O poema de Paulo Leminski traz um jogo de palavra com as expressões “ALGUMA LUA” e “LUA ALGUMA”, sendo que a mudança de posição do termo “ALGUMA”, no último verso, produz, como efeito de sentido, a alteração da ideia de uma lua
X
D. LUÍSA A D. RAQUEL
Juiz de Fora, 15 de janeiro
Meu marido quer ir à corte no fim do que você há de estimar decerto. E ao mesmo tempo o meu fim é preveni-la, a fim de que procure disfarçar na presença aquilo que me disfarça no papel. Adeus.
Luísa
XI
D. RAQUEL A D. LUÍSA
Corte, 20 de janeiro
O que é que disfarço no papel? Estou a meditar, a esquadrinhar, e nada descubro. Podia imaginar que você se refere ao assunto do Alberto; mas depois do que eu lhe escrevi seria demasiada insistência... Explique-se. Quanto à notícia que me dá de que vem cá, para mim a sorte grande. Por mais que eu queira explicar no papel o prazer que sinto com isto, não posso. Não sei escrever; não me acodem as palavras próprias. O Dr. Alberto (o tal!) dizia outro dia que a língua humana é cabal para dizer o que se passa no espírito, mas incapaz de dizer o que vem do coração. E acrescentou esta sentença que é engenhosa, mas velha: com os lábios fala a cabeça, com os olhos o coração. Você, porém, adivinhará o que eu sinto e apressará a sua vinda. E o nenê?
Raquel
ASSIS, Machado de. Ponto de vista. In: Histórias da meia-noite. São Paulo: LEL, [s.d.]. p. 176-246. v. 1. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>.Acesso em: 10 set. 2016.
O texto em destaque é um fragmento do conto “Ponto de Vista” de Machado de Assis. A narrativa se desenvolve somente através de cartas trocadas entre as amigas Raquel, que é solteira e está na corte, e Luísa, que se casou e mora em Juiz de Fora.
Como não há o recurso do narrador nessa narrativa, as personagens se constroem diante do leitor, ao explicitar seus pontos de vista à medida que as cartas são escritas, revelando que