UEA - SIS 2022 1° Etapa
64 Questões
Para responder a questão, leia a crônica “Atletas”, de Paulo Mendes Campos, publicada originalmente em 23.06.1959.
[...]
De todas as modalidades de atletismo, o mais belo, o mais solitário, o mais cruel, é o salto em altura. Elevar-se do chão, lutar contra o monótono e melancólico peso do corpo, eliminar a gravidade desse corpo até o limite máximo do possível, é um dos sacrifícios mais desumanos que o homem pode exigir de si mesmo. Daí, a meu ver, ser o salto em altura o adestramento básico de todos os esportes. A carne é pesada, triste, medonhamente agarrada ao solo, resignando-se às leis da terra. Assim, o salto, imaterial, é um exercício do espírito. Só uma ansiedade indomável de pureza pode permitir que uma criatura terrena se eleve mais de dois metros no ar, para transpor o obstáculo acima de sua cabeça, acima de sua compreensão. Segue-se a queda, o retorno à terra; não importa, ele tentou o impossível e o conseguiu. Por um momento, desde o instante em que se concentrou para o salto, a besta adormeceu, e um anjo se apossou de seu corpo. É o anjo que sobe ao ar e ultrapassa o sarrafo; o homem desce de novo à terra.
Todas as formas de atletismo são alegóricas, e por isso permanecem. Apenas o salto em altura confia-nos com uma clareza elementar o seu significado.
Aos lançadores de peso chamam, nos Estados Unidos, baleia. Parry O’Brien [campeão olímpico de lançamento de peso], combinando o que chama de atitude mental com aptidão física, tornou-se a maior baleia do mundo. Dedicou, antes de obter a vitória, ao lançamento de peso as vinte e quatro horas de todos os seus dias. Estudou ciências físicas, praticou infatigavelmente, usou um aparelho de gravação, pelo qual a sua voz (a voz da consciência, a voz interior, o grilo falante) o exortava com impiedade a um esforço sempre maior. Aprendeu a cavar fundo no que se pode chamar uma reserva interior de força, logrando lançar a esfera de aço a uma distância de 63 pés e duas polegadas.
[...] O’Brien tinha para consigo mesmo um dever a cumprir, e o cumpriu. Os motivos que o levaram a desfazer-se desse peso, a lançá-lo para longe, com gestos perfeitos, e harmoniosos, a serviço de uma revolta fundamental, inseparável do ser humano, os motivos são os mesmos das demais ações que se erguem acima do comum. Todos os feitos atléticos, assim como todos os feitos do espírito, nascem da grande humilhação terrestre. Todo homem deve libertar-se; todo homem deve realizar um grande gesto; todo homem deve conhecer a profundidade e amargura de seu limite. [...]
(https://cronicabrasileira.org.br)
De acordo com o cronista,
Para responder a questão, leia a crônica “Atletas”, de Paulo Mendes Campos, publicada originalmente em 23.06.1959.
[...]
De todas as modalidades de atletismo, o mais belo, o mais solitário, o mais cruel, é o salto em altura. Elevar-se do chão, lutar contra o monótono e melancólico peso do corpo, eliminar a gravidade desse corpo até o limite máximo do possível, é um dos sacrifícios mais desumanos que o homem pode exigir de si mesmo. Daí, a meu ver, ser o salto em altura o adestramento básico de todos os esportes. A carne é pesada, triste, medonhamente agarrada ao solo, resignando-se às leis da terra. Assim, o salto, imaterial, é um exercício do espírito. Só uma ansiedade indomável de pureza pode permitir que uma criatura terrena se eleve mais de dois metros no ar, para transpor o obstáculo acima de sua cabeça, acima de sua compreensão. Segue-se a queda, o retorno à terra; não importa, ele tentou o impossível e o conseguiu. Por um momento, desde o instante em que se concentrou para o salto, a besta adormeceu, e um anjo se apossou de seu corpo. É o anjo que sobe ao ar e ultrapassa o sarrafo; o homem desce de novo à terra.
Todas as formas de atletismo são alegóricas, e por isso permanecem. Apenas o salto em altura confia-nos com uma clareza elementar o seu significado.
Aos lançadores de peso chamam, nos Estados Unidos, baleia. Parry O’Brien [campeão olímpico de lançamento de peso], combinando o que chama de atitude mental com aptidão física, tornou-se a maior baleia do mundo. Dedicou, antes de obter a vitória, ao lançamento de peso as vinte e quatro horas de todos os seus dias. Estudou ciências físicas, praticou infatigavelmente, usou um aparelho de gravação, pelo qual a sua voz (a voz da consciência, a voz interior, o grilo falante) o exortava com impiedade a um esforço sempre maior. Aprendeu a cavar fundo no que se pode chamar uma reserva interior de força, logrando lançar a esfera de aço a uma distância de 63 pés e duas polegadas.
