Quem conta um conto...
Eu compreendo que um homem goste de ver brigar galos ou de tomar rapé. O rapé dizem os otimistas que alivia o cérebro. A briga de galos é o jóquei-clube dos pobres. O que eu não compreendo é o gosto de dar notícias.
E todavia quantas pessoas não conhecerá o leitor com essa singular vocação? O noveleiro não é tipo muito vulgar, mas também não é muito raro. Há família numerosa deles. Alguns são mais peritos e originais que outros. Não é noveleiro quem quer. É ofício que exige certas qualidades de bom cunho, quero dizer as mesmas que se exigem do homem de Estado. O noveleiro deve saber quando lhe convém dar uma notícia abruptamente, ou quando o efeito lhe pede certos preparativos: deve esperar a ocasião e adaptar-lhe os meios.
Não compreendo, como disse, o ofício de noveleiro. É coisa muito natural que um homem diga o que sabe a respeito de algum objeto; mas que tire satisfação disso, lá me custa a entender. Mais de uma vez tenho querido fazer indagações a este respeito; mas a certeza de que nenhum noveleiro confessa que o é, tem impedido a realização deste meu desejo. Não é só desejo, é também necessidade; ganha-se sempre em conhecer os caprichos do espírito humano.
ASSIS, Machado. Quem conta um conto... In: RAMOS, Ricardo (org.) A palavra é... Humor. São Paulo: Editora Scipione, 1989. p. 08 – 28. (trecho).
De acordo com o texto, o ofício de noveleiro exige certas qualidades, pois não se trata apenas de narrar um fato, dar uma notícia. É preciso saber "esperar a ocasião e adaptar-lhes os meios". Assim sendo, assinale entre as alternativas abaixo aquela que melhor resume a relação de sentido que há entre a descrição do ofício de noveleiro e o título do texto.
Quem conta um conto...
Eu compreendo que um homem goste de ver brigar galos ou de tomar rapé. O rapé dizem os otimistas que alivia o cérebro. A briga de galos é o jóquei-clube dos pobres. O que eu não compreendo é o gosto de dar notícias.
E todavia quantas pessoas não conhecerá o leitor com essa singular vocação? O noveleiro não é tipo muito vulgar, mas também não é muito raro. Há família numerosa deles. Alguns são mais peritos e originais que outros. Não é noveleiro quem quer. É ofício que exige certas qualidades de bom cunho, quero dizer as mesmas que se exigem do homem de Estado. O noveleiro deve saber quando lhe convém dar uma notícia abruptamente, ou quando o efeito lhe pede certos preparativos: deve esperar a ocasião e adaptar-lhe os meios.
Não compreendo, como disse, o ofício de noveleiro. É coisa muito natural que um homem diga o que sabe a respeito de algum objeto; mas que tire satisfação disso, lá me custa a entender. Mais de uma vez tenho querido fazer indagações a este respeito; mas a certeza de que nenhum noveleiro confessa que o é, tem impedido a realização deste meu desejo. Não é só desejo, é também necessidade; ganha-se sempre em conhecer os caprichos do espírito humano.
ASSIS, Machado. Quem conta um conto... In: RAMOS, Ricardo (org.) A palavra é... Humor. São Paulo: Editora Scipione, 1989. p. 08 – 28. (trecho).
O trecho do texto de Machado de Assis fala de uma figura muito comum em sua época: o noveleiro.
De acordo com o texto, a palavra noveleiro se refere a uma pessoa que
Porque sei, não sei porquê. No mundo informatizado, com as informações nos chegando em tempo real, numa incrível velocidade e num incomensurável volume, a gente fica sabendo de cada besteira, toma conhecimento de forma bombardeada de futricas, fofocas, diz-que-diz, ti-ti-ti, notícias normalmente desinteressantes, mas que despertam a nossa curiosidade e faz com que o leitor/internauta pare, leia, memorize e até comente. É essa força da comunicação que misteriosamente nos atrai, como um efeito gravitacional, e nos faz girar em torno da onda com uma certa dose de basbaquice. Procurando me informar via internet, como em jornais, revistas e TV, vejo um monte de manchetinhas falando da vida das pessoas públicas e não resisto em acessar, ler, ver ou ouvir. É nesse contexto que tenho conhecimento do que dizem, do que fazem, do que pensam os artistas (atores, cantores, modelos, badaladores e badalados em geral), os jogadores de futebol, como políticos e empresários em seu lado privado.
ALENCAR, José Virgolino de. Crônica sobre fofoca. disponível em http://virgulinoalencar.wordpress.com/2007/10/08/cronica-sobre- fofoca acessado em 05 de janeiro de 2014.(trecho).
Um texto carrega consigo marcas de sua época. Podemos constatar esse fato tanto no texto de Machado de Assis, como no texto de Alencar.
Em relação a isso, é correto afirmar:
TEXTO 3
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
GONÇALVES DIAS, A. In: Primeiros cantos (1847). Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/ Acesso em 12 dez. 2013
TEXTO 4
Nova Canção do Exílio
A Josué Montello
Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000)
O poema Canção do Exílio, de Antônio Gonçalves Dias (Texto 3), foi escrito no final da primeira metade do século XIX, quando o poeta se encontrava em Portugal, inspirado em versos de Goethe que lhe serviram de mote. O poema tornou-se emblemático do tema e inspirou outros poetas e mesmo compositores. Entre os que se remetem explicitamente, em suas criações, ao poema de Gonçalves Dias, está Carlos Drummond de Andrade (Texto 4). Acerca dos dois poemas (Textos 3 e 4), observe as afirmações abaixo e responda à questão em seguida.
I A letra do Hino Nacional Brasileiro, composta em 1909 por Joaquim Osório Duque Estrada, remete ao poema de Gonçalves Dias, nos versos “teus risonhos, lindos campos ‘têm mais flores’;/ ‘nossos bosques têm mais vida,’/ ‘nossa vida’ no teu seio ‘mais amores’”.
II Em Drummond, são mobilizados signos como o sabiá, as palmeiras, a noite, presentes em Gonçalves Dias. Em ambos, tais signos concentram a ideia da nostalgia do torrão natal (ampliada pela distância e pelo ensimesmamento), despertada pela lembrança de elementos da natureza brasileira.
III A ausência de rimas no poema de Drummond o distancia do sentido proposto pelo poema de Gonçalves Dias, uma vez que o efeito melodioso e rítmico resultante das rimas amplia o efeito de saudade, ao evocar a musicalidade brasileira.
IV Publicado em 1945, o poema Nova Canção do Exílio reflete o pessimismo e a ironia drummondianos, ao retomar os temas presentes em Gonçalves Dias, convertendo-os em crítica ao isolamento sentido pelo silenciamento ainda imposto pela censura, em tempos imediatamente pós-guerra.
A alternativa que apresenta as afirmativas corretas é:
TEXTO 5
Quando abri os olhos, vi o vulto de uma mulher e o de uma criança. As duas figuras estavam inertes diante de mim, e a claridade indecisa da manhã nublada devolvia os dois corpos ao sono e ao cansaço de uma noite mal dormida. Sem perceber, tinha me afastado do lugar escolhido para dormir e ingressado numa espécie de gruta vegetal, entre o globo de luz e o caramanchão que dá acesso aos fundos da casa. Deitada na grama, com o corpo encolhido por causa do sereno, sentia na pele a roupa úmida e tinha as mãos repousadas nas páginas também úmidas de um caderno aberto, onde rabiscara, meio sonolenta, algumas impressões do vôo noturno. Lembro que adormecera observando o perfil da casa fechada e quase deserta, tentando visualizar os dois leões de pedra entre as mangueiras perfiladas no outro lado da rua.
HATOUM, M. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. (Fragmento)
Ao final da década de 80, o amazonense Milton Hatoum surpreende o mundo das letras com a excelência de seu romance de estréia, Relato de um certo Oriente, hoje traduzido para várias línguas. Abaixo, encontram-se trechos de críticos e teóricos literários, relacionados à obra em questão ou à narrativa em geral. Leia com atenção o Texto 5 e selecione, abaixo, a alternativa que pode ser corretamente associada a esse fragmento, no que concerne à narrativa:
TEXTO 6
1
Estes do íntimo d\'alma retratados,
Em tosco acento, métricos gemidos,
Mais à força da mágoa despendidos
Do que a cargos do engenho articulados,
A quem, senão a ti, dos meus cuidados
Ídolo belo, objeto dos sentidos,
Pois os viste tu mesma produzidos,
Devem ser dignamente consagrados?
Recebe o terno voto; e se notares
Em pranto, em ânsia, em lágrimas desfeita
Uma alma que foi centro dos pesares,
Lembra-te que de estragos satisfeita
Jamais pôde alguma hora em teus altares
Outra vítima alegre ser aceita.
COSTA, C. M. da. Sonetos Inéditos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/ Acesso em 15 dez. 2013
Sob o pseudônimo de Glauceste Satúrnio, Cláudio Manuel da Costa foi um dos mais prolíficos poetas do Brasil
Colonial, destacando-se entre os demais poetas do grupo da Inconfidência Mineira, ao final de século XVIII, com
forte influência neoclássica, particularmente sob uma feição particular denominada Arcadismo. Alguns de seus
poemas, no entanto, permaneceram por muito tempo inéditos, publicados só muito tempo depois, no início do
século XX. O soneto 1 (Texto 6) faz parte dessa coletânea de publicação mais recente. Leia as afirmativas
abaixo e responda à questão em seguida. É correto dizer que o soneto 1
I obedece a um tema característico do Arcadismo, qual seja o de um eu lírico abandonado ou ignorado pela
amada, manifestando-se em tom triste e queixoso.
II é composto por versos decassílabos, comuns aos sonetos, embora essa forma de composição também utilize
outras métricas, como os versos alexandrinos (dodecassílabos).
III a idealização da mulher amada, muito frequente nos poemas árcades, é evidenciada, aqui, pelo verso “Ídolo
belo, objeto dos sentidos”.
IV à maneira dos sonetos tradicionais, o último terceto é a "chave de ouro", por constituir-se como decodificador do
significado global do poema. No caso, a vitimização daquele que ama diante do objeto de seu amor, que parece
ignorar a dor do ser amante.
A alternativa que apresenta a(s) resposta(s) correta(s) é