Em Dois irmãos, de Milton Hatoum, os gêmeos Yaqub e Omar representam duas personalidades antagônicas que se enfrentam ao longo da narrativa.
A rivalidade entre eles tem como resultado:
A partir da leitura de Dois irmãos, com o foco na questão da paternidade de Nael, narrador do romance, pode-se afirmar:
“Todos os dias que depois vieram, eram tempo de doer. Miguilim tinha sido arrancado de uma porção de coisas, e estava no mesmo lugar. Quando chegava o poder de chorar, era até bom – enquanto estava chorando, parecia que a alma toda se sacudia, misturando ao vivo todas as lembranças, as mais novas e as muito antigas. Mas, no mais das horas, ele estava cansado. Cansado e como que assustado. Sufocado. Ele não era ele mesmo. Diante dele, as pessoas, as coisas, perdiam o peso de ser. Os lugares, o Mutum – se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos. E Miguilim mesmo se achava diferente de todos. Ao vago, dava a mesma ideia de uma vez, em que, muito pequeno, tinha dormido de dia, fora de seu costume – quando acordou, sentiu o existir do mundo em hora estranha, e perguntou assustado: – ‘Uai, Mãe, hoje já é amanhã?!’”
João Guimarães Rosa. Campo Geral.
Conforme sugere o trecho, o sofrimento perturba a noção que Miguilim tinha do tempo, porque
A respeito dos contos “Nós matamos o Cão Tinhoso!”, “Dina”, “Papá, cobra e eu” e “Nhinguitimo”, de Nós matamos o Cão Tinhoso!, é possível afirmar:
O SOBREVIVENTE
Impossível compor um poema a essa altura da evolução
[da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de
[verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as
[necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda
falta muito para atingirmos um nível
razoável de cultura. Mas até lá, felizmente,
estarei morto.
Os homens não melhoraram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitável o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
[dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)
Carlos Drummond de Andrade. Alguma Poesia, 1930.
Entre o primeiro e o último verso, há uma aparente contradição, que, todavia, não se sustenta porque