EPCAR* 2011
48 Questões
Texto
Bruxos, vampiros e avatares
Lya Luft
"A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo"
Cibernéticos e virtuais, nadamos num rio de
novidades e nos consideramos moderníssimos. Um
turbilhão de recursos trazidos pela ciência, pela
tecnologia, nos atrai ou confunde. Se somos mais
[5] velhos, nos faz crer que jamais pegaremos esse bonde
— embora ele seja para todos os que se dispuserem a
nele subir, não necessariamente para ser campeões ou
heróis.
A tecnologia abre territórios fascinantes, e
[10] ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco,
sentiremos medo. O que mais vem por aí, quanto
podemos lidar com essas novidades, sem saber direito
quais são as positivas, quanto servem para promover
progresso ou para nos exterminar ao toque do botão de
[15] algum demente no poder? Exageradamente entregues a
esses jogos cada dia inovados, vamos nos perder da
nossa natureza real, o instinto? Viramos homens e
mulheres pós-modernos, sem saber o que isso significa;
somos cibernéticos, somos twitteiros e blogueiros, mas
[20] não passamos disso. E, se não formos muito
equilibrados, vamos nos transformar em hackers, e o
mundo que exploda.
Sobre a sensação de onipotência que esse
mundo novo nos confere, lembro a história deliciosa do
[25] aborígine que, contratado para guiar o cientista
carregado de instrumentos refinados, disse-lhe: “Você e
sua gente não são muito espertos, porque precisam de
todas essas ferramentas simplesmente para andar no
mato e observar os animais".
[30] Não vamos regredir: a civilização anda
segundo seu próprio arbítrio. Mas, como quase todas as
coisas, seus produtos criam ambiguidade pelo excesso
de aberturas e pelo receio diante do novo, que precisa
ser domesticado, para se tornar nosso servo útil. As
[35] possibilidades do mundo virtual são quase infinitas. Sua
sedução é intensa. Tão enganador quanto fascinante,
no que tange à comunicação. Imenso, variado,
assustador, rumoroso, ameaçador e frio, porque
impessoal. Nesse mundo difuso, somos quase
[40] onipotentes, sem maior responsabilidade, pois cada
ação nem sempre corresponde a uma consequência —
e ainda podemos nos esconder no anonimato. Criam-se
sérias questões morais e éticas não resolvidas nesse
território: através da mesma ferramenta que nos abre
[45] universos e nos comunica com o outro, caluniamos e
somos caluniados, ameaçamos e somos ameaçados,
nos despersonalizamos, nos entregamos a atividades
estranhas, algumas perversas; espiamos, espreitamos,
maldizemos amigos e desconhecidos, odiamos
[50] celebridades, cortamos a cabeça de quem se destaca
porque se torna objeto de inveja e ressentimento,
escutamos mensagens sombrias e cumprimos, talvez,
ordens sinistras.
Relacionamentos pessoais começam e
[55] terminam, bem ou mal, nesse campo virtual — não
muito diferente do mundo dito real, dos bares, festas e
trabalho, faculdade e escola. Para as crianças, esse
universo extenso e invasivo pode ser uma grande
escola, um mestre inesgotável, um salão de jogos
[60] divertido em que elas imediatamente se sentem à
vontade, sem os limites dos adultos. Mas pode ser a
estrada dos pedófilos, a alcova dos doentes, ou a
passagem sobre o limite do natural e lúdico para o
obsessivo e perverso.
[65] Como quase tudo neste mundo nosso, duplo é o
gume: comunicar-se é positivo, mas sinais feitos na
sombra, sem verdadeiro nome nem rosto, podem
acabar em fantasmáticas perseguições e males.
Singularmente, mas de maneira muito significativa,
[70] enquanto estamos velozes e espertos no computador,
criando mundos virtuais, e jogando jogos cada vez mais
complexos, buscamos o nevoeiro desse anonimato e,
na época das maiores inovações, curtimos voar com
bruxos em suas vassouras, namorar vampiros e inventar
[75] avatares que vão de engraçados a sinistros.
