Considere o trecho de Dom Casmurro, de Machado de Assis:
José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não as havendo, servia a prolongar as frases. [...]
Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Itaguaí, e eu acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre.
- Quem lhe impede que vá a outras partes? Vá aonde quiser, mas fique morando conosco.
- Voltarei daqui a três meses. Voltou dali a duas semanas, aceitou casa e comida sem outro estipêndio, salvo o que quisessem dar por festas. [...]
(ASSIS, Machado de. Obra completa. vol. 1, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1992, p. 812-814)
Na figura de José Dias, o romancista propõe uma reflexão acerca da organização da sociedade brasileira do século XIX, em que o modo de produção escravista e monocultor
O trecho a seguir pertence a São Bernardo, de Graciliano Ramos:
Procurei Madalena e avistei-a derretendo-se e sorrindo para o Nogueira, num vão de janela.
Confio em mim. Mas exagerei os olhos bonitos do Nogueira, a roupa benfeita, a voz insinuante. Pensei nos meus oitenta e nove quilos, neste rosto vermelho de sobrancelhas espessas. Cruzei descontente as mãos enormes, cabeludas, endurecidas em muitos anos de lavoura. Misturei tudo ao materialismo e ao comunismo de Madalena – e comecei a sentir ciúmes.
(RAMOS, Graciliano. S. Bernardo. 93. ed. Rio de Janeiro/São Paulo, Record, 2012, p. 155)
Acerca do ciúme de Paulo Honório, pode-se concluir que está relacionado a
Considere os versos iniciais do poema “A noite dissolve os homens”, de Carlos Drummond de Andrade:
A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
No contexto de Sentimento do mundo, o eu lírico dos poemas identifica-se com um indivíduo
Os contos de Laços de família, de Clarice Lispector, têm em comum
O comentário abaixo refere-se à obra Campo Geral, de Guimarães Rosa:
A riqueza do texto rosiano não se deve apenas à sua sofisticação linguística, mas à elaboração delicada de seus enredos. Rosa escreve amiúde por parecenças. Tomem-se as seguintes situações. Dito defende Miguilim da bulinagem de Patori. Miguilim, mais tarde, defende o Grivo de Liovaldo. A atitude de Dito é retomada por Miguilim. [...]
(FERNANDES, Fabiano. Per speculum in enigmate: “Campo Geral”. DUARTE, L. P. [org.]. Veredas de Rosa II. Belo Horizonte, CESPUC, 2003, p. 238.)
Considere as afirmativas acerca da linguagem e do enredo de Campo Geral:
I. Mutúm, lugar onde mora Miguilim, ao mesmo tempo em que é de fato o nome de uma região de Minas Gerais, é um palíndromo que reproduz, formalmente, a ideia de ponto central; o paralelismo entre as ações de Dito e Miguilim está associado à caracterização do protagonista, que vai aos poucos se tornando mais independente, em especial após a morte do irmão Dito.
II. O narrador em primeira pessoa imprime realismo à narrativa, à medida que compartilha com o leitor as memórias de seu tempo de infância, recorrendo, por vezes, a um vocabulário típico de uma criança; o paralelismo entre as ações pode ser percebido em outros momentos da trama, como nas diversas vezes em que Miguilim entra em confronto com o pai para defender o irmão mais novo.
III. A combinação de neologismos com a norma erudita gera uma linguagem inusitada que remete a um contexto de fantasia afinado com o discurso surrealista; o paralelismo entre as ações das personagens organiza toda a narrativa, com mocinhos e vilões se alternando em seus papéis, o que pode ser ilustrado pela trajetória de redenção moral de Miguilim e de degradação moral de seu pai.
Está correto o que se afirma APENAS em