Morro velho
No sertão da minha terra,
fazenda é o camarada que ao chão se deu.
Fez a obrigação com força,
parece até que tudo aquilo ali é seu.
[05] Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho,
lindo a crescer.
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada.
Filho do branco e do preto,
correndo pela estrada atrás de passarinho.
[10] Pela plantação adentro,
crescendo os dois meninos, sempre pequeninos.
Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha,
dá pro fundo ver.
Orgulhoso camarada conta histórias pra moçada.
[15] Filho do sinhô vai embora,
tempo de estudos na cidade grande.
Parte, tem os olhos tristes,
deixando o companheiro na estação distante.
“Não me esqueça, amigo, eu vou voltar.”
[20] Some longe o trenzinho ao deus-dará.
Quando volta já é outro,
trouxe até sinhá-mocinha para apresentar.
Linda como a luz da lua
que em lugar nenhum rebrilha como lá.
[25] Já tem nome de doutor
e agora na fazenda é quem vai mandar.
E seu velho camarada
já não brinca, mas trabalha.
MILTON NASCIMENTO
Adaptado de miltonnascimento.com.br
A história da casa-grande é íntima de quase todo brasileiro: de sua vida doméstica, conjugal, sob o patriarcalismo escravocrata e polígamo; da sua vida de menino. Nas casas-grandes foi até hoje onde melhor se exprimiu o caráter brasileiro, a nossa continuidade social.
Adaptado de Freyre, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1995.
Publicado em 1933, Casa-grande & senzala tornou-se livro de referência nas análises sobre patriarcalismo na sociedade brasileira.
Na letra da canção Morro velho, aspectos das relações patriarcais são abordados, entre eles a “continuidade social”, presente na seguinte passagem:
A questão refere-se ao romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
O romance põe em questão a ideia de patriotismo, apresentando diferentes visões de seus personagens sobre a noção de pátria. Isso se observa no confronto entre a noção idealizada de Policarpo Quaresma e aquela manifestada pelas elites militar e política do país.
A apropriação da noção de pátria por essas elites se caracteriza como:
A questão refere-se ao romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Marechal Floriano Peixoto, segundo presidente do Brasil, é também personagem de Triste Fim de Policarpo Quaresma.
O conceito que melhor sustenta a construção desse personagem ficcional, baseado numa figura histórica, é o da:
A questão refere-se ao romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Saiu e andou. Olhou o céu, os ares, as árvores de Santa Teresa, e se lembrou que, por estas terras, já tinham errado tribos selvagens, das quais um dos chefes se orgulhava de ter no sangue o sangue de dez mil inimigos. Fora há quatro séculos. Olhou de novo o céu, os ares, as árvores de Santa Teresa, as casas, as igrejas; viu os bondes passarem; uma locomotiva apitou; um carro, puxado por uma linda parelha, atravessou-lhe na frente, quando já a entrar do campo... Tinha havido grandes e inúmeras modificações. Que fora aquele parque? Talvez um charco. Tinha havido grandes modificações nos aspectos, na fisionomia da terra, talvez no clima... Esperemos mais, pensou ela; e seguiu serenamente ao encontro de Ricardo Coração dos Outros.
TERCEIRA PARTE
V - A Afilhada
Com base no fragmento, o final do romance, apesar de triste, como anuncia o próprio título, contém uma mensagem de otimismo, expressa nos pensamentos da personagem Olga, afilhada de Policarpo.
O otimismo se justifica pela expectativa de:
E, bem pensado, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, por uma ideia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma deusa cujo império se esvaía? Não sabia que essa ideia nascera da amplificação da crendice dos povos greco-romanos de que os ancestrais mortos continuariam a viver como sombras e era preciso alimentá-las para que eles não perseguissem os descendentes? (...) Reviu a história; viu as mutilações, os acréscimos em todos os países históricos e perguntou de si para si: como um homem que vivesse quatro séculos, sendo francês, inglês, italiano, alemão, podia sentir a Pátria?
Uma hora, para o francês, o Franco-Condado era terra dos seus avós, outra não era; num dado momento, a Alsácia não era, depois era e afinal não vinha a ser. Nós mesmos [brasileiros] não tivemos a Cisplatina e não a perdemos?
(...) Certamente era uma noção sem consistência racional e precisava ser revista.
Lima Barreto
Triste Fim de Policarpo Quaresma, parte III, capítulo V.
No romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto abordou contradições da sociedade brasileira do início do período republicano.
Nesse contexto, na reflexão que faz no trecho citado, o personagem Major Quaresma ressalta um entendimento em que a noção de pátria pode ser definida atualmente como: