Globalização e exclusão: a dialética da mundialização do capital
A globalização primeiramente se refere à rede de produção e troca de mercadorias que se
estabelece em nível mundial. Também designa o fenômeno do intercâmbio político, social e
cultural entre as diversas nações, atualmente intensificado pelas profundas transformações
decorrentes da aplicação das inovações científicas e tecnológicas na área da comunicação.
É concebida, por muitos de seus ideólogos, como um novo patamar civilizatório e como
um processo inexorável. Representaria também uma nova forma de organização das
sociedades, capaz de superar as identidades nacionais e os particularismos religiosos, étnicos e
regionais. No entanto, de forma contraditória, ressurgem com força inusitada, em vários locais
do planeta, diversas manifestações fundamentalistas, racistas e terroristas que a humanidade
considerava quase superadas.
Um primeiro questionamento, então, refere-se a se o fenômeno da “globalização”
significa realmente algo “novo” ou representa desdobramentos de estruturas latentes já
implícitas na própria constituição interna do sistema capitalista, cujas tendências já eram
anteriormente conhecidas.
É evidente que seus mecanismos de atuação são conhecidos de longa data, mas é possível
identificar alguns aspectos novos do fenômeno. Uma diferença importante entre o
imperialismo e a globalização, é que enquanto a expansão imperialista do início do século XX
era comandada pelas potências estatais, atualmente são os conglomerados privados
internacionais os detentores reais do poder econômico, político e militar. Uma outra
“novidade” é que a modernização tecnológica trouxe impactos consideráveis sobre os
sistemas produtivos, os serviços e os meios de comunicação, tornando-os mais eficientes e
dinâmicos.
A globalização parece novidade, mas não é. Marx já fazia referência às formas de
expansão do capitalismo, ao mercado mundial e às transformações da grande indústria e dos
monopólios, enfatizando o papel da burguesia no sentido de desenvolver o caráter
internacionalista da produção e do consumo. O modo de produção capitalista precisa de
dimensões mundiais para viabilizar sua produção e reprodução material e intelectual.
A tendência do sistema capitalista à expansão contínua das forças produtivas é algo inato
à sua constituição. No entanto, contraditoriamente, os obstáculos decorrentes das relações de
produção (apropriação privada dos meios e riquezas geradas) explicam as constantes crises do
sistema, cujas implicações hoje são mundiais.
Na verdade, a globalização hoje apresenta uma nova face, mas sua dinâmica foi estudada
já no século XIX e no XX, principalmente por autores marxistas preocupados em explicar os
mecanismos da acumulação do capital e da expansão dos monopólios imperialistas. A
referência a fenômenos históricos anteriores não significa, porém, desconhecer a emergência
de novas realidades e conceituações, pois, como bem assinala Alain Lipietz: é muito possível
que o marxismo enquanto teoria social (convenientemente reelaborada) se mostre mais útil do
que se imagina hoje (Lipietz, 1991, p.236).
A modernização da tecnologia, entre outros fatores, tem gerado profundas
transformações nos processos produtivos e nas estratégias de reprodução do capitalismo, mas
deve-se salientar que a estrutura básica do sistema opera através dos mesmos mecanismos. O
processo de globalização, embora tenha se consolidado nas últimas décadas, já estava contido
no capitalismo desde sua origem. Este modo de produção já nasceu com vocação
internacional, pois a dinâmica da acumulação, concentração, centralização e
internacionalização do capital faz parte da sua própria constituição e forma de expansão.
Tania Steren dos Santos. Professora do Departamento de Sociologia/UFRGS.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222001000200008
Estruturalmente, o texto
(08) inicia com a apresentação do assunto e uma delimitação de sua abrangência.
(14) apresenta, nos dois primeiros parágrafos, uma estrutura de conceituação da globalização.
(17) apresenta, no segundo parágrafo, uma oposição ao conteúdo exposto como segunda ideia constitutiva do enunciado, quando desconstrói o contraditório ao exemplificar muitos episódios ocorridos pelo mundo.
(21) na sequência do desenvolvimento, passa a expor uma reflexão e prospecção sobre a globalização e finaliza defendendo que a estrutura básica do sistema sofre mudanças essenciais.
Assinale a alternativa que apresenta a soma das afirmativas que estão corretas.