Estimulante, múltiplo, tão rico, resta saber o que
vamos fazer nesse novo mundo — ou o que ele vai
fazer de nós. Quando soubermos, estaremos afixados
nele como borboletas presas com alfinete debaixo da
[80] tampa de vidro ou vaga-lumes em potes de geleia
vazios, naquelas noites de verão quando a infância era
apenas aquela, inocente, que ainda espia sobre nossos
ombros.
(Revista Veja, 17 de fevereiro de 2010)
De acordo com o texto, a tecnologia
Texto
Bruxos, vampiros e avatares
Lya Luft
"A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo"
Cibernéticos e virtuais, nadamos num rio de
novidades e nos consideramos moderníssimos. Um
turbilhão de recursos trazidos pela ciência, pela
tecnologia, nos atrai ou confunde. Se somos mais
[5] velhos, nos faz crer que jamais pegaremos esse bonde
— embora ele seja para todos os que se dispuserem a
nele subir, não necessariamente para ser campeões ou
heróis.
A tecnologia abre territórios fascinantes, e
[10] ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco,
sentiremos medo. O que mais vem por aí, quanto
podemos lidar com essas novidades, sem saber direito
quais são as positivas, quanto servem para promover
progresso ou para nos exterminar ao toque do botão de
[15] algum demente no poder? Exageradamente entregues a
esses jogos cada dia inovados, vamos nos perder da
nossa natureza real, o instinto? Viramos homens e
mulheres pós-modernos, sem saber o que isso significa;
somos cibernéticos, somos twitteiros e blogueiros, mas
[20] não passamos disso. E, se não formos muito
equilibrados, vamos nos transformar em hackers, e o
mundo que exploda.
Sobre a sensação de onipotência que esse
mundo novo nos confere, lembro a história deliciosa do
[25] aborígine que, contratado para guiar o cientista
carregado de instrumentos refinados, disse-lhe: “Você e
sua gente não são muito espertos, porque precisam de
todas essas ferramentas simplesmente para andar no
mato e observar os animais".
[30] Não vamos regredir: a civilização anda
segundo seu próprio arbítrio. Mas, como quase todas as
coisas, seus produtos criam ambiguidade pelo excesso
de aberturas e pelo receio diante do novo, que precisa
ser domesticado, para se tornar nosso servo útil. As
[35] possibilidades do mundo virtual são quase infinitas. Sua
sedução é intensa. Tão enganador quanto fascinante,
no que tange à comunicação. Imenso, variado,
assustador, rumoroso, ameaçador e frio, porque
impessoal. Nesse mundo difuso, somos quase
[40] onipotentes, sem maior responsabilidade, pois cada
ação nem sempre corresponde a uma consequência —
e ainda podemos nos esconder no anonimato. Criam-se
sérias questões morais e éticas não resolvidas nesse
território: através da mesma ferramenta que nos abre
[45] universos e nos comunica com o outro, caluniamos e
somos caluniados, ameaçamos e somos ameaçados,
nos despersonalizamos, nos entregamos a atividades
estranhas, algumas perversas; espiamos, espreitamos,
maldizemos amigos e desconhecidos, odiamos
[50] celebridades, cortamos a cabeça de quem se destaca
porque se torna objeto de inveja e ressentimento,
escutamos mensagens sombrias e cumprimos, talvez,
ordens sinistras.
Relacionamentos pessoais começam e
[55] terminam, bem ou mal, nesse campo virtual — não
muito diferente do mundo dito real, dos bares, festas e
trabalho, faculdade e escola. Para as crianças, esse
universo extenso e invasivo pode ser uma grande
escola, um mestre inesgotável, um salão de jogos
[60] divertido em que elas imediatamente se sentem à
vontade, sem os limites dos adultos. Mas pode ser a
estrada dos pedófilos, a alcova dos doentes, ou a
passagem sobre o limite do natural e lúdico para o
obsessivo e perverso.
[65] Como quase tudo neste mundo nosso, duplo é o
gume: comunicar-se é positivo, mas sinais feitos na
sombra, sem verdadeiro nome nem rosto, podem
acabar em fantasmáticas perseguições e males.
Singularmente, mas de maneira muito significativa,
[70] enquanto estamos velozes e espertos no computador,
criando mundos virtuais, e jogando jogos cada vez mais
complexos, buscamos o nevoeiro desse anonimato e,
na época das maiores inovações, curtimos voar com
bruxos em suas vassouras, namorar vampiros e inventar
[75] avatares que vão de engraçados a sinistros.
Estimulante, múltiplo, tão rico, resta saber o que
vamos fazer nesse novo mundo — ou o que ele vai
fazer de nós. Quando soubermos, estaremos afixados
nele como borboletas presas com alfinete debaixo da
[80] tampa de vidro ou vaga-lumes em potes de geleia
vazios, naquelas noites de verão quando a infância era
apenas aquela, inocente, que ainda espia sobre nossos
ombros.
(Revista Veja, 17 de fevereiro de 2010)
Assinale a alternativa em que o trecho apresentado traduz um aspecto positivo em relação à tecnologia.
Texto
Bruxos, vampiros e avatares
Lya Luft
"A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo"
Cibernéticos e virtuais, nadamos num rio de
novidades e nos consideramos moderníssimos. Um
turbilhão de recursos trazidos pela ciência, pela
tecnologia, nos atrai ou confunde. Se somos mais
[5] velhos, nos faz crer que jamais pegaremos esse bonde
— embora ele seja para todos os que se dispuserem a
nele subir, não necessariamente para ser campeões ou
heróis.
A tecnologia abre territórios fascinantes, e
[10] ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco,
sentiremos medo. O que mais vem por aí, quanto
podemos lidar com essas novidades, sem saber direito
quais são as positivas, quanto servem para promover
progresso ou para nos exterminar ao toque do botão de
[15] algum demente no poder? Exageradamente entregues a
esses jogos cada dia inovados, vamos nos perder da
nossa natureza real, o instinto? Viramos homens e
mulheres pós-modernos, sem saber o que isso significa;
somos cibernéticos, somos twitteiros e blogueiros, mas
[20] não passamos disso. E, se não formos muito
equilibrados, vamos nos transformar em hackers, e o
mundo que exploda.
Sobre a sensação de onipotência que esse
mundo novo nos confere, lembro a história deliciosa do
[25] aborígine que, contratado para guiar o cientista
carregado de instrumentos refinados, disse-lhe: “Você e
sua gente não são muito espertos, porque precisam de
todas essas ferramentas simplesmente para andar no
mato e observar os animais".
[30] Não vamos regredir: a civilização anda
segundo seu próprio arbítrio. Mas, como quase todas as
coisas, seus produtos criam ambiguidade pelo excesso
de aberturas e pelo receio diante do novo, que precisa
ser domesticado, para se tornar nosso servo útil. As
[35] possibilidades do mundo virtual são quase infinitas. Sua
sedução é intensa. Tão enganador quanto fascinante,
no que tange à comunicação. Imenso, variado,
assustador, rumoroso, ameaçador e frio, porque
impessoal. Nesse mundo difuso, somos quase
[40] onipotentes, sem maior responsabilidade, pois cada
ação nem sempre corresponde a uma consequência —
e ainda podemos nos esconder no anonimato. Criam-se
sérias questões morais e éticas não resolvidas nesse
território: através da mesma ferramenta que nos abre
[45] universos e nos comunica com o outro, caluniamos e
somos caluniados, ameaçamos e somos ameaçados,
nos despersonalizamos, nos entregamos a atividades
estranhas, algumas perversas; espiamos, espreitamos,
maldizemos amigos e desconhecidos, odiamos
[50] celebridades, cortamos a cabeça de quem se destaca
porque se torna objeto de inveja e ressentimento,
escutamos mensagens sombrias e cumprimos, talvez,
ordens sinistras.
