FREUD NO ESCÂNER
No fim do século 19, quando esboçou os primeiros traços da psicanálise,
Sigmund Freud talvez tivesse dado tudo por um equipamento de ressonância
magnética para observar o cérebro em funcionamento. Depois de ouvir dezenas de
pacientes em seu divã, o médico percebeu que eles agiam em desacordo com a
[5] própria vontade em uma série de ocasiões. Queriam ser mais pacientes, mas não
eram. Tentavam ser fiéis, sem sucesso. Desejavam fazer (ou não fazer) uma série de
coisas que não conseguiam. Ele concluiu, então, que havia outra fonte de vontade
dentro da mente humana, profunda, que enviava mensagens cruzadas e confundia as
pessoas. Ele batizou-a de inconsciente dinâmico. Mas, como a ciência rejeita os
[10] dogmas, não faltou quem exigisse provas concretas. Provas que, com as limitações
técnicas da época, Freud não pôde dar.
Um professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, Srinivasan
Pillay, acredita que a ressonância magnética deu ao mundo essa garantia tão
almejada. “Se Freud estivesse vivo hoje, na era da neurociência, uma série de coisas
[15] teriam sido diferentes. Para começar, ele não teria enfrentado tanto ceticismo. As
pessoas dariam mais crédito à sua teoria porque teriam evidências de que o
inconsciente existe e nos move silenciosamente”, argumenta o psicoterapeuta.
Pillay faz parte de um movimento científico amplo que tem encontrado nas novas
tecnologias e na neurociência formas de decifrar o inconsciente. Fotografando e
[20] analisando esses processos cerebrais, esses pesquisadores esperam aperfeiçoar as
terapias e a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e problemas. Mas
pesquisa vai, análise química vem, ninguém encontrou ainda os célebres id, ego e
superego, tríade fundamental do inconsciente freudiano. Isso tem levado muitos
especialistas a questionar: será que Freud explica mesmo?
[25] Não importa quem participe da discussão, Freud começa com um ponto a favor
de sua teoria: o inconsciente existe – e como existe. A mais valiosa contribuição de
Freud foi a descoberta de que a mente consciente é simplesmente uma fachada.
Você é completamente inconsciente de 90% do que realmente passa em sua mente.
Existiria um novo inconsciente, diferente daquele de que falava Freud?
[30] “Provavelmente sim e ele é diferente de todas as maneiras possíveis”, defende Ran
Hassin, um dos autores de The new unconscious, uma das obras recentes mais
marcantes que relacionam a psicologia à neurociência. “Nos últimos 30 anos
ocorreram milhares de pesquisas sobre o inconsciente. Podemos ver coisas sem
saber que as estamos vendo? Podemos agir motivados por razões desconhecidas? A
[35] maioria dessas perguntas tem resposta afirmativa, mas a mecânica de tudo isso é
completamente distinta da sugerida por Freud. Temos hoje um modelo mecanicista
muito simples: nada de ego oculto, dramas, nenhum estímulo sexual distorcido em
sua alma.”
Mesmo sem tocar em aspectos controversos como o método e a personalidade
[40] de Freud, as duas principais críticas que a neurociência coloca, hoje, diante da
psicanálise são: o tratamento está incompleto e a divisão da psiquê em três personas
é pouco plausível. “Nunca soube de nenhuma evidência concreta da existência do id,
do superego e do ego. Não faltou quem procurasse por eles, mas ninguém achou
nada que fosse ao menos parecido. Os seres humanos não têm três „pessoas‟ dentro
[45] de si, competindo para controlar suas ações. O quadro hoje estaria muito mais para
20, 30, 40 agentes influenciando o comportamento. E eles não são personalidades
organizadas como Freud pensou que seriam”, analisa Hassin.
Com relação ao tratamento, aponta Pillay, Freud errou ao apostar na repetição.
“Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do cérebro, mais entendemos que
[50] o método de Freud (que é mergulhar no passado para entender o que nos motiva) é
importante, mas não suficiente. Às vezes, se você revirar o passado por tempo
demais, tudo o que fará é dar voltas e ficar paralisado. Isso ocorre porque o circuito
do cérebro fica ainda mais fechado na maneira como vem funcionando”, esclarece o
psicoterapeuta.
