Redação #1258044
A produção cinematográfica "Ilha do medo", dirigida pelo incomparável cineasta Martin Scorcese, representa o sistema manicomial como uma ilha. Isto é, o homem, quando confundido por sua própria mente, é afastado das massas tal qual o gado infectado é separado do rebanho. Nesse contexto, o fim dos manicômios no Brasil simboliza o processo de humanização desses pacientes, antes tratados como pragas, visto que tem como novo viés tratá-los como cidadãos e viabilizar a socialização mesmo durante a intervenção clínica.
Isto posto, a situação psiquiátrica do indivíduo brasileiro não revoga a sua cidadania. Sendo assim, deve ser resguardada a integridade física e psicológica de pacientes mentalmente instáveis, além da aplicação de um tratamento que considere o bem-estar desses. Por sua vez, os sanatórios não garantem tais direitos basilares, como evidenciado na internação da escultora Camille Claudel por quase 30 anos. Desse modo, a desarticulação desse sistema médico implicou em intervenções menos arbitrárias.
Em adição, é importante que o modelo substituto permita a socialização com pacientes e familiares pois, como ensina o autor Paulo Coelho em "O aleph", é ao conversar e conhecer que o ser humano se constrói. Nessa perspectiva, promover o devido lazer para a pessoa em tratamento psiquiátrico auxilia para que essa desenvolva-se socialmente e, portanto, é vital para a humanização do processo.
Logo, infere-se que o Ministério da Saúde deve assegurar o financiamento de Comunidades Tearpêuticas (CTs) comprometidas com o parecer médico. Para tal, é imprescindível que o órgão público regule as CTs através da imposição de normas definidas pelo Conselho Federal de Medicina, além da realização de fiscalizações esporádicas. Quiçá, apenas instituições éticas receberão verba pública e, assim, contribuirão para o fim de todas as organizações que assemelhem-se à ilha de Scorcese.
Salvador - BA