Relacionamentos pessoais começam e
[55] terminam, bem ou mal, nesse campo virtual — não
muito diferente do mundo dito real, dos bares, festas e
trabalho, faculdade e escola. Para as crianças, esse
universo extenso e invasivo pode ser uma grande
escola, um mestre inesgotável, um salão de jogos
[60] divertido em que elas imediatamente se sentem à
vontade, sem os limites dos adultos. Mas pode ser a
estrada dos pedófilos, a alcova dos doentes, ou a
passagem sobre o limite do natural e lúdico para o
obsessivo e perverso.
[65] Como quase tudo neste mundo nosso, duplo é o
gume: comunicar-se é positivo, mas sinais feitos na
sombra, sem verdadeiro nome nem rosto, podem
acabar em fantasmáticas perseguições e males.
Singularmente, mas de maneira muito significativa,
[70] enquanto estamos velozes e espertos no computador,
criando mundos virtuais, e jogando jogos cada vez mais
complexos, buscamos o nevoeiro desse anonimato e,
na época das maiores inovações, curtimos voar com
bruxos em suas vassouras, namorar vampiros e inventar
[75] avatares que vão de engraçados a sinistros.
Estimulante, múltiplo, tão rico, resta saber o que
vamos fazer nesse novo mundo — ou o que ele vai
fazer de nós. Quando soubermos, estaremos afixados
nele como borboletas presas com alfinete debaixo da
[80] tampa de vidro ou vaga-lumes em potes de geleia
vazios, naquelas noites de verão quando a infância era
apenas aquela, inocente, que ainda espia sobre nossos
ombros.
(Revista Veja, 17 de fevereiro de 2010)
Segundo o texto, é INCORRETO afirmar que
Texto
Bruxos, vampiros e avatares
Lya Luft
"A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo"
Cibernéticos e virtuais, nadamos num rio de
novidades e nos consideramos moderníssimos. Um
turbilhão de recursos trazidos pela ciência, pela
tecnologia, nos atrai ou confunde. Se somos mais
[5] velhos, nos faz crer que jamais pegaremos esse bonde
— embora ele seja para todos os que se dispuserem a
nele subir, não necessariamente para ser campeões ou
heróis.
A tecnologia abre territórios fascinantes, e
[10] ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco,
sentiremos medo. O que mais vem por aí, quanto
podemos lidar com essas novidades, sem saber direito
quais são as positivas, quanto servem para promover
progresso ou para nos exterminar ao toque do botão de
[15] algum demente no poder? Exageradamente entregues a
esses jogos cada dia inovados, vamos nos perder da
nossa natureza real, o instinto? Viramos homens e
mulheres pós-modernos, sem saber o que isso significa;
somos cibernéticos, somos twitteiros e blogueiros, mas
[20] não passamos disso. E, se não formos muito
equilibrados, vamos nos transformar em hackers, e o
mundo que exploda.
Sobre a sensação de onipotência que esse
mundo novo nos confere, lembro a história deliciosa do
[25] aborígine que, contratado para guiar o cientista
carregado de instrumentos refinados, disse-lhe: “Você e
sua gente não são muito espertos, porque precisam de
todas essas ferramentas simplesmente para andar no
mato e observar os animais".
