Redação #731869
Do período colonial brasileiro - cuja gênese deu-se no século XVI - até o atual período republicano, consolidado em 1889 após a queda do regime monárquico, a presença dos povos indígenas no país esteve intimamente ligada ao histórico processo de luta pelo reconhecimento dos direitos que lhes concernem, os quais, muitas vezes, são desrespeitados e ignorados socialmente. Nessa perspectiva, apesar de o aparato legal condicionar relativa proteção à preservação da cultura e dos povos indígenas, eles ainda continuam sob a ameaça do apagamento cultural e também do fator humano. Diante disso, é pertinente enfatizar dois aspectos que alicerçam a permanência desse histórico dilema: a violência para com esses povos, bem como o preconceito fortemente arraigado.
É importante pontuar, de início, que a chaga da violência contra os povos indígenas atravessou séculos e perdura até os dias de hoje. Nesse viés, essa histórica perversidade tem sua origem atrelada ao caráter violento das ações dos europeus ainda no século XVI, os quais, ao chegarem às terras brasileiras, subjugaram os indígenas a uma violência generalizada que enraizou-se profundamente no país e tem reflexos ainda hoje. Prova disso são os dados levantados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que, de 2018 para 2019, contabilizou 1120 casos de violência contra o patrimônio dos povos indígenas no país. Não é aceitável, pois, que a manifestação dessa vergonhosa truculência continue massacrando esses povos que há décadas lutam pelo reconhecimento dos seus direitos.
Ademais, é perceptível que o preconceito, aspecto fortemente enraizado culturalmente, incide sobre as população indígenas de forma nefasta e condiciona a minimização da existência e da importância desses povos à cultura brasileira. Nesse sentido, José Luiz Fiorin, escritor e linguísta paulista, afirma que a raiz do preconceito está na rejeição da alteridade. Sob essa perspectiva, vê-se que a cultura de ignorância, historicamente instalada no Brasil, figura como um aspecto que desencadeia a generalizada incompreensão social da importância simbólica e cultural dos indígenas no país, o que condiciona a destruição de boa parte do patrimônio cultural desses povos socialmente marginalizados. À vista disso, é impreterível a mudança desse lastimável paradigma que, cada vez mais, prejudica a harmonia e as relações indígenas na contemporaneidade.
Torna-se necessária, portanto, a consolidação de políticas públicas que visem valorizar, preservar e proteger os povos indígenas brasileiros. Para isso, é preciso que o Governo Federal, por intermédio do Ministério da Educação, integre à grade curricular dos estudantes brasileiros temáticas que abordem a relevância significativa da cultura das populações indígenas ao país, com aulas que, ao contarem também com a participação da comunidade, possam destacar que a aniquilação da cultura e dos povos indígenas representa, também, um forte agravo à própria identidade nacional. Dessa forma, além de desconstruir a cultura da ignorância, ajudar-se-á a consolidar a noção social de alteridade apresentada por Fiorin.
Lajedo - PE