OS ANJOS
Hoje não dá
Hoje não dá
Não sei mais o que dizer
E nem o que pensar
Hoje não dá
Hoje não dá
A maldade humana agora não tem nome
Hoje não dá
Pegue duas medidas de estupidez
Junte trinta e quatro partes de mentira
Coloque tudo numa forma
Untada previamente
Com promessas não cumpridas
Adicione a seguir o ódio e a inveja
Dez colheres cheias de burrice
Mexa tudo e misture bem
E não se esqueça antes de levar ao forno
temperar
Com essência de espírito de porco
Duas xícaras de indiferença
E um tablete e meio de preguiça
Hoje não dá
Hoje não dá
Está um dia tão bonito lá fora
E eu quero brincar
Mas hoje não dá
Hoje não dá
Vou consertar a minha asa quebrada
E descansar.
Gostaria de não saber destes crimes atrozes
É todo dia agora e o que vamos fazer?
Quero voar p'ra bem longe mas hoje não dá
Não sei o que pensar e nem o que dizer
Só nos sobrou do amor
A falta que ficou.
Com relação ao Texto 3, é correto afirmar que
O livro A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1945, é considerado uma das obras mais notáveis de sua produção poética. Nessa obra, Drummond atinge seu mais alto nível literário, inclusive sem descuidar do momento histórico em que está inserido. Os textos abaixo são fragmentos dos poemas "O medo" e "Nosso tempo", respectivamente:
Em verdade temos medo
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
Vadeamos.
("O medo", p. 35)
O poeta
Declina de toda responsabilidade
Na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme.
("Nosso tempo", p. 45)
Da leitura dos versos acima, afirma-se que essa obra poética
Referindo-se ao livro A rosa do povo, anos depois de sua primeira publicação em 1945, Drummond comenta que a obra, "de certa maneira, reflete um 'tempo‘, não só individual mas coletivo no país e no mundo. Escrito durante os anos cruciais da Segunda Guerra Mundial, as preocupações então reinantes são identificadas em muitos de seus poemas, através da consciência e do modo pessoal de ser de quem os escreveu." (ANDRADE, Carlos Drummond. A rosa do povo. 25. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 19.) O poema ―Anoitecer‖ foi escrito nesse contexto.
Anoitecer
A Dolores
É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo ?
É abtes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
Da leitura do poema, considerado em seu momento de elaboração, depreende-se
Referindo-se ao livro A rosa do povo, anos depois de sua primeira publicação em 1945, Drummond comenta que a obra, "de certa maneira, reflete um 'tempo‘, não só individual mas coletivo no país e no mundo. Escrito durante os anos cruciais da Segunda Guerra Mundial, as preocupações então reinantes são identificadas em muitos de seus poemas, através da consciência e do modo pessoal de ser de quem os escreveu." (ANDRADE, Carlos Drummond. A rosa do povo. 25. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 19.) O poema ―Anoitecer‖ foi escrito nesse contexto.
Anoitecer
A Dolores
É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo ?
É abtes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
No poema "Anoitecer", Carlos Drummond de Andrade vale-se de um conjunto de imagens metafóricas, entre as quais a expressão
Despensa o commentario. Basta anunciar. Natal a noite. Estamos vendo uma cidade quieta como se aprendesse o movimento com as mumias pharaonicas. Sob a luz (quando ha) das lampadas amarellas arrastam, meia duzias de creaturas magras, uma ―pose‖ melancolica de Byrons papa-gerimúns.
Depois, um ―film‖ no Royal ou Rio Branco ou poker somnolento do Natal club. Estive uns tempos inquerindo de como alguns amigos meus passavam as primeiras horas da noite. As respostas ficam todas catalogadas em trez classes. Indolencia. Ficam em casa e tentam ler. Sahem e não havendo (desde que morreu Parrudo) nada de novo entre nós, deixam-se ficar madorrando numa praça silenciosa. Instincto de elegância. Natal club. Ahi está como vive a noite um rapaz nesta terra de vates e de enchentes.
CASCUDO, Luís da Câmara. A noite em Natal. In: Crônicas de origem: a cidade do Natal nas crônicas cascudianas dos anos 20. Natal: EDUFRN, 2005, p. 86.
Ao se referir a "Byrons papa-gerimúns", o cronista considera as personagens da vida cultural da cidade como
Leia o início da crônica “Proteção da alegria popular”, de Câmara Cascudo, e observe as figuras que ilustram a peça O santo e a porca, de Ariano Suassuna:
Precisamos defender as nossas festas populares. Bumba-meu-boi, Congos e Chegaças devem ter protecção e ambiente. Para que não emigrem para o outro mundo depois de terem vivido tanto tempo.
CASCUDO, Çuís da Câmara. "Proteção de alegria popular". In: Crônicas de origem: a cidade do Natal nas crônicas cascudianas dos anos 20. Natal: EDUFRN, 2005. p. 130.
No texto de Câmara Cascudo e nas ilustrações da peça de Ariano Suassuna percebe -se um
aspecto aprofundado na Literatura Brasileira a partir do Movimento Modernista. Esse aspecto é