[55] Como seria a terapia se Freud a tivesse desenvolvido depois da neurociência?
“Ele também estimularia as pessoas a pensar em soluções para sair dos problemas”,
alega Pillay. “Enquanto se pensa em um futuro melhor, ativam-se as partes do
cérebro que controlam as ações. Aquecidas, essas regiões ganham mais poder para agir.”
[60] Os partidários do novo inconsciente têm ganhado terreno mundialmente,
deixando Brasil e França como os últimos redutos absolutos da psicanálise. Mas não
se trata de uma briga de dois lados. Se a psicanálise se isolar e ignorar as
descobertas da ciência, ela correrá o risco de virar religião. Mas há no Brasil, hoje,
grupos interdisciplinares que buscam fazer com que as duas áreas dialoguem e
[65] alcancem terapias mais eficientes. Abraçar as colaborações desses grupos pode ser
a melhor maneira de provar que, afinal, Freud não tem lá muito medo de ciência.
QUEIROZ, Nana. Correio Braziliense, 1o de abril de 2012. (Texto adaptado)
Desconsideradas eventuais alterações de sentido, assinale a alternativa em que a nova redação NÃO apresenta erro gramatical.
FREUD NO ESCÂNER
No fim do século 19, quando esboçou os primeiros traços da psicanálise,
Sigmund Freud talvez tivesse dado tudo por um equipamento de ressonância
magnética para observar o cérebro em funcionamento. Depois de ouvir dezenas de
pacientes em seu divã, o médico percebeu que eles agiam em desacordo com a
[5] própria vontade em uma série de ocasiões. Queriam ser mais pacientes, mas não
eram. Tentavam ser fiéis, sem sucesso. Desejavam fazer (ou não fazer) uma série de
coisas que não conseguiam. Ele concluiu, então, que havia outra fonte de vontade
dentro da mente humana, profunda, que enviava mensagens cruzadas e confundia as
pessoas. Ele batizou-a de inconsciente dinâmico. Mas, como a ciência rejeita os
[10] dogmas, não faltou quem exigisse provas concretas. Provas que, com as limitações
técnicas da época, Freud não pôde dar.
Um professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, Srinivasan
Pillay, acredita que a ressonância magnética deu ao mundo essa garantia tão
almejada. “Se Freud estivesse vivo hoje, na era da neurociência, uma série de coisas
[15] teriam sido diferentes. Para começar, ele não teria enfrentado tanto ceticismo. As
pessoas dariam mais crédito à sua teoria porque teriam evidências de que o
inconsciente existe e nos move silenciosamente”, argumenta o psicoterapeuta.
Pillay faz parte de um movimento científico amplo que tem encontrado nas novas
tecnologias e na neurociência formas de decifrar o inconsciente. Fotografando e
[20] analisando esses processos cerebrais, esses pesquisadores esperam aperfeiçoar as
terapias e a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e problemas. Mas
pesquisa vai, análise química vem, ninguém encontrou ainda os célebres id, ego e
superego, tríade fundamental do inconsciente freudiano. Isso tem levado muitos
especialistas a questionar: será que Freud explica mesmo?
[25] Não importa quem participe da discussão, Freud começa com um ponto a favor
de sua teoria: o inconsciente existe – e como existe. A mais valiosa contribuição de
Freud foi a descoberta de que a mente consciente é simplesmente uma fachada.
Você é completamente inconsciente de 90% do que realmente passa em sua mente.
Existiria um novo inconsciente, diferente daquele de que falava Freud?
[30] “Provavelmente sim e ele é diferente de todas as maneiras possíveis”, defende Ran
Hassin, um dos autores de The new unconscious, uma das obras recentes mais
marcantes que relacionam a psicologia à neurociência. “Nos últimos 30 anos
ocorreram milhares de pesquisas sobre o inconsciente. Podemos ver coisas sem
saber que as estamos vendo? Podemos agir motivados por razões desconhecidas? A
[35] maioria dessas perguntas tem resposta afirmativa, mas a mecânica de tudo isso é
completamente distinta da sugerida por Freud. Temos hoje um modelo mecanicista
muito simples: nada de ego oculto, dramas, nenhum estímulo sexual distorcido em
sua alma.”
Mesmo sem tocar em aspectos controversos como o método e a personalidade
[40] de Freud, as duas principais críticas que a neurociência coloca, hoje, diante da
psicanálise são: o tratamento está incompleto e a divisão da psiquê em três personas
é pouco plausível. “Nunca soube de nenhuma evidência concreta da existência do id,
do superego e do ego. Não faltou quem procurasse por eles, mas ninguém achou
nada que fosse ao menos parecido. Os seres humanos não têm três „pessoas‟ dentro
[45] de si, competindo para controlar suas ações. O quadro hoje estaria muito mais para
20, 30, 40 agentes influenciando o comportamento. E eles não são personalidades
organizadas como Freud pensou que seriam”, analisa Hassin.
Com relação ao tratamento, aponta Pillay, Freud errou ao apostar na repetição.
“Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do cérebro, mais entendemos que
[50] o método de Freud (que é mergulhar no passado para entender o que nos motiva) é
importante, mas não suficiente. Às vezes, se você revirar o passado por tempo
demais, tudo o que fará é dar voltas e ficar paralisado. Isso ocorre porque o circuito
do cérebro fica ainda mais fechado na maneira como vem funcionando”, esclarece o
psicoterapeuta.
[55] Como seria a terapia se Freud a tivesse desenvolvido depois da neurociência?
“Ele também estimularia as pessoas a pensar em soluções para sair dos problemas”,
alega Pillay. “Enquanto se pensa em um futuro melhor, ativam-se as partes do
cérebro que controlam as ações. Aquecidas, essas regiões ganham mais poder para agir.”
[60] Os partidários do novo inconsciente têm ganhado terreno mundialmente,
deixando Brasil e França como os últimos redutos absolutos da psicanálise. Mas não
se trata de uma briga de dois lados. Se a psicanálise se isolar e ignorar as
descobertas da ciência, ela correrá o risco de virar religião. Mas há no Brasil, hoje,
grupos interdisciplinares que buscam fazer com que as duas áreas dialoguem e
[65] alcancem terapias mais eficientes. Abraçar as colaborações desses grupos pode ser
a melhor maneira de provar que, afinal, Freud não tem lá muito medo de ciência.
QUEIROZ, Nana. Correio Braziliense, 1o de abril de 2012. (Texto adaptado)
Assinale a alternativa que contém uma afirmativa que NÃO pode ser comprovada pelo texto.
FREUD NO ESCÂNER
No fim do século 19, quando esboçou os primeiros traços da psicanálise,
Sigmund Freud talvez tivesse dado tudo por um equipamento de ressonância
magnética para observar o cérebro em funcionamento. Depois de ouvir dezenas de
pacientes em seu divã, o médico percebeu que eles agiam em desacordo com a
[5] própria vontade em uma série de ocasiões. Queriam ser mais pacientes, mas não
eram. Tentavam ser fiéis, sem sucesso. Desejavam fazer (ou não fazer) uma série de
coisas que não conseguiam. Ele concluiu, então, que havia outra fonte de vontade
dentro da mente humana, profunda, que enviava mensagens cruzadas e confundia as
pessoas. Ele batizou-a de inconsciente dinâmico. Mas, como a ciência rejeita os
[10] dogmas, não faltou quem exigisse provas concretas. Provas que, com as limitações
técnicas da época, Freud não pôde dar.
Um professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, Srinivasan
Pillay, acredita que a ressonância magnética deu ao mundo essa garantia tão
almejada. “Se Freud estivesse vivo hoje, na era da neurociência, uma série de coisas
[15] teriam sido diferentes. Para começar, ele não teria enfrentado tanto ceticismo. As
pessoas dariam mais crédito à sua teoria porque teriam evidências de que o
inconsciente existe e nos move silenciosamente”, argumenta o psicoterapeuta.
Pillay faz parte de um movimento científico amplo que tem encontrado nas novas
tecnologias e na neurociência formas de decifrar o inconsciente. Fotografando e
[20] analisando esses processos cerebrais, esses pesquisadores esperam aperfeiçoar as
terapias e a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e problemas. Mas
pesquisa vai, análise química vem, ninguém encontrou ainda os célebres id, ego e
superego, tríade fundamental do inconsciente freudiano. Isso tem levado muitos
especialistas a questionar: será que Freud explica mesmo?
[25] Não importa quem participe da discussão, Freud começa com um ponto a favor
de sua teoria: o inconsciente existe – e como existe. A mais valiosa contribuição de
Freud foi a descoberta de que a mente consciente é simplesmente uma fachada.
Você é completamente inconsciente de 90% do que realmente passa em sua mente.
Existiria um novo inconsciente, diferente daquele de que falava Freud?
[30] “Provavelmente sim e ele é diferente de todas as maneiras possíveis”, defende Ran
Hassin, um dos autores de The new unconscious, uma das obras recentes mais
marcantes que relacionam a psicologia à neurociência. “Nos últimos 30 anos
ocorreram milhares de pesquisas sobre o inconsciente. Podemos ver coisas sem
saber que as estamos vendo? Podemos agir motivados por razões desconhecidas? A
[35] maioria dessas perguntas tem resposta afirmativa, mas a mecânica de tudo isso é
completamente distinta da sugerida por Freud. Temos hoje um modelo mecanicista
muito simples: nada de ego oculto, dramas, nenhum estímulo sexual distorcido em
sua alma.”
Mesmo sem tocar em aspectos controversos como o método e a personalidade
[40] de Freud, as duas principais críticas que a neurociência coloca, hoje, diante da
psicanálise são: o tratamento está incompleto e a divisão da psiquê em três personas
é pouco plausível. “Nunca soube de nenhuma evidência concreta da existência do id,
do superego e do ego. Não faltou quem procurasse por eles, mas ninguém achou
nada que fosse ao menos parecido. Os seres humanos não têm três „pessoas‟ dentro
[45] de si, competindo para controlar suas ações. O quadro hoje estaria muito mais para
20, 30, 40 agentes influenciando o comportamento. E eles não são personalidades
organizadas como Freud pensou que seriam”, analisa Hassin.
Com relação ao tratamento, aponta Pillay, Freud errou ao apostar na repetição.
“Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do cérebro, mais entendemos que
[50] o método de Freud (que é mergulhar no passado para entender o que nos motiva) é
importante, mas não suficiente. Às vezes, se você revirar o passado por tempo
demais, tudo o que fará é dar voltas e ficar paralisado. Isso ocorre porque o circuito
do cérebro fica ainda mais fechado na maneira como vem funcionando”, esclarece o
psicoterapeuta.
[55] Como seria a terapia se Freud a tivesse desenvolvido depois da neurociência?
“Ele também estimularia as pessoas a pensar em soluções para sair dos problemas”,
alega Pillay. “Enquanto se pensa em um futuro melhor, ativam-se as partes do
cérebro que controlam as ações. Aquecidas, essas regiões ganham mais poder para agir.”
[60] Os partidários do novo inconsciente têm ganhado terreno mundialmente,
deixando Brasil e França como os últimos redutos absolutos da psicanálise. Mas não
se trata de uma briga de dois lados. Se a psicanálise se isolar e ignorar as
descobertas da ciência, ela correrá o risco de virar religião. Mas há no Brasil, hoje,
grupos interdisciplinares que buscam fazer com que as duas áreas dialoguem e
[65] alcancem terapias mais eficientes. Abraçar as colaborações desses grupos pode ser
a melhor maneira de provar que, afinal, Freud não tem lá muito medo de ciência.
QUEIROZ, Nana. Correio Braziliense, 1o de abril de 2012. (Texto adaptado)
Assinale a alternativa que contém uma afirmativa que NÃO pode ser comprovada pelo texto.