[...] O’Brien tinha para consigo mesmo um dever a cumprir, e o cumpriu. Os motivos que o levaram a desfazer-se desse peso, a lançá-lo para longe, com gestos perfeitos, e harmoniosos, a serviço de uma revolta fundamental, inseparável do ser humano, os motivos são os mesmos das demais ações que se erguem acima do comum. Todos os feitos atléticos, assim como todos os feitos do espírito, nascem da grande humilhação terrestre. Todo homem deve libertar-se; todo homem deve realizar um grande gesto; todo homem deve conhecer a profundidade e amargura de seu limite. [...]
(https://cronicabrasileira.org.br)
No primeiro parágrafo, o cronista recorre a um enunciado paradoxal em:
Para responder a questão, leia a crônica “Atletas”, de Paulo Mendes Campos, publicada originalmente em 23.06.1959.
[...]
De todas as modalidades de atletismo, o mais belo, o mais solitário, o mais cruel, é o salto em altura. Elevar-se do chão, lutar contra o monótono e melancólico peso do corpo, eliminar a gravidade desse corpo até o limite máximo do possível, é um dos sacrifícios mais desumanos que o homem pode exigir de si mesmo. Daí, a meu ver, ser o salto em altura o adestramento básico de todos os esportes. A carne é pesada, triste, medonhamente agarrada ao solo, resignando-se às leis da terra. Assim, o salto, imaterial, é um exercício do espírito. Só uma ansiedade indomável de pureza pode permitir que uma criatura terrena se eleve mais de dois metros no ar, para transpor o obstáculo acima de sua cabeça, acima de sua compreensão. Segue-se a queda, o retorno à terra; não importa, ele tentou o impossível e o conseguiu. Por um momento, desde o instante em que se concentrou para o salto, a besta adormeceu, e um anjo se apossou de seu corpo. É o anjo que sobe ao ar e ultrapassa o sarrafo; o homem desce de novo à terra.
Todas as formas de atletismo são alegóricas, e por isso permanecem. Apenas o salto em altura confia-nos com uma clareza elementar o seu significado.
Aos lançadores de peso chamam, nos Estados Unidos, baleia. Parry O’Brien [campeão olímpico de lançamento de peso], combinando o que chama de atitude mental com aptidão física, tornou-se a maior baleia do mundo. Dedicou, antes de obter a vitória, ao lançamento de peso as vinte e quatro horas de todos os seus dias. Estudou ciências físicas, praticou infatigavelmente, usou um aparelho de gravação, pelo qual a sua voz (a voz da consciência, a voz interior, o grilo falante) o exortava com impiedade a um esforço sempre maior. Aprendeu a cavar fundo no que se pode chamar uma reserva interior de força, logrando lançar a esfera de aço a uma distância de 63 pés e duas polegadas.
[...] O’Brien tinha para consigo mesmo um dever a cumprir, e o cumpriu. Os motivos que o levaram a desfazer-se desse peso, a lançá-lo para longe, com gestos perfeitos, e harmoniosos, a serviço de uma revolta fundamental, inseparável do ser humano, os motivos são os mesmos das demais ações que se erguem acima do comum. Todos os feitos atléticos, assim como todos os feitos do espírito, nascem da grande humilhação terrestre. Todo homem deve libertar-se; todo homem deve realizar um grande gesto; todo homem deve conhecer a profundidade e amargura de seu limite. [...]
(https://cronicabrasileira.org.br)
No segundo parágrafo, o cronista ressalta
Para responder a questão, leia a crônica “Atletas”, de Paulo Mendes Campos, publicada originalmente em 23.06.1959.
[...]
De todas as modalidades de atletismo, o mais belo, o mais solitário, o mais cruel, é o salto em altura. Elevar-se do chão, lutar contra o monótono e melancólico peso do corpo, eliminar a gravidade desse corpo até o limite máximo do possível, é um dos sacrifícios mais desumanos que o homem pode exigir de si mesmo. Daí, a meu ver, ser o salto em altura o adestramento básico de todos os esportes. A carne é pesada, triste, medonhamente agarrada ao solo, resignando-se às leis da terra. Assim, o salto, imaterial, é um exercício do espírito. Só uma ansiedade indomável de pureza pode permitir que uma criatura terrena se eleve mais de dois metros no ar, para transpor o obstáculo acima de sua cabeça, acima de sua compreensão. Segue-se a queda, o retorno à terra; não importa, ele tentou o impossível e o conseguiu. Por um momento, desde o instante em que se concentrou para o salto, a besta adormeceu, e um anjo se apossou de seu corpo. É o anjo que sobe ao ar e ultrapassa o sarrafo; o homem desce de novo à terra.
Todas as formas de atletismo são alegóricas, e por isso permanecem. Apenas o salto em altura confia-nos com uma clareza elementar o seu significado.
Aos lançadores de peso chamam, nos Estados Unidos, baleia. Parry O’Brien [campeão olímpico de lançamento de peso], combinando o que chama de atitude mental com aptidão física, tornou-se a maior baleia do mundo. Dedicou, antes de obter a vitória, ao lançamento de peso as vinte e quatro horas de todos os seus dias. Estudou ciências físicas, praticou infatigavelmente, usou um aparelho de gravação, pelo qual a sua voz (a voz da consciência, a voz interior, o grilo falante) o exortava com impiedade a um esforço sempre maior. Aprendeu a cavar fundo no que se pode chamar uma reserva interior de força, logrando lançar a esfera de aço a uma distância de 63 pés e duas polegadas.
