CUSC 2021
38 Questões
Leia a crônica “O chope e a passagem”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência. Um caso com a Leopoldina.
– Entrou mulher na sua vida, Nicanor? Casado há tão pouco tempo!
– Não senhor, Leopoldina é a estrada de ferro.
Sucede que Nicanor mora – morar é força de expressão, ele passa a noite – lá para as bandas de Cordovil, e vem para o batente no trem de subúrbio da Leopoldina. Paga pelo transporte a inexistente, a irreal quantia de dez cruzeiros.
– Eu achava barato, pra que vou mentir ao senhor que não achava? Me parecia uma camaradagem especial, uma largueza de quem pode pra quem não pode; até rico tem disso, quando está bêbedo. Era o único troço barato na vida. Como tudo mais está pela hora da morte, ficava uma coisa pela outra, quer dizer, não chegava a ficar, mas amolecia. E eu gostava, eu gosto da Leopoldina.
– Realmente, ela foi uma mãe para você.
– Não foi? Por isso é que estou muito chateado comigo mesmo.
– Não entendo, Nicanor.
– A Leopoldina está me convidando a pagar mais vinte cruzeiros pela passagem.
– Então? Não é justo?
– Justo ela diz que é, mas eu não acho não.
– Nicanor!
– Vou ligar o rádio de pilha para o senhor escutar. Não, faz muito barulho, eu resumo, eu resumo. A Leopoldina e a Central vendem por dia oitocentos e vinte mil passagens a dez cruzeiros. Cada passagem custa, batata, sessenta cruzeiros. O prejuízo é de quarenta e um milhões por dia. Então elas propõem à gente rachar o prejuízo, cobrando trinta cruzeiros.
– Boa solução.
– Boa como, se a estrada, quando tudo aumenta duzentos por cento, cobra só metade do custo da passagem, e a gente agora fica sabendo que está roubando dela?
– Roubando nada, Nicanor. Ela mesma é que queria o prejuízo. Você não vai fazer a greve de passageiro por causa disso?
– Aí é que está. Não posso aceitar este sacrifício da Leopoldina, mas vir de a pé é fogo, e de táxi só se eu fosse o motorista ou o atropelado.
– Esqueça essas coisas. Excesso de escrúpulo é doença.
– Ela própria é que me bota isso na cabeça, gritando no rádio e na televisão, de cinco em cinco minutos: “É justo você pagar mais por um chope do que por uma passagem de subúrbio? É justo? É justo?”. Aí, eu respondo cá dentro que não. Aí ela grita que o justo é pagar a metade da passagem. Aí, com a ideia de justiça me formigando na sinagoga, eu sinto que o justo é pagar o preço exato, e fico danado comigo porque, verdade verdade, prefiro pagar trinta a sessenta, e se possível continuar mesmo nos dez, que que há? Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: “Cobra logo sessenta! Cento e vinte!”.
Ia explicar a Nicanor que ele sempre pagou muito mais do que dez cruzeiros pela passagem; que, sem perceber, paga o preço de uma cervejaria, e nós também, que não viajamos pela Rede Ferroviária Federal; todos pagamos o déficit. Mas preferi oferecer-lhe um chope, no balcão.
– E quem disse que eu bebo? Penso logo no trem e sinto remorso. Aí, perde o sabor.
(Caminhos de João Brandão, 2016.)
Depreende-se da crônica que
Leia a crônica “O chope e a passagem”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência. Um caso com a Leopoldina.
– Entrou mulher na sua vida, Nicanor? Casado há tão pouco tempo!
– Não senhor, Leopoldina é a estrada de ferro.
Sucede que Nicanor mora – morar é força de expressão, ele passa a noite – lá para as bandas de Cordovil, e vem para o batente no trem de subúrbio da Leopoldina. Paga pelo transporte a inexistente, a irreal quantia de dez cruzeiros.
– Eu achava barato, pra que vou mentir ao senhor que não achava? Me parecia uma camaradagem especial, uma largueza de quem pode pra quem não pode; até rico tem disso, quando está bêbedo. Era o único troço barato na vida. Como tudo mais está pela hora da morte, ficava uma coisa pela outra, quer dizer, não chegava a ficar, mas amolecia. E eu gostava, eu gosto da Leopoldina.
– Realmente, ela foi uma mãe para você.
– Não foi? Por isso é que estou muito chateado comigo mesmo.
– Não entendo, Nicanor.
– A Leopoldina está me convidando a pagar mais vinte cruzeiros pela passagem.
– Então? Não é justo?
– Justo ela diz que é, mas eu não acho não.
– Nicanor!
– Vou ligar o rádio de pilha para o senhor escutar. Não, faz muito barulho, eu resumo, eu resumo. A Leopoldina e a Central vendem por dia oitocentos e vinte mil passagens a dez cruzeiros. Cada passagem custa, batata, sessenta cruzeiros. O prejuízo é de quarenta e um milhões por dia. Então elas propõem à gente rachar o prejuízo, cobrando trinta cruzeiros.
– Boa solução.
– Boa como, se a estrada, quando tudo aumenta duzentos por cento, cobra só metade do custo da passagem, e a gente agora fica sabendo que está roubando dela?
– Roubando nada, Nicanor. Ela mesma é que queria o prejuízo. Você não vai fazer a greve de passageiro por causa disso?
– Aí é que está. Não posso aceitar este sacrifício da Leopoldina, mas vir de a pé é fogo, e de táxi só se eu fosse o motorista ou o atropelado.
– Esqueça essas coisas. Excesso de escrúpulo é doença.
– Ela própria é que me bota isso na cabeça, gritando no rádio e na televisão, de cinco em cinco minutos: “É justo você pagar mais por um chope do que por uma passagem de subúrbio? É justo? É justo?”. Aí, eu respondo cá dentro que não. Aí ela grita que o justo é pagar a metade da passagem. Aí, com a ideia de justiça me formigando na sinagoga, eu sinto que o justo é pagar o preço exato, e fico danado comigo porque, verdade verdade, prefiro pagar trinta a sessenta, e se possível continuar mesmo nos dez, que que há? Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: “Cobra logo sessenta! Cento e vinte!”.
Ia explicar a Nicanor que ele sempre pagou muito mais do que dez cruzeiros pela passagem; que, sem perceber, paga o preço de uma cervejaria, e nós também, que não viajamos pela Rede Ferroviária Federal; todos pagamos o déficit. Mas preferi oferecer-lhe um chope, no balcão.
– E quem disse que eu bebo? Penso logo no trem e sinto remorso. Aí, perde o sabor.
(Caminhos de João Brandão, 2016.)
Considerando as reflexões do narrador, constitui exemplo de hipérbole o verbo sublinhado em
Leia a crônica “O chope e a passagem”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência. Um caso com a Leopoldina.
– Entrou mulher na sua vida, Nicanor? Casado há tão pouco tempo!
– Não senhor, Leopoldina é a estrada de ferro.
Sucede que Nicanor mora – morar é força de expressão, ele passa a noite – lá para as bandas de Cordovil, e vem para o batente no trem de subúrbio da Leopoldina. Paga pelo transporte a inexistente, a irreal quantia de dez cruzeiros.
– Eu achava barato, pra que vou mentir ao senhor que não achava? Me parecia uma camaradagem especial, uma largueza de quem pode pra quem não pode; até rico tem disso, quando está bêbedo. Era o único troço barato na vida. Como tudo mais está pela hora da morte, ficava uma coisa pela outra, quer dizer, não chegava a ficar, mas amolecia. E eu gostava, eu gosto da Leopoldina.
– Realmente, ela foi uma mãe para você.
– Não foi? Por isso é que estou muito chateado comigo mesmo.
– Não entendo, Nicanor.
– A Leopoldina está me convidando a pagar mais vinte cruzeiros pela passagem.
– Então? Não é justo?
– Justo ela diz que é, mas eu não acho não.
– Nicanor!
– Vou ligar o rádio de pilha para o senhor escutar. Não, faz muito barulho, eu resumo, eu resumo. A Leopoldina e a Central vendem por dia oitocentos e vinte mil passagens a dez cruzeiros. Cada passagem custa, batata, sessenta cruzeiros. O prejuízo é de quarenta e um milhões por dia. Então elas propõem à gente rachar o prejuízo, cobrando trinta cruzeiros.
– Boa solução.
– Boa como, se a estrada, quando tudo aumenta duzentos por cento, cobra só metade do custo da passagem, e a gente agora fica sabendo que está roubando dela?
