Texto
Bucólica nostálgica
Ao entardecer no mato, a casa entre
bananeiras, pés-de-manjericão e cravo-santo,
aparece dourada. Dentro dela, agachados,
na porta da rua, sentados no fogão, ou aí mesmo,
rápidos como se fossem ao Êxodo, comem
feijão com arroz, taioba, ora-pro-nobis,
muitas vezes abóbora.
Depois, café na canequinha e pito.
O que um homem precisa pra falar,
entre enxada e sono: Louvado seja Deus!
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
A poesia Bucólica nostálgica traduz artisticamente o cotidiano de homens comuns que jantam ao entardecer numa casa simples. No bucólico espaço em que se encontram, revela-se
Considerando que os textos podem dialogar entre si, leia o poema de Adélia Prado e, em seguida, compare com versos selecionados de outros autores para responder à questão.
Texto
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
− dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Os versos que apresentam diálogo com esse poema são
Texto
Bucólica nostálgica
Ao entardecer no mato, a casa entre
bananeiras, pés-de-manjericão e cravo-santo,
aparece dourada. Dentro dela, agachados,
na porta da rua, sentados no fogão, ou aí mesmo,
rápidos como se fossem ao Êxodo, comem
feijão com arroz, taioba, ora-pro-nobis,
muitas vezes abóbora.
Depois, café na canequinha e pito.
O que um homem precisa pra falar,
entre enxada e sono: Louvado seja Deus!
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
A expressão “aí mesmo”, no texto, denota, ao mesmo tempo localização e inclusão, e gera a possibilidade de
Texto
Solar
Minha mãe cozinhava exatamente:
arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Nesse texto poético, fala-se de uma mãe que canta ao mesmo tempo em que faz o preparo racional dos alimentos.
A introdução do verbo cantar pela conjunção mas, nesse contexto, anuncia, além da ressalva,
Uma das propriedades do narrador é, por meio das falas dos personagens, revelar determinada visão de mundo. Leia os fragmentos, sob essa perspectiva, para responder à questão.
I)
Ultimamente, sem saber como, (Pedro) havia perdido, um a um, os seus lápis de cor, só lhe restando agora, com uma velha caixa vazia [...], a saudade das horas que passava à mesa da varanda desenhando e pintando, com a Mãe Lourença [...], e que por vezes exclamava, envaidecida:
− Este Pedro tem cada estrepolia!
E ela própria, na mesma voz mansa, o advertiu:
− Mas não é para isso que teu avô te quer. Pela vontade dele, tens de ser barqueiro, como ele, como teu pai, como teu avô. Toda a tua família se fez no mar.
II)
– O senhor devia por o seu rapaz na Marinha Mercante – sugeriu Clementino, descansando mais o corpo na borda do balaústre – Tem mais futuro. Conheço muita gente que tem feito carreira por lá. [...] Hoje a rapaziada quer viver num meio maior. E vamos e venhamos, não deixa de ter as suas razões. Nada como um meio grande. Vive-se a gosto, com mais conforto. [...]
Mestre Severino, semblante encrespado, cortou a conversa:
− Guarde os seus conselhos. Já vivi mais que o senhor, tenho também minhas ideias. Se quer ir num barco a motor, ainda está em tempo de saltar. Não me faz falta.
MONTELLO, J. Cais da Sagração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
Da fala de Lourença e de Mestre Severino, pode-se deduzir que há defesa de ideias que comportam
Leia o texto para responder à questão.
Texto
Cavaleiro no seu cavalo, lá vai Mestre Severino pela planura desatada, senhor das rédeas, do chicote e das esporas. O vento lhe bate em meio no rosto queimado de sol. E ele galopa sempre, sem que seja preciso fustigar a montaria com as rosetas de metal. Mestre Severino sabe que a serenidade do mar nem sempre perdura. De repente o vento cresce, vira e desembesta. Seu gemido longo e fino se converte em alarido de muitas vozes, enquanto as velas do barco se debatem numa palpitação de asas em agonia, cercadas pelas ondas revoltas de um rebanho em disparada. É preciso correr, acudir, lutar, ora com o leme, ora com as velas, ora com as escotas, ou então descer todos os panos e só deixar o casco no combate. Em seguida as vagas se aplacam, o céu se destolda, abrem-se clareiras de sol ou de estrelas, e outra vez a planura se desata, e as velas se abrem, e a quilha da proa avança, retalhando as ondas.
MONTELLO, J. Cais da Sagração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
O trecho apresenta analogias entre elementos diferentes para marcar a mensagem poética.
Há analogia adequada, respectivamente, entre os seguintes termos: