Redação #1260141
Previsão: 24/11/2022
O quadro expressionista "O grito", do pintor norueguês Edvard Munch, retrata a inquietude, o medo e a desesperança refletidos no semblante de um personagem envolto por uma atmosfera de profunda desolação. Hoje, percebe-se que a obra dialoga com o difícil combate aos preconceitos no futebol brasileiro, já que muitos jogadores estão cercados por um ambiente de violência física e moral. A partir desse contexto, é imprescindível entender a origem desse embate e o problema ocasionado por esse entrave.
Com base nesse cenário, é fundamental compreender a violência dentro e fora dos estádios como mecanismos de preservação do preconceito. De fato, a mídia é capaz de disciplinar o pensamento das pessoas utilizando-se da frágil linha entre notícia e espetáculo (teoria estudada, inclusive, pelo jornalista José Arbex Junior). Nessa perspectiva, o papel da mídia de transmitir e informar ao público foi aos poucos mudando, no âmbito esportivo, para um tipo de show, no qual cenas de agressão e humilhação são repetidas incontáveis vezes, enraizando no subconsciente dos brasileiros o tipo de comportamento esperado por fãs do futebol. Assim, é preciso trabalhar para que o jogo veloz e brutal que acontece nos campos não continue a ser a realidade que tantos jogadores vivem, apenas por serem de uma cor diferente, por terem uma opção sexual distinta ou simplesmente não serem do gênero que domina o esporte.
Além disso, percebe-se também que a forma que os espectadores agem repercute na vida dos atletas. Realmente, não há como negar, as "Câmaras de Eco" se fazem extremamente presentes no meio futebolístico, ou seja, é perceptível como as ideias e crenças são amplificadas e reforçadas pela constante repetição nos meios de comunicação. Essa ideia foi estudada pelo americano John Scruggs e denuncia a forma como redes sociais possuem um imenso poder de expansão de ideias, a partir do mecanismo de repetição exaustiva da mesma mensagem infinitas vezes, levando a um incessante bullying e perseguição daqueles jogadores considerados "problema". A partir disso, é difícil pensar em retornar o futebol à categoria de esporte do povo, uma vez que um ambiente de igualdade e respeito se torna tão incomum.
Portanto, é inegável que o preconceito sofrido por diversos jogadores é uma consequência da gestão institucional e da organização midiática que continua a dificultar a prática de um esporte limpo. Dessa forma, é fundamental que CBF (Confederação Brasileira de Futebol) administre investigações de condutas preconceituosas entre seus membros e afiliados para garantir a segurança de todos. Outrossim, é urgente que as plataformas digitais removam comentários de ódio e spam, por meio da aprimoração de filtros e ferramentas de pesquisa avançada, associando termos intolerantes e jogadores aos momentos anteriores e posteriores aos eventos esportivos, com o intuito de assegurar os direitos cidadãos dos participantes e de evitar o crescimento de imensas campanhas de ódio. Afinal, todos merecem o sentimento de segurança, seja online ou no estádio.
Recife - PE