Filho de um empregado público e órfão aos dezoito anos, Seixas foi obrigado a abandonar seus estudos na Faculdade de São Paulo pela impossibilidade em que se achou sua mãe de continuar-lhe a mesada.
Já estava no terceiro ano, e se a natureza que o ornara de excelentes qualidades lhe desse alguma energia e força de vontade, conseguiria ele vencendo pequenas dificuldades, concluir o curso; tanto mais quanto um colega e amigo, o Torquato Ribeiro, lhe oferecia hospitalidade até que a viúva pudesse liquidar o espólio.
Mas Seixas era desses espíritos que preferem a trilha batida, e só impelidos por alguma forte paixão rompem com a rotina. Ora, a carta de bacharel não tinha grande sedução para sua bela inteligência mais propensa à literatura e ao jornalismo.
Cedeu pois à instância dos amigos de seu pai que obtiveram encartá-lo em uma secretaria como praticante. Assim começou ele essa vegetação social, em que tantos homens de talento consomem o melhor da existência numa tarefa inglória, ralados por contínuas decepções.
José de Alencar, Senhora.
Que fatores, segundo o narrador, teriam levado Seixas a abandonar seus estudos e entregar-se à “vegetação social”?
Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... — ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de hora. Assim.
João Guimarães Rosa. O burrinho pedrês, Sagarana.
Em trecho anterior do mesmo conto, o narrador chama Sete-de-Ouros de “sábio”. No excerto, a sabedoria do burrinho consiste, principalmente, em
Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... — ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de hora. Assim.
João Guimarães Rosa. O burrinho pedrês, Sagarana.
Quando nos apresentam os homens vistos pelos olhos dos animais, as narrativas em que aparecem o burrinho pedrês, do conto homônimo (Sagarana), os bois de “Conversa de bois” (Sagarana) e a cachorra Baleia (Vidas secas) produzem um efeito de
Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... — ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de hora. Assim.
João Guimarães Rosa. O burrinho pedrês, Sagarana.
No conto de Guimarães Rosa a que pertence o excerto, a presença de um animal que é “sábio” e forma juízos supõe uma concepção da natureza
Texto para a questão
Assim se explicam a minha estada debaixo da janela
de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um dandy,
como então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão,
firme na sela, rédea na mão esquerda, a direita à cinta,
botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me
era desconhecida. Tinham passado outros, e ainda outros
viriam atrás; todos iam às suas namoradas. Era uso do
tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: “Porque um
estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de
1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e
uma namorada”. Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas
poesias é destinada a contar (1851) que residia em
Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um
cavalo por três mil-réis...
Machado de Assis. Dom Casmurro.
As formas verbais “Tinham passado” (linha 6) e “viriam” (linha 7) traduzem idéia, respectivamente, de anterioridade e de posterioridade em relação ao fato expresso pela palavra
Texto para a questão
Assim se explicam a minha estada debaixo da janela
de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um dandy,
como então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão,
firme na sela, rédea na mão esquerda, a direita à cinta,
botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me
era desconhecida. Tinham passado outros, e ainda outros
viriam atrás; todos iam às suas namoradas. Era uso do
tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: “Porque um
estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de
1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e
uma namorada”. Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas
poesias é destinada a contar (1851) que residia em
Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um
cavalo por três mil-réis...
Machado de Assis. Dom Casmurro.
Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se afirmar corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo revelam que, em Dom Casmurro, Machado de Assis