TEXTO 2
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
(Luís Vaz de Camões, in "Sonetos").
A respeito do poema, analise as afirmativas:
I. O soneto acima é representante típico das produções literárias da Escola Clássica, nome dado ao movimento artístico do Renascimento.
II. Serenidade, sobriedade e racionalismo são as características fundamentais no modelo estético do período. Na literatura e nas artes, em geral, isso é materializado na razão que deveria dominar a emoção.
III. O amor, no poema, é analisado racionalmente, dissecado pelo eu-lírico, e mais voltado para a concretização do que para a idealização. É o amor platônico.
Está correto o que se afirma em
“Ao delimitar e qualificar os momentos decisivos da formação literária brasileira, devemos procurar distinguir [...] manifestações literárias, de literatura propriamente dita, considerada aqui um sistema de obras ligadas por denominadores comuns [...] são, além das características internas (língua, temas, imagens), certos elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização. Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, fornecendo os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos) que liga uns a outros. O conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece, sob este ângulo como sistema simbólico.
(CANDIDO, Antônio. A formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 4. ed. São Paulo: Martins, 1971, v. 1, p. 23).
De acordo com a leitura do texto acima, e a respeito das primeiras manifestações literárias no Brasil, analise os itens:
I. No período colonial,, não tivemos uma literatura propriamente dita, e sim manifestações literárias que, no Brasil, surgem no Humanismo Português.
II. Os textos no Brasil, no período colonial, tinham como características a sua praticidade: davam à Metrópole informações úteis para a colonização (Literatura de Informação) ou se prestavam a fins didáticos e religiosos (Literatura de Formação).
III. Os maiores ícones de representação da Literatura de Formação foram os Pe. José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, que se valiam do teatro e de textos em Tupi-Guarani para a catequese dos índios que aqui viviam.
Está correto o que se afirma em:
O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele
para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que
carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos
(BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. p. 469-470.)
Sobre o texto, analise as afirmativas.
I. O trecho “O menino era ligado em despropósitos / Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos” sugere que, no fazer poético, o artista deve pautar-se, antes de tudo, pela coerência e concretude de propósitos.
II. Em “No escrever o menino viu/que era capaz de ser noviça, /monge ou mendigo ao mesmo tempo”, revela a capacidade do eu-lírico em se metamorfosear em várias personagens.
III. Da leitura atenta do poema, pode-se dizer que o poeta é aquele que tematiza situações incomuns, tornando-as lógicas e que trata da inventividade como forma de dominar fatos da vida.
Das afirmativas acima, assinale a que NÃO corresponde aos significados utilizados pelo autor do texto.
O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele
para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
Porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que
carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos
(BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. p. 469-470.)
Com base na leitura do poemà e no que se refere à inserção da poesia de Manoel de Barros na Historiografia Literária Brasileira, analise as afirmatvas:
I. Nota-se, claramente, a inserção do poeta no Modernismo brasileiro de 1922, em que a forma e conteúdo aproximam-se do primeiro vanguardismo europeu.
II. Transfigurando, poeticamente, o universo em suas aparentes e visíveis minudências, Manoel de Barros sublinha, em realidade, a estreita dimensão dos seres humanos diante da natureza, diante da linguagem, e diante do cosmos.
III. Pode-se dizer que Manoel de Barros, na poesia, tal como Guimarães Rosa na prosa, teria levado a situações-limite naquilo que Oswald de Andrade expressava, programaticamente, em seu Manifesto Antropofágico.
IV. Outra característica marcante, na poesia de Manoel de Barros, é o uso de vocabulário coloquial-rural e de uma sintaxe que homenageia a oralidade, ampliando as possibilidades expressivas e comunicativas do léxico por meio da formação de neologismos.
Estão corretas: