervos aumentada por essas cenas cruas da natureza, torturada pela carne, mordida de um desejo louco de sensações completas, que não conhecia, mas que adivinhava, Lenita recolheu-se titubeando, fraquíssima.
(RIBEIRO, J. A carne. 4.ed. São Paulo: Ática, 1998. p. 55-56.)
Com base na primeira parte do trecho transcrito do romance, considere as afirmativas a seguir.
I. A ideia de julgar o ato sexual do touro e da vaca como imoral está em maior sintonia com os pudores de personagens românticas do que com a composição de Lenita, personagem naturalista.
II. O detalhamento da narração da aproximação entre o touro e a vaca é típico dos padrões naturalistas que incluem muitas associações com os animais e seus instintos.
III. A simplicidade detectada no ato sexual entre os animais revela a convergência da construção de Lenita com as forças da natureza.
IV. A identificação da sociedade como “hipócrita” demonstra como Lenita põe em xeque valores exibidos pela galeria de personagens naturalistas.
Assinale a alternativa correta.
Leia o poema “Nova poética”, de Manuel Bandeira, e responda a questão.
NOVA POÉTICA
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco
muito bem engomada, e na primeira
esquina passa um caminhão, salpica-lhe
o paletó de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as
virgens cem por cento e as amadas que
envelheceram sem maldade.
(BANDEIRA, M. Antologia Poética. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. p. 140-141.)
Com base na leitura do poema e nos conhecimentos de estilos de época, considere as afirmativas a seguir.
I. As referências às estrelas e às amadas consistem em alusões a poemas com tonalidade romântica.
II. A concepção de liberdade na métrica corresponde a um procedimento tipicamente modernista do poema.
III. O impacto da orientação parnasiana no percurso do autor permanece visível no poema.
IV. A rejeição à sujeira indica o apego de Bandeira aos valores simbolistas relacionados ao imagético.
Assinale a alternativa correta.
Leia o poema “Nova poética”, de Manuel Bandeira, e responda a questão.
NOVA POÉTICA
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco
muito bem engomada, e na primeira
esquina passa um caminhão, salpica-lhe
o paletó de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as
virgens cem por cento e as amadas que
envelheceram sem maldade.
(BANDEIRA, M. Antologia Poética. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. p. 140-141.)
Sobre o poema, assinale a alternativa correta.