Leia este trecho da obra “O Guarani”, de José de Alencar.
“Com efeito, uma montanha branca, fosforescente, assomou entre as arcarias gigantescas formadas pelas florestas, e atirou-se sobre o leito do rio, mugindo como o oceano quando açoita os rochedos com as suas vagas.
A torrente passou, rápida, veloz, vencendo na carreira o tapir das selvas ou a ema do deserto; seu dorso enorme se estorcia e enrolava pelos troncos diluvianos das grandes árvore, que estremeciam com o embate hercúleo.
Depois, outra montanha, e outra, e outra, se elevaram no fundo da floresta; arremessando-se no turbilhão, lutando corpo a corpo, esmagando com o peso tudo que se opunha à sua passagem.
Dir-se-ia que algum monstro enorme, dessas jibóias tremendas que vivem nas profundezas da água, mordendo a raiz de uma rocha, fazia girar a cauda imensa, apertando nas suas mil voltas a mata que se estendia pelas margens.
Ou que o Paraíba, levantando-se qual novo Briareu no meio do deserto, estendia os braços titânicos, e apertava ao peito, estrangulando-a em uma convulsão horrível, toda essa floresta secular que nascera com o mundo.
As árvores estavam arrancadas do seio da terra ou partidas pelo tronco, prostavam-se vencidas sobre o gigante, que, carregando-as ao ombro, precipitava para o oceano.
O estrondo dessas montanhas de água que se quebravam, o estampido da torrente, os trôos do embate desses rochedos movediços, que se pulverizavam enchendo o espaço de neblina, formavam um concerto horrível, digno do drama majestoso que se representava no grande cenário.”
Esse trecho: