Chegança
Sou Pataxó
sou Xavante e Cariri
Ianonami, sou Tupi
Guarani, sou Carajá
Sou Pancaruru
Carijó, Tupinajé
Potiguar, sou Caeté
Ful-ni-o, Tupinambá
Depois que os mares dividiram os continentes
quis ver terras diferentes
Eu pensei: “vou procurar
um mundo novo
lá depois do horizonte
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar”
Eu atraquei
Num porto muito seguro
Céu azul, paz e ar puro
Botei as pernas pro ar
Logo sonhei
Que estava no paraíso
Onde nem era preciso
Dormir para se sonhar
Mas de repente
Me acordei com a surpresa:
Uma esquadra portuguesa
Veio na praia atracar
Da grande-nau
Um branco de barba escura
Vestindo uma armadura
Me apontou pra me pegar
E assustado
Dei um pulo da rede
Pressenti a fome, a sede
Eu pensei: “vão me acabar”
Me levantei de borduna já na mão
Ai, senti no coração
O Brasil vai começar
NÓBREGA, Antônio. Chegança. Disponível em: <http://letras.mus.br/antonio-nobrega/68957/>. Acesso em: 30 out. 2015.
O texto acima, letra de uma canção de Antônio Nóbrega, recupera um determinado período da história do Brasil ao qual corresponde, na historiografia da Literatura Brasileira, um período literário específico. São autores desse período:
Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação de cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram, porém, os azares das construções.
Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiam como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevares e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado.
Às vezes se sucedem na mesma direção com uma frequência irritante, outras se afastam, e deixam de permeio um longo intervalo coeso e fechado de casas. Num trecho, há casas amontoadas umas sobre outras numa angústia de espaço desoladora, logo adiante um vasto campo abre ao nosso olhar uma ampla perspectiva.
Marcham assim ao acaso as edificações e conseguintemente o arruamento. Há casas de todos os gostos e construídas de todas as formas.
Vai-se por uma rua a ver um correr de chalets, de porta e janela, parede de frontal, humildes e acanhados, de repente se nos depara uma casa burguesa, dessas de compoteiras na cimalha rendilhada, a se erguer sobre um porão alto com mezaninos gradeados. Passada essa surpresa, olha-se acolá e dá-se com uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo palha, em torno da qual formiga uma população; adiante, é uma velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco classificável, que parece vexada a querer ocultar-se, diante daquela onda de edifícios disparatados e novos.
BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. (Fragmento).
O texto acima apresenta, como características da escrita de Lima Barreto,
O DIÁRIO DE JONATHAN HARKER
(Notas taquigráficas)
3 de maio, Bistritz. Parti de Munique às 20 h 35 da noite, chegando a Viena na manhã seguinte. A chegada estava prevista para as 6 h 45 da manhã. O nosso trem, porém, se atrasara em uma hora. Pelo que pude apreciar ainda do trem, através do clarão de suas luzes, e de uma breve caminhada pelas ruas, Budapeste pareceu-me uma cidade realmente maravilhosa. Não obstante, limitei-me a uma rápida excursão em torno da estação ferroviária, pois, em virtude do atraso, devíamos partir o mais cedo possível. Tive então a impressão de que o Ocidente ficara para trás e que agora entrávamos no Oriente. A mais ocidental das portentosas pontes que cruzam o Danúbio, cujo leito aqui nos impressiona por sua amplitude e profundidade, põe-nos inopinadamente em contato com as tradições do mundo turco. [...]
Dispondo de algum tempo livre durante minha permanência em Londres ali frequentei o Museu Britânico, consultando livros e mapas geográficos na biblioteca, a fim de recolher dados sobre a Transilvânia. [...]
STOKER, Bram. Drácula. Trad. Theobaldo de Souza. – Porto Alegre: L&PM, 2011. p. 7.
O texto é o trecho inicial de Drácula, romance publicado por Bram Stoker em 1897. Seguindo o modelo estabelecido por esse início, a obra é composta por cartas, relatórios e recortes de jornal. O leitor, acompanhando a sequência dos relatos, estabelece sua compreensão e o fio narrativo da história. Tendo essas informações e particularidades como referência, Drácula pode ser lido como exemplo da
O texto acima, um poema de Arnaldo Antunes, inscreve-se numa tradição de procedimentos poéticos também recuperáveis no
SONETO 204 AO RAPPER
De cor, mulato, pardo, negro, preto.
O branco é simplesmente branco, e só.
Você quer mais respeito, não quer dó.
Quer ser um cidadão, não quer o gueto.
No Sul, no Pelourinho, no Soweto,
lutando contra o falso status quo
da máscara, a gravata e o paletó:
A letra é mais comprida que um soneto.
Seu canto já foi blues, quase balada;
Foi soul, foi funk e reggae; agora é bala
perdida em tiroteio de emboscada.
Xerife do xadrez, você não cala:
leva a periferia pra parada,
de sola entra no som da minha sala.
Disponível em: . Acesso em: 5 nov. 2015.
Acerca da estrutura métrica e rimática do poema acima, umsoneto de autoria de Glauco Mattoso, pode-se afirmar a presença de