Leia o soneto abaixo de Cláudio Manuel da Costa:
Sou pastor; não te nego; os meus montados
São esses, que aí vês; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados;
Ali me ouvem os troncos namorados,
Em que se transformou a antiga gente;
Qualquer deles o seu estrago sente;
Como eu sinto também os meus cuidados.
Vós, ó troncos, (lhes digo) que algum dia
Firmes vos contemplastes, e seguros
Nos braços de uma bela companhia;
Consolai-vos comigo, ó troncos duros;
Que eu alegre algum tempo assim me via;
E hoje os tratos de Amor choro perjuros.
A partir do texto acima, pode-se compreender que
I. Cláudio Manuel da Costa, que era pastor, fala sobre sua experiência no campo e sobre a superioridade da natureza em relação à cidade.
II. Cláudio Manuel da Costa assumiu uma espécie de máscara de pastor, como faziam os poetas do Arcadismo.
III. O eu-lírico está feliz porque tem a companhia de sua amada e se encontra na natureza, como sugere o “fugere urbem” do estilo árcade.
Está correto o que se afirma
Leia o trecho abaixo, do romance “Iracema”, de José de Alencar:
“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”
Na descrição de Iracema, personagem do romance de José de Alencar, pode(m)-se perceber
I. a beleza pura, nívea, harmônica e suave da mulher como vista na era Clássica.
II. fortes traços indianistas, típicos do romantismo brasileiro da primeira geração.
III. a visão romântica do homem civilizado europeu em relação ao nativo brasileiro.
Está correto o que se afirma
Leia o texto abaixo:
Triste Bahia
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.
A ti tocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz brichote.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Tendo como referência o soneto de Gregório de Matos, considere as afirmações a seguir
I. O eu-lírico, assim como a Bahia, encontra-se transformado, por conta dos rumos que o Estado tomou. Nesses dois momentos, um anterior (rico) e outro de então (pobre), encontra-se a antítese, tão própria do Barroco.
II. A palavra “estado” pode ser entendida com duplo significado, ao mesmo tempo fazendo referência à “condição em que se encontra a coisa” e à região geopolítica do Brasil chamada Bahia, fazendo uma crítica ao Governo.
III. A razão do estado triste da Bahia é o mercado de então, que trocava matéria de qualidade lá produzida por coisas inúteis, reverberando o escambo feito entre portugueses e nativos à época do descobrimento.
Está correto o que se afirma
Leia o poema abaixo de Olavo Bilac:
Canção
Dá-me as pétalas de rosa
Dessa boca pequenina:
Vem com teu riso, formosa!
Vem com teu beijo, divina!
Transforma num paraíso
O inferno do meu desejo...
Formosa, vem com teu riso!
Divina, vem com teu beijo!
Oh! tu, que tornas radiosa
Minh’alma, que a dor domina,
Só com teu riso, formosa,
Só com teu beijo, divina!
Tenho frio, e não diviso
Luz na treva em que me vejo:
Dá-me o clarão do teu riso!
Dá-me o fogo do teu beijo!
Pode-se perceber, no poema,
I. um rigor formal típico do Parnasianismo, como previa a estética da arte pela arte.
II. a visão Romântica do eu-lírico em relação à musa, que é vista como intocável, como num pedestal divino.
III. um desejo carnal, comum ao Parnasianismo, que contradiz o idealismo Romântico.
Está correto o que se afirma
Considere o poema-piada de Oswald de Andrade:
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Pode-se compreender, a partir do poema, que
I. a palavra “pena” faz referência tanto a ser triste o fato histórico, quanto à pena do índio, fazendo da roupa que o português impõe ao nativo uma “grande pena”.
II. o erro de português não é só aquele cometido pelo colonizador ao vestir o nativo, mas também o uso do verbo “ter”, que, no registro culto, deveria ser “teria”, sendo esse registro informal, coloquial, uma das características do modernismo brasileiro.
III. a chuva e o sol, no poema, além de serem traços do clima, revelam as duas possibilidades históricas: a real, triste, de chuva; e aquela que não se firmou, feliz, de sol.
Está correto o que se afirma
Considere o trecho abaixo, do livro “A Obscena Senhora D.”, de Hilda Hilst:
“Hillé, andam estranhando teu jeito de olhar
que jeito?
você sabe
é que não compreendo
não compreende o quê?
não compreendo o olho, e tento chegar perto.
Também não compreendo o corpo, essa armadilha, nem a sangrenta lógica dos dias, nem os rostos
que me olham nesta vila onde moro, o que é casa, conceito, o que são as pernas, o que é ir e vir,
para onde Ehud, o que são essas senhoras velhas, os ganidos da infância, os homens curvos, o que
pensam de si mesmos os tolos, as crianças, o que é pensar, o que é nítido, sonoro, o que é som,
trinado, urro, grito, o que é asa hen?”
No trecho acima, percebe-se
I. uma mistura da linguagem poética lírica com a prosaica, traço característico da literatura pós-moderna.
II. desapego tipicamente pós-moderno de estruturas tradicionais narrativas, nítido no uso da digressão misturada à narração e à voz da personagem.
III. retorno ao paradoxo e à antítese, características barrocas retomadas no pós-modernismo como neo-barroquismo.
Está correto o que se afirma