[...] O’Brien tinha para consigo mesmo um dever a cumprir, e o cumpriu. Os motivos que o levaram a desfazer-se desse peso, a lançá-lo para longe, com gestos perfeitos, e harmoniosos, a serviço de uma revolta fundamental, inseparável do ser humano, os motivos são os mesmos das demais ações que se erguem acima do comum. Todos os feitos atléticos, assim como todos os feitos do espírito, nascem da grande humilhação terrestre. Todo homem deve libertar-se; todo homem deve realizar um grande gesto; todo homem deve conhecer a profundidade e amargura de seu limite. [...]
(https://cronicabrasileira.org.br)
“O’Brien tinha para consigo mesmo um dever a cumprir, e o cumpriu. Os motivos que o levaram a desfazer-se desse peso, a lançá-lo para longe, com gestos perfeitos, e harmoniosos, [...] são os mesmos das demais ações que se erguem acima do comum.” (4º parágrafo)
Os termos sublinhados referem-se, respectivamente, a
Para responder a questão, leia o trecho do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira, proferido em 1655.
E para que um discurso tão importante e tão grave vá assentado sobre fundamentos sólidos e irrefragáveis¹, suponho primeiramente que sem restituição do alheio não pode haver salvação. [...] Quer dizer: se o alheio que se tomou ou retém, se pode restituir e não se restitui, a penitência deste e dos outros pecados não é verdadeira penitência, senão simulada e fingida, porque se não perdoa o pecado sem se restituir o roubado, quando quem o roubou tem possibilidade de o restituir. Esta única exceção da regra foi a felicidade do bom ladrão, e esta a razão por que ele se salvou, e também o mau se pudera salvar sem restituírem. Como ambos saíram do naufrágio desta vida despidos, e pegados a um pau, só esta sua extrema pobreza os podia absolver dos latrocínios que tinham cometido, porque impossibilitados à restituição ficavam desobrigados dela. Porém se o bom ladrão tivera bens com que restituir, ou em todo, ou em parte o que roubou, toda a sua fé e toda a sua penitência tão celebrada dos santos, não bastara a o salvar, se não restituísse. Duas coisas lhe faltavam a este venturoso homem para se salvar: uma como ladrão que tinha sido, outra como cristão que começava a ser. Como ladrão que tinha sido, faltava-lhe com que restituir: como cristão que começava a ser, faltava-lhe o batismo, mas assim como o sangue que derramou na cruz, lhe supriu o batismo, assim a sua desnudez, e a sua impossibilidade lhe supriu a restituição, e por isso se salvou. Vejam agora, de caminho, os que roubaram na vida; e nem na vida, nem na morte restituíram, antes na morte testaram de muitos bens, e deixaram grossas heranças a seus sucessores; vejam aonde irão ou terão ido suas almas, e se se podiam salvar.
(Antônio Vieira. Essencial, 2011. Adaptado.)
Depreende-se do sermão que o bom ladrão se salvou porque, além de arrepender-se,
Para responder a questão, leia o trecho do “Sermão do bom ladrão”, de Antônio Vieira, proferido em 1655.
E para que um discurso tão importante e tão grave vá assentado sobre fundamentos sólidos e irrefragáveis¹, suponho primeiramente que sem restituição do alheio não pode haver salvação. [...] Quer dizer: se o alheio que se tomou ou retém, se pode restituir e não se restitui, a penitência deste e dos outros pecados não é verdadeira penitência, senão simulada e fingida, porque se não perdoa o pecado sem se restituir o roubado, quando quem o roubou tem possibilidade de o restituir. Esta única exceção da regra foi a felicidade do bom ladrão, e esta a razão por que ele se salvou, e também o mau se pudera salvar sem restituírem. Como ambos saíram do naufrágio desta vida despidos, e pegados a um pau, só esta sua extrema pobreza os podia absolver dos latrocínios que tinham cometido, porque impossibilitados à restituição ficavam desobrigados dela. Porém se o bom ladrão tivera bens com que restituir, ou em todo, ou em parte o que roubou, toda a sua fé e toda a sua penitência tão celebrada dos santos, não bastara a o salvar, se não restituísse. Duas coisas lhe faltavam a este venturoso homem para se salvar: uma como ladrão que tinha sido, outra como cristão que começava a ser. Como ladrão que tinha sido, faltava-lhe com que restituir: como cristão que começava a ser, faltava-lhe o batismo, mas assim como o sangue que derramou na cruz, lhe supriu o batismo, assim a sua desnudez, e a sua impossibilidade lhe supriu a restituição, e por isso se salvou. Vejam agora, de caminho, os que roubaram na vida; e nem na vida, nem na morte restituíram, antes na morte testaram de muitos bens, e deixaram grossas heranças a seus sucessores; vejam aonde irão ou terão ido suas almas, e se se podiam salvar.
(Antônio Vieira. Essencial, 2011. Adaptado.)
Está empregado em sentido figurado o termo sublinhado em: