UEMA 2017 PAES
65 Questões
Texto
XXXII
[...]
(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa – existir claramente,
E saber fazê-lo sem pensar nisso. [...]
CAEIRO, Alberto. O guardador de rebanhos. Belém, PA: Ed. Estudos Amazônicos, 2012.
Depreende-se pela leitura do fragmento que o mundo para o eu poético é viver
Texto II
[...]
Almiro foi o primeiro dos Capitães da Areia que caiu com alastrim. Uma noite, quando o negrinho Barandão o procurou no seu canto para fazer o amor (aquele amor que Pedro Bala proibira no trapiche),
Almiro lhe disse:
– Tou com uma coceira danada.
Mostrou os braços já cheios de bolhas a Barandão:
– Parece que também tou queimando de febre.
[...]
Os meninos foram se levantando aos poucos e se afastando receosos do lugar onde estava Almiro. Este começou a soluçar. Pedro Bala não tinha chegado ainda. Professor, o Gato e João Grande também andavam por fora. Daí ter sido o Sem-Pernas quem dominou a situação. O Sem-Pernas nestes últimos tempos andava cada vez mais arredio, quase não falava com ninguém. Fazia espantosas burlas de todo mundo, por tudo puxava uma briga, [...]
Barandão o olhou assustado. Depois, Sem-Pernas falou para todos, apontando Almiro com o dedo:
– Ninguém aqui vai ficar bexiguento só por causa deste fresco.
Todos o olhavam, esperando o que ele diria. Almiro soluçava, as mãos no rosto, encolhido na parede. Sem-pernas falava:
– Ele vai sair daqui agorinha mesmo. Vai se meter em qualquer canto da rua até que os mata-cachorro da saúde pegue ele e leve pro lazareto.
– Não. Não – rugiu Almiro.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Embora a narrativa de Capitães da Areia seja em 3ª pessoa, o narrador utiliza estratégias para revelar pontos de vista individualizados ou dar enfoque explicativo a um dado que julga importante.
Essa característica está exemplificada no trecho:
Texto II
[...]
Almiro foi o primeiro dos Capitães da Areia que caiu com alastrim. Uma noite, quando o negrinho Barandão o procurou no seu canto para fazer o amor (aquele amor que Pedro Bala proibira no trapiche),
Almiro lhe disse:
– Tou com uma coceira danada.
Mostrou os braços já cheios de bolhas a Barandão:
– Parece que também tou queimando de febre.
[...]
Os meninos foram se levantando aos poucos e se afastando receosos do lugar onde estava Almiro. Este começou a soluçar. Pedro Bala não tinha chegado ainda. Professor, o Gato e João Grande também andavam por fora. Daí ter sido o Sem-Pernas quem dominou a situação. O Sem-Pernas nestes últimos tempos andava cada vez mais arredio, quase não falava com ninguém. Fazia espantosas burlas de todo mundo, por tudo puxava uma briga, [...]
Barandão o olhou assustado. Depois, Sem-Pernas falou para todos, apontando Almiro com o dedo:
– Ninguém aqui vai ficar bexiguento só por causa deste fresco.
Todos o olhavam, esperando o que ele diria. Almiro soluçava, as mãos no rosto, encolhido na parede. Sem-pernas falava:
– Ele vai sair daqui agorinha mesmo. Vai se meter em qualquer canto da rua até que os mata-cachorro da saúde pegue ele e leve pro lazareto.
– Não. Não – rugiu Almiro.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
O narrador explora a fluidez da linguagem popular para estabelecer sua sintaxe, operando na ligação de frases ou de porções textuais com marcador discursivo, típico da oralidade, a exemplo de
Texto II
[...]
Almiro foi o primeiro dos Capitães da Areia que caiu com alastrim. Uma noite, quando o negrinho Barandão o procurou no seu canto para fazer o amor (aquele amor que Pedro Bala proibira no trapiche),
Almiro lhe disse:
– Tou com uma coceira danada.
Mostrou os braços já cheios de bolhas a Barandão:
– Parece que também tou queimando de febre.
[...]