FREUD NO ESCÂNER
No fim do século 19, quando esboçou os primeiros traços da psicanálise,
Sigmund Freud talvez tivesse dado tudo por um equipamento de ressonância
magnética para observar o cérebro em funcionamento. Depois de ouvir dezenas de
pacientes em seu divã, o médico percebeu que eles agiam em desacordo com a
[5] própria vontade em uma série de ocasiões. Queriam ser mais pacientes, mas não
eram. Tentavam ser fiéis, sem sucesso. Desejavam fazer (ou não fazer) uma série de
coisas que não conseguiam. Ele concluiu, então, que havia outra fonte de vontade
dentro da mente humana, profunda, que enviava mensagens cruzadas e confundia as
pessoas. Ele batizou-a de inconsciente dinâmico. Mas, como a ciência rejeita os
[10] dogmas, não faltou quem exigisse provas concretas. Provas que, com as limitações
técnicas da época, Freud não pôde dar.
Um professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, Srinivasan
Pillay, acredita que a ressonância magnética deu ao mundo essa garantia tão
almejada. “Se Freud estivesse vivo hoje, na era da neurociência, uma série de coisas
[15] teriam sido diferentes. Para começar, ele não teria enfrentado tanto ceticismo. As
pessoas dariam mais crédito à sua teoria porque teriam evidências de que o
inconsciente existe e nos move silenciosamente”, argumenta o psicoterapeuta.
Pillay faz parte de um movimento científico amplo que tem encontrado nas novas
tecnologias e na neurociência formas de decifrar o inconsciente. Fotografando e
[20] analisando esses processos cerebrais, esses pesquisadores esperam aperfeiçoar as
terapias e a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e problemas. Mas
pesquisa vai, análise química vem, ninguém encontrou ainda os célebres id, ego e
superego, tríade fundamental do inconsciente freudiano. Isso tem levado muitos
especialistas a questionar: será que Freud explica mesmo?
[25] Não importa quem participe da discussão, Freud começa com um ponto a favor
de sua teoria: o inconsciente existe – e como existe. A mais valiosa contribuição de
Freud foi a descoberta de que a mente consciente é simplesmente uma fachada.
Você é completamente inconsciente de 90% do que realmente passa em sua mente.
Existiria um novo inconsciente, diferente daquele de que falava Freud?
[30] “Provavelmente sim e ele é diferente de todas as maneiras possíveis”, defende Ran
Hassin, um dos autores de The new unconscious, uma das obras recentes mais
marcantes que relacionam a psicologia à neurociência. “Nos últimos 30 anos
ocorreram milhares de pesquisas sobre o inconsciente. Podemos ver coisas sem
saber que as estamos vendo? Podemos agir motivados por razões desconhecidas? A
[35] maioria dessas perguntas tem resposta afirmativa, mas a mecânica de tudo isso é
completamente distinta da sugerida por Freud. Temos hoje um modelo mecanicista
muito simples: nada de ego oculto, dramas, nenhum estímulo sexual distorcido em
sua alma.”
Mesmo sem tocar em aspectos controversos como o método e a personalidade
[40] de Freud, as duas principais críticas que a neurociência coloca, hoje, diante da
psicanálise são: o tratamento está incompleto e a divisão da psiquê em três personas
é pouco plausível. “Nunca soube de nenhuma evidência concreta da existência do id,
do superego e do ego. Não faltou quem procurasse por eles, mas ninguém achou
nada que fosse ao menos parecido. Os seres humanos não têm três „pessoas‟ dentro
[45] de si, competindo para controlar suas ações. O quadro hoje estaria muito mais para
20, 30, 40 agentes influenciando o comportamento. E eles não são personalidades
organizadas como Freud pensou que seriam”, analisa Hassin.
Com relação ao tratamento, aponta Pillay, Freud errou ao apostar na repetição.
“Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do cérebro, mais entendemos que
[50] o método de Freud (que é mergulhar no passado para entender o que nos motiva) é
importante, mas não suficiente. Às vezes, se você revirar o passado por tempo
demais, tudo o que fará é dar voltas e ficar paralisado. Isso ocorre porque o circuito
do cérebro fica ainda mais fechado na maneira como vem funcionando”, esclarece o
psicoterapeuta.
[55] Como seria a terapia se Freud a tivesse desenvolvido depois da neurociência?
“Ele também estimularia as pessoas a pensar em soluções para sair dos problemas”,
alega Pillay. “Enquanto se pensa em um futuro melhor, ativam-se as partes do
cérebro que controlam as ações. Aquecidas, essas regiões ganham mais poder para agir.”
[60] Os partidários do novo inconsciente têm ganhado terreno mundialmente,
deixando Brasil e França como os últimos redutos absolutos da psicanálise. Mas não
se trata de uma briga de dois lados. Se a psicanálise se isolar e ignorar as
descobertas da ciência, ela correrá o risco de virar religião. Mas há no Brasil, hoje,
grupos interdisciplinares que buscam fazer com que as duas áreas dialoguem e
[65] alcancem terapias mais eficientes. Abraçar as colaborações desses grupos pode ser
a melhor maneira de provar que, afinal, Freud não tem lá muito medo de ciência.
QUEIROZ, Nana. Correio Braziliense, 1o de abril de 2012. (Texto adaptado)
Identifique a alternativa em que a expressão entre colchetes corresponde ao termo sublinhado.
FREUD NO ESCÂNER
No fim do século 19, quando esboçou os primeiros traços da psicanálise,
Sigmund Freud talvez tivesse dado tudo por um equipamento de ressonância
magnética para observar o cérebro em funcionamento. Depois de ouvir dezenas de
pacientes em seu divã, o médico percebeu que eles agiam em desacordo com a
[5] própria vontade em uma série de ocasiões. Queriam ser mais pacientes, mas não
eram. Tentavam ser fiéis, sem sucesso. Desejavam fazer (ou não fazer) uma série de
coisas que não conseguiam. Ele concluiu, então, que havia outra fonte de vontade
dentro da mente humana, profunda, que enviava mensagens cruzadas e confundia as
pessoas. Ele batizou-a de inconsciente dinâmico. Mas, como a ciência rejeita os
[10] dogmas, não faltou quem exigisse provas concretas. Provas que, com as limitações
técnicas da época, Freud não pôde dar.
Um professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, Srinivasan
Pillay, acredita que a ressonância magnética deu ao mundo essa garantia tão
almejada. “Se Freud estivesse vivo hoje, na era da neurociência, uma série de coisas
[15] teriam sido diferentes. Para começar, ele não teria enfrentado tanto ceticismo. As
pessoas dariam mais crédito à sua teoria porque teriam evidências de que o
inconsciente existe e nos move silenciosamente”, argumenta o psicoterapeuta.
Pillay faz parte de um movimento científico amplo que tem encontrado nas novas
tecnologias e na neurociência formas de decifrar o inconsciente. Fotografando e
[20] analisando esses processos cerebrais, esses pesquisadores esperam aperfeiçoar as
terapias e a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e problemas. Mas
pesquisa vai, análise química vem, ninguém encontrou ainda os célebres id, ego e
superego, tríade fundamental do inconsciente freudiano. Isso tem levado muitos
especialistas a questionar: será que Freud explica mesmo?
[25] Não importa quem participe da discussão, Freud começa com um ponto a favor
de sua teoria: o inconsciente existe – e como existe. A mais valiosa contribuição de
Freud foi a descoberta de que a mente consciente é simplesmente uma fachada.
Você é completamente inconsciente de 90% do que realmente passa em sua mente.
Existiria um novo inconsciente, diferente daquele de que falava Freud?
[30] “Provavelmente sim e ele é diferente de todas as maneiras possíveis”, defende Ran
Hassin, um dos autores de The new unconscious, uma das obras recentes mais
marcantes que relacionam a psicologia à neurociência. “Nos últimos 30 anos
ocorreram milhares de pesquisas sobre o inconsciente. Podemos ver coisas sem
saber que as estamos vendo? Podemos agir motivados por razões desconhecidas? A
[35] maioria dessas perguntas tem resposta afirmativa, mas a mecânica de tudo isso é
completamente distinta da sugerida por Freud. Temos hoje um modelo mecanicista
muito simples: nada de ego oculto, dramas, nenhum estímulo sexual distorcido em
sua alma.”
