Redação #1254502
Previsão: 16/11/2022
No livro "Holocausto brasileiro", a jornalista Daniela Arbex conta os relatos dos sobreviventes do Hospital Colônia, para onde milhares de pessoas indesejadas foram enviadas no século XX. Hoje, percebe-se que a obra dialoga com a luta antimanicomial e com a necessidade do tratamento humanizado já que, exigem a mudança na forma como a saúde mental é tratada no Brasil. A partir desse contexto, é imprescindível entender a origem da instituição manicomial e a repercussão desse embate no país.
Com base nesse cenário, é fundamental compreender a criação dos hospícios como forma de despejar os indivíduos indesejados em uma área reclusa. De fato, nota-se que a "história da loucura" é a exclusão sofrida por pessoas julgadas como diferentes (teoria estudada, inclusive, pelo filosofo Michel Foucault). Nessa perspetiva, durante o Império Brasileiro, o primeiro manicônio foi estabelecido com o intuito de recolher os "alienados" da sociedade em sua maioria negros homossexuais, pessoas com deficiências, prostitutas e muitos outros. Assim, a população poderia virar as costas para os mais de 60 mil enviados para o "cemitério vivo" em Barbacena, local onde foi instaurado o Hospital Colônia.
Além disso, percebe-se também o quanto a ineficiência governamental repercute no baixo acesso ao tratamento psicológico humanizado no Brasil. Realmente, não há como hesitar: "Se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?", ou seja, quando tantos são dados como loucos, é certeza que algo na forma de criar as regras está errado. Essa ideia foi estudada pelo escritor Machado de Assis (na obra "O Alienista") e denuncia o quanto a falta de atendimento das necessidades psicológicas da população são usadas como estratégia para manter uma estrutura que naturaliza o encarceramento das camadas mais vulneráveis. A partir disso, é difícil pensar em evoluir dessa política manicomial sem o auxílio estatal e social no processo de reforma psiquiátrica.
Portanto, e inegável que o lento avanço da luta por um tratamento humanizado é uma consequência da gestão política, a qual reverbera no desenvolvimento do país. Dessa forma é fundamental que o poder executivo federal, mais especificamente o Ministério da Saúde, estimule ações de expansão dos Centros de Atenção Psicossocial nas áreas mais negligenciadas. Tal ação ocorrerá por meio de um "Projeto Nacional de Incentivo a Saúde mental", o qual redirecionará recursos de acordo com a necessidade de cada região, a fim de tornar viável e efetivo o acesso a um tratamento psicológico em todo o país.
Recife - PE