Leia o trecho inicial do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, para responder à questão.
A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto.
(Contos, 2012.)
“Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada.” (3° parágrafo)
No trecho, o procedimento da ironia, frequente em Machado de Assis, consiste em
Leia o soneto de Luís Vaz de Camões para responder a questão.
Erros meus, má fortuna1, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram2,
que para mim bastava o amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas, que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse que fartasse3
este meu duro gênio4 de vinganças!
(Sonetos de Camões, 2011.)
1fortuna: sorte, destino.
2sobejar: sobrar, exceder o necessário.
3fartar: saciar.
4gênio: espírito que, segundo os antigos, determinava o destino dos seres humanos.
O amor e as esperanças sentidos pelo eu lírico caracterizam-se por serem respectivamente:
Leia o soneto de Luís Vaz de Camões para responder a questão.
Erros meus, má fortuna1, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram2,
que para mim bastava o amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas, que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse que fartasse3
este meu duro gênio4 de vinganças!
(Sonetos de Camões, 2011.)
1fortuna: sorte, destino.
2sobejar: sobrar, exceder o necessário.
3fartar: saciar.
4gênio: espírito que, segundo os antigos, determinava o destino dos seres humanos.
Entre as características do poema, é própria do Classicismo
Orientados pela crença positivista de que a ciência constituía o sumo saber e a redenção do homem, os adeptos desse movimento procuraram reduzir a gênese dos conflitos pessoais e interpessoais a três fatores, a herança, o ambiente e o momento. O enfoque narrativo, em terceira pessoa, apresenta características de relatório científico, objetivo, direto, franco. Registre-se a descrição pormenorizada do ambiente em que se encontra o herói (ou antes: anti-herói), que atende a dois propósitos: completar o retrato psicológico da personagem, pois, consoante os postulados em moda, o cenário seria o prolongamento obrigatório do temperamento e humores de quem o habita; e concretizar a ideia de verossimilhança fotográfica. Na descrição “científica” da paisagem não falta inclusive a notação referente ao pressuposto de que a personagem estaria sujeita à influência determinista do meio.
(Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos textos, 2012. Adaptado.)
O texto refere-se a obras do
Leia o trecho inicial do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, para responder à questão.
A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto.
(Contos, 2012.)
Nas palavras do narrador, o ferro ao pescoço era “menos castigo que sinal” (2° parágrafo).
Este aparelho era especificamente um sinal na medida em que
Viera do Ceará há muito tempo. Osvaldo fizera um negócio com o coronel Henrique Silva. Findo o prazo, tratou de receber o seu dinheiro. O coronel não pagou. Ele foi a Ilhéus umas três vezes reclamar à autoridade. O delegado, na última, respondeu:
– Isso até parece briga de mulheres. Resolva isso como homem.
Osvaldo voltou, e, à noite, matou o coronel a facão. O conselho de sentença, composto de fazendeiros, condenou o réu a dezoito anos, para dar exemplo.
(Jorge Amado. Cacau, 2010. Adaptado.)
A trama do romance, publicado originalmente em 1933, transcorre na região da economia cacaueira no sul da Bahia.
O conteúdo do excerto refere-se, sobretudo, à