[30] Não vamos regredir: a civilização anda
segundo seu próprio arbítrio. Mas, como quase todas as
coisas, seus produtos criam ambiguidade pelo excesso
de aberturas e pelo receio diante do novo, que precisa
ser domesticado, para se tornar nosso servo útil. As
[35] possibilidades do mundo virtual são quase infinitas. Sua
sedução é intensa. Tão enganador quanto fascinante,
no que tange à comunicação. Imenso, variado,
assustador, rumoroso, ameaçador e frio, porque
impessoal. Nesse mundo difuso, somos quase
[40] onipotentes, sem maior responsabilidade, pois cada
ação nem sempre corresponde a uma consequência —
e ainda podemos nos esconder no anonimato. Criam-se
sérias questões morais e éticas não resolvidas nesse
território: através da mesma ferramenta que nos abre
[45] universos e nos comunica com o outro, caluniamos e
somos caluniados, ameaçamos e somos ameaçados,
nos despersonalizamos, nos entregamos a atividades
estranhas, algumas perversas; espiamos, espreitamos,
maldizemos amigos e desconhecidos, odiamos
[50] celebridades, cortamos a cabeça de quem se destaca
porque se torna objeto de inveja e ressentimento,
escutamos mensagens sombrias e cumprimos, talvez,
ordens sinistras.
Relacionamentos pessoais começam e
[55] terminam, bem ou mal, nesse campo virtual — não
muito diferente do mundo dito real, dos bares, festas e
trabalho, faculdade e escola. Para as crianças, esse
universo extenso e invasivo pode ser uma grande
escola, um mestre inesgotável, um salão de jogos
[60] divertido em que elas imediatamente se sentem à
vontade, sem os limites dos adultos. Mas pode ser a
estrada dos pedófilos, a alcova dos doentes, ou a
passagem sobre o limite do natural e lúdico para o
obsessivo e perverso.
[65] Como quase tudo neste mundo nosso, duplo é o
gume: comunicar-se é positivo, mas sinais feitos na
sombra, sem verdadeiro nome nem rosto, podem
acabar em fantasmáticas perseguições e males.
Singularmente, mas de maneira muito significativa,
[70] enquanto estamos velozes e espertos no computador,
criando mundos virtuais, e jogando jogos cada vez mais
complexos, buscamos o nevoeiro desse anonimato e,
na época das maiores inovações, curtimos voar com
bruxos em suas vassouras, namorar vampiros e inventar
[75] avatares que vão de engraçados a sinistros.
Estimulante, múltiplo, tão rico, resta saber o que
vamos fazer nesse novo mundo — ou o que ele vai
fazer de nós. Quando soubermos, estaremos afixados
nele como borboletas presas com alfinete debaixo da
[80] tampa de vidro ou vaga-lumes em potes de geleia
vazios, naquelas noites de verão quando a infância era
apenas aquela, inocente, que ainda espia sobre nossos
ombros.
(Revista Veja, 17 de fevereiro de 2010)
Assinale a alternativa que apresenta uma figura de linguagem DIFERENTE da apresentada nas outras opções.
Texto
Bruxos, vampiros e avatares
Lya Luft
"A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo"
Cibernéticos e virtuais, nadamos num rio de
novidades e nos consideramos moderníssimos. Um
turbilhão de recursos trazidos pela ciência, pela
tecnologia, nos atrai ou confunde. Se somos mais
[5] velhos, nos faz crer que jamais pegaremos esse bonde
— embora ele seja para todos os que se dispuserem a
nele subir, não necessariamente para ser campeões ou
heróis.
A tecnologia abre territórios fascinantes, e
[10] ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco,
sentiremos medo. O que mais vem por aí, quanto
podemos lidar com essas novidades, sem saber direito
quais são as positivas, quanto servem para promover
progresso ou para nos exterminar ao toque do botão de
[15] algum demente no poder? Exageradamente entregues a
esses jogos cada dia inovados, vamos nos perder da
nossa natureza real, o instinto? Viramos homens e
mulheres pós-modernos, sem saber o que isso significa;
somos cibernéticos, somos twitteiros e blogueiros, mas
[20] não passamos disso. E, se não formos muito
equilibrados, vamos nos transformar em hackers, e o
mundo que exploda.
Sobre a sensação de onipotência que esse
mundo novo nos confere, lembro a história deliciosa do
[25] aborígine que, contratado para guiar o cientista
carregado de instrumentos refinados, disse-lhe: “Você e
sua gente não são muito espertos, porque precisam de
todas essas ferramentas simplesmente para andar no
mato e observar os animais".