– Roubando nada, Nicanor. Ela mesma é que queria o prejuízo. Você não vai fazer a greve de passageiro por causa disso?
– Aí é que está. Não posso aceitar este sacrifício da Leopoldina, mas vir de a pé é fogo, e de táxi só se eu fosse o motorista ou o atropelado.
– Esqueça essas coisas. Excesso de escrúpulo é doença.
– Ela própria é que me bota isso na cabeça, gritando no rádio e na televisão, de cinco em cinco minutos: “É justo você pagar mais por um chope do que por uma passagem de subúrbio? É justo? É justo?”. Aí, eu respondo cá dentro que não. Aí ela grita que o justo é pagar a metade da passagem. Aí, com a ideia de justiça me formigando na sinagoga, eu sinto que o justo é pagar o preço exato, e fico danado comigo porque, verdade verdade, prefiro pagar trinta a sessenta, e se possível continuar mesmo nos dez, que que há? Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: “Cobra logo sessenta! Cento e vinte!”.
Ia explicar a Nicanor que ele sempre pagou muito mais do que dez cruzeiros pela passagem; que, sem perceber, paga o preço de uma cervejaria, e nós também, que não viajamos pela Rede Ferroviária Federal; todos pagamos o déficit. Mas preferi oferecer-lhe um chope, no balcão.
– E quem disse que eu bebo? Penso logo no trem e sinto remorso. Aí, perde o sabor.
(Caminhos de João Brandão, 2016.)
Considerando o contexto, verifica-se o emprego de expressão própria da linguagem coloquial em
Leia a crônica “O chope e a passagem”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência. Um caso com a Leopoldina.
– Entrou mulher na sua vida, Nicanor? Casado há tão pouco tempo!
– Não senhor, Leopoldina é a estrada de ferro.
Sucede que Nicanor mora – morar é força de expressão, ele passa a noite – lá para as bandas de Cordovil, e vem para o batente no trem de subúrbio da Leopoldina. Paga pelo transporte a inexistente, a irreal quantia de dez cruzeiros.
– Eu achava barato, pra que vou mentir ao senhor que não achava? Me parecia uma camaradagem especial, uma largueza de quem pode pra quem não pode; até rico tem disso, quando está bêbedo. Era o único troço barato na vida. Como tudo mais está pela hora da morte, ficava uma coisa pela outra, quer dizer, não chegava a ficar, mas amolecia. E eu gostava, eu gosto da Leopoldina.
– Realmente, ela foi uma mãe para você.
– Não foi? Por isso é que estou muito chateado comigo mesmo.
– Não entendo, Nicanor.
– A Leopoldina está me convidando a pagar mais vinte cruzeiros pela passagem.
– Então? Não é justo?
– Justo ela diz que é, mas eu não acho não.
– Nicanor!
– Vou ligar o rádio de pilha para o senhor escutar. Não, faz muito barulho, eu resumo, eu resumo. A Leopoldina e a Central vendem por dia oitocentos e vinte mil passagens a dez cruzeiros. Cada passagem custa, batata, sessenta cruzeiros. O prejuízo é de quarenta e um milhões por dia. Então elas propõem à gente rachar o prejuízo, cobrando trinta cruzeiros.
– Boa solução.
– Boa como, se a estrada, quando tudo aumenta duzentos por cento, cobra só metade do custo da passagem, e a gente agora fica sabendo que está roubando dela?
– Roubando nada, Nicanor. Ela mesma é que queria o prejuízo. Você não vai fazer a greve de passageiro por causa disso?
– Aí é que está. Não posso aceitar este sacrifício da Leopoldina, mas vir de a pé é fogo, e de táxi só se eu fosse o motorista ou o atropelado.
– Esqueça essas coisas. Excesso de escrúpulo é doença.
– Ela própria é que me bota isso na cabeça, gritando no rádio e na televisão, de cinco em cinco minutos: “É justo você pagar mais por um chope do que por uma passagem de subúrbio? É justo? É justo?”. Aí, eu respondo cá dentro que não. Aí ela grita que o justo é pagar a metade da passagem. Aí, com a ideia de justiça me formigando na sinagoga, eu sinto que o justo é pagar o preço exato, e fico danado comigo porque, verdade verdade, prefiro pagar trinta a sessenta, e se possível continuar mesmo nos dez, que que há? Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: “Cobra logo sessenta! Cento e vinte!”.