Mesmo sem tocar em aspectos controversos como o método e a personalidade
[40] de Freud, as duas principais críticas que a neurociência coloca, hoje, diante da
psicanálise são: o tratamento está incompleto e a divisão da psiquê em três personas
é pouco plausível. “Nunca soube de nenhuma evidência concreta da existência do id,
do superego e do ego. Não faltou quem procurasse por eles, mas ninguém achou
nada que fosse ao menos parecido. Os seres humanos não têm três „pessoas‟ dentro
[45] de si, competindo para controlar suas ações. O quadro hoje estaria muito mais para
20, 30, 40 agentes influenciando o comportamento. E eles não são personalidades
organizadas como Freud pensou que seriam”, analisa Hassin.
Com relação ao tratamento, aponta Pillay, Freud errou ao apostar na repetição.
“Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do cérebro, mais entendemos que
[50] o método de Freud (que é mergulhar no passado para entender o que nos motiva) é
importante, mas não suficiente. Às vezes, se você revirar o passado por tempo
demais, tudo o que fará é dar voltas e ficar paralisado. Isso ocorre porque o circuito
do cérebro fica ainda mais fechado na maneira como vem funcionando”, esclarece o
psicoterapeuta.
[55] Como seria a terapia se Freud a tivesse desenvolvido depois da neurociência?
“Ele também estimularia as pessoas a pensar em soluções para sair dos problemas”,
alega Pillay. “Enquanto se pensa em um futuro melhor, ativam-se as partes do
cérebro que controlam as ações. Aquecidas, essas regiões ganham mais poder para agir.”
[60] Os partidários do novo inconsciente têm ganhado terreno mundialmente,
deixando Brasil e França como os últimos redutos absolutos da psicanálise. Mas não
se trata de uma briga de dois lados. Se a psicanálise se isolar e ignorar as
descobertas da ciência, ela correrá o risco de virar religião. Mas há no Brasil, hoje,
grupos interdisciplinares que buscam fazer com que as duas áreas dialoguem e
[65] alcancem terapias mais eficientes. Abraçar as colaborações desses grupos pode ser
a melhor maneira de provar que, afinal, Freud não tem lá muito medo de ciência.
QUEIROZ, Nana. Correio Braziliense, 1o de abril de 2012. (Texto adaptado)
Assinale a alternativa em que a nova redação NÃO preservou o sentido básico da ideia original.
FREUD NO ESCÂNER
No fim do século 19, quando esboçou os primeiros traços da psicanálise,
Sigmund Freud talvez tivesse dado tudo por um equipamento de ressonância
magnética para observar o cérebro em funcionamento. Depois de ouvir dezenas de
pacientes em seu divã, o médico percebeu que eles agiam em desacordo com a
[5] própria vontade em uma série de ocasiões. Queriam ser mais pacientes, mas não
eram. Tentavam ser fiéis, sem sucesso. Desejavam fazer (ou não fazer) uma série de
coisas que não conseguiam. Ele concluiu, então, que havia outra fonte de vontade
dentro da mente humana, profunda, que enviava mensagens cruzadas e confundia as
pessoas. Ele batizou-a de inconsciente dinâmico. Mas, como a ciência rejeita os
[10] dogmas, não faltou quem exigisse provas concretas. Provas que, com as limitações
técnicas da época, Freud não pôde dar.
Um professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, Srinivasan
Pillay, acredita que a ressonância magnética deu ao mundo essa garantia tão
almejada. “Se Freud estivesse vivo hoje, na era da neurociência, uma série de coisas
[15] teriam sido diferentes. Para começar, ele não teria enfrentado tanto ceticismo. As
pessoas dariam mais crédito à sua teoria porque teriam evidências de que o
inconsciente existe e nos move silenciosamente”, argumenta o psicoterapeuta.