[30] Não vamos regredir: a civilização anda
segundo seu próprio arbítrio. Mas, como quase todas as
coisas, seus produtos criam ambiguidade pelo excesso
de aberturas e pelo receio diante do novo, que precisa
ser domesticado, para se tornar nosso servo útil. As
[35] possibilidades do mundo virtual são quase infinitas. Sua
sedução é intensa. Tão enganador quanto fascinante,
no que tange à comunicação. Imenso, variado,
assustador, rumoroso, ameaçador e frio, porque
impessoal. Nesse mundo difuso, somos quase
[40] onipotentes, sem maior responsabilidade, pois cada
ação nem sempre corresponde a uma consequência —
e ainda podemos nos esconder no anonimato. Criam-se
sérias questões morais e éticas não resolvidas nesse
território: através da mesma ferramenta que nos abre
[45] universos e nos comunica com o outro, caluniamos e
somos caluniados, ameaçamos e somos ameaçados,
nos despersonalizamos, nos entregamos a atividades
estranhas, algumas perversas; espiamos, espreitamos,
maldizemos amigos e desconhecidos, odiamos
[50] celebridades, cortamos a cabeça de quem se destaca
porque se torna objeto de inveja e ressentimento,
escutamos mensagens sombrias e cumprimos, talvez,
ordens sinistras.
Relacionamentos pessoais começam e
[55] terminam, bem ou mal, nesse campo virtual — não
muito diferente do mundo dito real, dos bares, festas e
trabalho, faculdade e escola. Para as crianças, esse
universo extenso e invasivo pode ser uma grande
escola, um mestre inesgotável, um salão de jogos
[60] divertido em que elas imediatamente se sentem à
vontade, sem os limites dos adultos. Mas pode ser a
estrada dos pedófilos, a alcova dos doentes, ou a
passagem sobre o limite do natural e lúdico para o
obsessivo e perverso.
[65] Como quase tudo neste mundo nosso, duplo é o
gume: comunicar-se é positivo, mas sinais feitos na
sombra, sem verdadeiro nome nem rosto, podem
acabar em fantasmáticas perseguições e males.
Singularmente, mas de maneira muito significativa,
[70] enquanto estamos velozes e espertos no computador,
criando mundos virtuais, e jogando jogos cada vez mais
complexos, buscamos o nevoeiro desse anonimato e,
na época das maiores inovações, curtimos voar com
bruxos em suas vassouras, namorar vampiros e inventar
[75] avatares que vão de engraçados a sinistros.
Estimulante, múltiplo, tão rico, resta saber o que
vamos fazer nesse novo mundo — ou o que ele vai
fazer de nós. Quando soubermos, estaremos afixados
nele como borboletas presas com alfinete debaixo da
[80] tampa de vidro ou vaga-lumes em potes de geleia
vazios, naquelas noites de verão quando a infância era
apenas aquela, inocente, que ainda espia sobre nossos
ombros.
(Revista Veja, 17 de fevereiro de 2010)
Assinale a alternativa em que a relação semântica apresentada nos parênteses NÃO está presente no excerto analisado.
Texto
Bruxos, vampiros e avatares
Lya Luft
"A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo"
Cibernéticos e virtuais, nadamos num rio de
novidades e nos consideramos moderníssimos. Um
turbilhão de recursos trazidos pela ciência, pela
tecnologia, nos atrai ou confunde. Se somos mais
[5] velhos, nos faz crer que jamais pegaremos esse bonde
— embora ele seja para todos os que se dispuserem a
nele subir, não necessariamente para ser campeões ou
heróis.