Os meninos foram se levantando aos poucos e se afastando receosos do lugar onde estava Almiro. Este começou a soluçar. Pedro Bala não tinha chegado ainda. Professor, o Gato e João Grande também andavam por fora. Daí ter sido o Sem-Pernas quem dominou a situação. O Sem-Pernas nestes últimos tempos andava cada vez mais arredio, quase não falava com ninguém. Fazia espantosas burlas de todo mundo, por tudo puxava uma briga, [...]
Barandão o olhou assustado. Depois, Sem-Pernas falou para todos, apontando Almiro com o dedo:
– Ninguém aqui vai ficar bexiguento só por causa deste fresco.
Todos o olhavam, esperando o que ele diria. Almiro soluçava, as mãos no rosto, encolhido na parede. Sem-pernas falava:
– Ele vai sair daqui agorinha mesmo. Vai se meter em qualquer canto da rua até que os mata-cachorro da saúde pegue ele e leve pro lazareto.
– Não. Não – rugiu Almiro.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Na linguagem informal de “Sem-Pernas”, o termo “agorinha”, em “– Ele vai sair daqui agorinha mesmo”, embora apresente um sufixo próprio do grau do substantivo, possibilita entender, pelo contexto, que essa construção de advérbio conota uma ideia
Texto III
[...]
A revolução chama Pedro Bala como Deus chamava Pirulito nas noites do trapiche. É uma voz poderosa dentro dele, poderosa como a voz do mar, como a voz do vento, tão poderosa como uma voz sem comparação. Como a voz de um negro que canta num saveiro o samba que Boa-Vida fez: Companheiros, chegou a hora...
A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma voz que atravessa a cidade, que parece vir dos atabaques que ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. [...] Voz que vem do trapiche dos Capitães da Areia. Que vem do reformatório e do orfanato. [...] Voz poderosa como nenhuma outra. Porque é uma voz que chama para lutar por todos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta. Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, [...]. Voz que traz o bem maior do mundo, mesmo maior que o sol: a liberdade. A cidade no dia de primavera é deslumbradoramente bela. Uma voz de mulher canta a canção da Bahia. Canção da beleza da Bahia. Dentro de Pedro Bala uma voz o chama: voz que traz para a canção da Bahia, a canção da liberdade. Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidade pobre da Bahia, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Ao incorporar a suposta voz interior de Pedro Bala, o narrador, do ponto de vista da linguagem, constrói um discurso em que predominam
Texto
[...]
A revolução chama Pedro Bala como Deus chamava Pirulito nas noites do trapiche. É uma voz poderosa dentro dele, poderosa como a voz do mar, como a voz do vento, tão poderosa como uma voz sem comparação. Como a voz de um negro que canta num saveiro o samba que Boa-Vida fez:
Companheiros, chegou a hora...
A voz o chama. Uma voz que o alegra, que faz bater seu coração. Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma voz que atravessa a cidade, que parece vir dos atabaques que ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros. [...] Voz que vem do trapiche dos Capitães da Areia. Que vem do reformatório e do orfanato. [...] Voz poderosa como nenhuma outra. Porque é uma voz que chama para lutar por todos, pelo destino de todos, sem exceção. Voz poderosa como nenhuma outra. Voz que atravessa a cidade e vem de todos os lados. Voz que traz com ela uma festa, que faz o inverno acabar lá fora e ser a primavera. A primavera da luta. Voz que chama Pedro Bala, que o leva para a luta. Voz que vem de todos os peitos esfomeados da cidade, [...]. Voz que traz o bem maior do mundo, mesmo maior que o sol: a liberdade. A cidade no dia de primavera é deslumbradoramente bela. Uma voz de mulher canta a canção da Bahia. Canção da beleza da Bahia. Dentro de Pedro Bala uma voz o chama: voz que traz para a canção da Bahia, a canção da liberdade. Voz poderosa que o chama. Voz de toda a cidade pobre da Bahia, voz da liberdade. A revolução chama Pedro Bala.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Texto
XXXII
Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
[...]
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
[...]
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?
CAEIRO, Alberto. O guardador de rebanhos. Belém, PA: Ed. Estudos Amazônicos, 2012.
Leia os textos para responder à questão.
Da análise comparativa dos textos, pode-se afirmar a existência de