Ia explicar a Nicanor que ele sempre pagou muito mais do que dez cruzeiros pela passagem; que, sem perceber, paga o preço de uma cervejaria, e nós também, que não viajamos pela Rede Ferroviária Federal; todos pagamos o déficit. Mas preferi oferecer-lhe um chope, no balcão.
– E quem disse que eu bebo? Penso logo no trem e sinto remorso. Aí, perde o sabor.
(Caminhos de João Brandão, 2016.)
“Mas aí a demonstração me enche tanto que acabo com vontade de gritar: ‘Cobra logo sessenta! Cento e vinte!’.” (19°parágrafo)
Ao se transpor o trecho para o discurso indireto, o termo sublinhado assume a seguinte forma:
Read the text to answer question.
Brazil’s first homemade satellite will put an extra eye on dwindling Amazon forests
A new Brazilian satellite would allow near-real-time monitoring of Amazonian deforestation.
The fate of Brazil’s satellite program — and the country’s capacity to monitor disappearing Amazon forest — will be decided in 17 minutes and 30 seconds on February 28. That’s the time it will take to launch Amazonia-1, the first satellite entirely developed by the country. If the mission goes well, Brazil will join about 20 countries that have managed the whole chain of design, production, and operation of a satellite. Amazonia-1 will give researchers more frequent updates on deforestation and agricultural activity in the world’s largest tropical rainforest. Nevertheless, other challenges await, since Brazilian scientists deal with increasing cuts in research funding.
The satellite represents “a milestone for Brazil,” says Adenilson Silva, an engineer at Brazil’s National Institute for Space Research (INPE) who leads the mission and will oversee the launch at the Indian space center on the island of Sriharikota. The satellite’s development, which began in 2008, has involved more than a dozen Brazilian companies and an investment of 360 million reais ($60 million) — about one-sixth what it would cost to import ready-to-use equipment, Silva says. Amazonia-1 is the first of three Amazon-monitoring satellites INPE aims to build with the same manufacturing platform.
The new satellite is a 2.5-meter-long metallic cuboid weighing 640 kilograms. It’s loaded with 6 kilometers of cables and three wide-angle cameras capable of detecting any area of deforestation bigger than four soccer fields. A planned launch in 2018 was postponed because of a lack of funding and delays in the supply of key components from collaborating companies.
(Sofia Moutinho. www.sciencemag.org, 26.02.2021. Adapted.)
The Brazilian satellite Amazonia-1
Read the text to answer question.
Brazil’s first homemade satellite will put an extra eye on dwindling Amazon forests
A new Brazilian satellite would allow near-real-time monitoring of Amazonian deforestation.
The fate of Brazil’s satellite program — and the country’s capacity to monitor disappearing Amazon forest — will be decided in 17 minutes and 30 seconds on February 28. That’s the time it will take to launch Amazonia-1, the first satellite entirely developed by the country. If the mission goes well, Brazil will join about 20 countries that have managed the whole chain of design, production, and operation of a satellite. Amazonia-1 will give researchers more frequent updates on deforestation and agricultural activity in the world’s largest tropical rainforest. Nevertheless, other challenges await, since Brazilian scientists deal with increasing cuts in research funding.
The satellite represents “a milestone for Brazil,” says Adenilson Silva, an engineer at Brazil’s National Institute for Space Research (INPE) who leads the mission and will oversee the launch at the Indian space center on the island of Sriharikota. The satellite’s development, which began in 2008, has involved more than a dozen Brazilian companies and an investment of 360 million reais ($60 million) — about one-sixth what it would cost to import ready-to-use equipment, Silva says. Amazonia-1 is the first of three Amazon-monitoring satellites INPE aims to build with the same manufacturing platform.
The new satellite is a 2.5-meter-long metallic cuboid weighing 640 kilograms. It’s loaded with 6 kilometers of cables and three wide-angle cameras capable of detecting any area of deforestation bigger than four soccer fields. A planned launch in 2018 was postponed because of a lack of funding and delays in the supply of key components from collaborating companies.
(Sofia Moutinho. www.sciencemag.org, 26.02.2021. Adapted.)
One of the aims of the satellite Amazonia-1 is to