Pillay faz parte de um movimento científico amplo que tem encontrado nas novas
tecnologias e na neurociência formas de decifrar o inconsciente. Fotografando e
[20] analisando esses processos cerebrais, esses pesquisadores esperam aperfeiçoar as
terapias e a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e problemas. Mas
pesquisa vai, análise química vem, ninguém encontrou ainda os célebres id, ego e
superego, tríade fundamental do inconsciente freudiano. Isso tem levado muitos
especialistas a questionar: será que Freud explica mesmo?
[25] Não importa quem participe da discussão, Freud começa com um ponto a favor
de sua teoria: o inconsciente existe – e como existe. A mais valiosa contribuição de
Freud foi a descoberta de que a mente consciente é simplesmente uma fachada.
Você é completamente inconsciente de 90% do que realmente passa em sua mente.
Existiria um novo inconsciente, diferente daquele de que falava Freud?
[30] “Provavelmente sim e ele é diferente de todas as maneiras possíveis”, defende Ran
Hassin, um dos autores de The new unconscious, uma das obras recentes mais
marcantes que relacionam a psicologia à neurociência. “Nos últimos 30 anos
ocorreram milhares de pesquisas sobre o inconsciente. Podemos ver coisas sem
saber que as estamos vendo? Podemos agir motivados por razões desconhecidas? A
[35] maioria dessas perguntas tem resposta afirmativa, mas a mecânica de tudo isso é
completamente distinta da sugerida por Freud. Temos hoje um modelo mecanicista
muito simples: nada de ego oculto, dramas, nenhum estímulo sexual distorcido em
sua alma.”
Mesmo sem tocar em aspectos controversos como o método e a personalidade
[40] de Freud, as duas principais críticas que a neurociência coloca, hoje, diante da
psicanálise são: o tratamento está incompleto e a divisão da psiquê em três personas
é pouco plausível. “Nunca soube de nenhuma evidência concreta da existência do id,
do superego e do ego. Não faltou quem procurasse por eles, mas ninguém achou
nada que fosse ao menos parecido. Os seres humanos não têm três „pessoas‟ dentro
[45] de si, competindo para controlar suas ações. O quadro hoje estaria muito mais para
20, 30, 40 agentes influenciando o comportamento. E eles não são personalidades
organizadas como Freud pensou que seriam”, analisa Hassin.
Com relação ao tratamento, aponta Pillay, Freud errou ao apostar na repetição.
“Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do cérebro, mais entendemos que
[50] o método de Freud (que é mergulhar no passado para entender o que nos motiva) é
importante, mas não suficiente. Às vezes, se você revirar o passado por tempo
demais, tudo o que fará é dar voltas e ficar paralisado. Isso ocorre porque o circuito
do cérebro fica ainda mais fechado na maneira como vem funcionando”, esclarece o
psicoterapeuta.
[55] Como seria a terapia se Freud a tivesse desenvolvido depois da neurociência?
“Ele também estimularia as pessoas a pensar em soluções para sair dos problemas”,
alega Pillay. “Enquanto se pensa em um futuro melhor, ativam-se as partes do
cérebro que controlam as ações. Aquecidas, essas regiões ganham mais poder para agir.”
[60] Os partidários do novo inconsciente têm ganhado terreno mundialmente,
deixando Brasil e França como os últimos redutos absolutos da psicanálise. Mas não
se trata de uma briga de dois lados. Se a psicanálise se isolar e ignorar as
descobertas da ciência, ela correrá o risco de virar religião. Mas há no Brasil, hoje,
grupos interdisciplinares que buscam fazer com que as duas áreas dialoguem e
[65] alcancem terapias mais eficientes. Abraçar as colaborações desses grupos pode ser
a melhor maneira de provar que, afinal, Freud não tem lá muito medo de ciência.
QUEIROZ, Nana. Correio Braziliense, 1o de abril de 2012. (Texto adaptado)
Desconsideradas as alterações de sentido, assinale a alternativa em que NÃO se mantém a correção gramatical se for feita a substituição da expressão sublinhada pela que está entre colchetes.