A tecnologia abre territórios fascinantes, e
[10] ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco,
sentiremos medo. O que mais vem por aí, quanto
podemos lidar com essas novidades, sem saber direito
quais são as positivas, quanto servem para promover
progresso ou para nos exterminar ao toque do botão de
[15] algum demente no poder? Exageradamente entregues a
esses jogos cada dia inovados, vamos nos perder da
nossa natureza real, o instinto? Viramos homens e
mulheres pós-modernos, sem saber o que isso significa;
somos cibernéticos, somos twitteiros e blogueiros, mas
[20] não passamos disso. E, se não formos muito
equilibrados, vamos nos transformar em hackers, e o
mundo que exploda.
Sobre a sensação de onipotência que esse
mundo novo nos confere, lembro a história deliciosa do
[25] aborígine que, contratado para guiar o cientista
carregado de instrumentos refinados, disse-lhe: “Você e
sua gente não são muito espertos, porque precisam de
todas essas ferramentas simplesmente para andar no
mato e observar os animais".
[30] Não vamos regredir: a civilização anda
segundo seu próprio arbítrio. Mas, como quase todas as
coisas, seus produtos criam ambiguidade pelo excesso
de aberturas e pelo receio diante do novo, que precisa
ser domesticado, para se tornar nosso servo útil. As
[35] possibilidades do mundo virtual são quase infinitas. Sua
sedução é intensa. Tão enganador quanto fascinante,
no que tange à comunicação. Imenso, variado,
assustador, rumoroso, ameaçador e frio, porque
impessoal. Nesse mundo difuso, somos quase
[40] onipotentes, sem maior responsabilidade, pois cada
ação nem sempre corresponde a uma consequência —
e ainda podemos nos esconder no anonimato. Criam-se
sérias questões morais e éticas não resolvidas nesse
território: através da mesma ferramenta que nos abre
[45] universos e nos comunica com o outro, caluniamos e
somos caluniados, ameaçamos e somos ameaçados,
nos despersonalizamos, nos entregamos a atividades
estranhas, algumas perversas; espiamos, espreitamos,
maldizemos amigos e desconhecidos, odiamos
[50] celebridades, cortamos a cabeça de quem se destaca
porque se torna objeto de inveja e ressentimento,
escutamos mensagens sombrias e cumprimos, talvez,
ordens sinistras.
Relacionamentos pessoais começam e
[55] terminam, bem ou mal, nesse campo virtual — não
muito diferente do mundo dito real, dos bares, festas e
trabalho, faculdade e escola. Para as crianças, esse
universo extenso e invasivo pode ser uma grande
escola, um mestre inesgotável, um salão de jogos
[60] divertido em que elas imediatamente se sentem à
vontade, sem os limites dos adultos. Mas pode ser a
estrada dos pedófilos, a alcova dos doentes, ou a
passagem sobre o limite do natural e lúdico para o
obsessivo e perverso.
[65] Como quase tudo neste mundo nosso, duplo é o
gume: comunicar-se é positivo, mas sinais feitos na
sombra, sem verdadeiro nome nem rosto, podem
acabar em fantasmáticas perseguições e males.
Singularmente, mas de maneira muito significativa,
[70] enquanto estamos velozes e espertos no computador,
criando mundos virtuais, e jogando jogos cada vez mais
complexos, buscamos o nevoeiro desse anonimato e,
na época das maiores inovações, curtimos voar com
bruxos em suas vassouras, namorar vampiros e inventar
[75] avatares que vão de engraçados a sinistros.
Estimulante, múltiplo, tão rico, resta saber o que
vamos fazer nesse novo mundo — ou o que ele vai
fazer de nós. Quando soubermos, estaremos afixados
nele como borboletas presas com alfinete debaixo da
[80] tampa de vidro ou vaga-lumes em potes de geleia
vazios, naquelas noites de verão quando a infância era
apenas aquela, inocente, que ainda espia sobre nossos
ombros.
(Revista Veja, 17 de fevereiro de 2010)
Assinale a alternativa em que a reescrita do período NÃO afeta o seu conteúdo semântico nem o gramatical.