Texto 1
Soneto
Álvares de Azevedo
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d´alvorada
Que em sonhos se banhava e esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
LIRA DOS VINTE ANOS. São Paulo: Martin Claret, 2006. p. 49-50.
Na primeira estrofe, o poeta descreve a mulher idealizada utilizando imagens contruídas pela
Dieta Já!
Alberto Villas
O que pode acontecer quando você começa a folhear uma revista O Cruzeiro bem antiga?
Minhas tias eram todas gordinhas. Minhas vizinhas, as mais novas e as mais velhinhas. Os homens também eram todos barrigudinhos, meus tios e meus vizinhos. Comia-se muito brigadeiro, muito cajuzinho, muito canudinho. No Mercado Central, comia-se muito torresminho, muito salgadinho, bebiase muita cervejinha. Tudo isso sem a menor dor na consciência. Só fui me tocar que havia regime quando Caetano cantou pela primeira vez na televisão “...bota o café com Suita/eu tomo!”
Foi então que fui procurar saber o que era Suita, e me disseram que era um adoçante que não deixava ninguém engordar. No país em que fritava-se tudo com banha de porco e a margarina tinha o nome de Saúde, de repente, decretaram guerra ao açúcar e a tudo que era imoral e engordava. Da rabada ao biscoitinho. Da feijoada ao pãozinho.
Folhear revista velha dá nisso. Essa semana estava aqui mergulhado em meio a um milhão de revistas, quando caiu na minha mão uma O Cruzeiro lá dos tempos de Getúlio Vargas. Uma reportagem de página inteira cujo título era a seguinte pergunta: “Você quer engordar?” Levei um susto. Parei, olhei, comecei a ler. Era uma matéria dizendo que muitas mulheres, devido à vida agitada daqueles tempos modernos que estavam começando a ter, não conseguiam engordar. Sim, todas já queriam ser cheinhas, bonitas, gostosas e poderosas. Enfim, a reportagem de O Cruzeiro deixava bem claro: Chega de ser magrela e feia!
Como nessas reportagens de hoje, sempre acompanhadas de dicas, aquela da revista O Cruzeiro de David Nasser e do Amigo da Onça também dava dicas para você ir engordando aos poucos, sem estresse e sem fazer muito esforço. Acompanhe comigo as dicas do “Programa para engordar, a ser seguido durante as férias” que estavam ali naquela página em preto e branco daquela que era a maior revista semanal do país. Vamos lá!
07h00 – Levante-se cedo para ter fome à hora do café. Faça exercícios respiratórios, tome um banho frio e faça alguns servicinhos de casa.
08h30 – Café bem farto, depois um divã (costura ou leitura) até as 11 horas.
11h00 – Saída, passeio a passos lentos.
12h00 – Meia hora de relaxação muscular antes de almoçar.
12h30 – Almoço leve. Mastigue bem, cuidadosamente, não leia, não ouça rádio.
13h30 – Sesta, repouso até as 17 horas.
17h00 – Duas horas de exercícios fortes ou de esporte (tênis, natação, caminhadas).
19h00 – Meia hora de relaxação antes do jantar.
19h30 – Jantar farto. Em seguida, um pequeno passeio. A
hora de dormir, haja o que houver, não deve passar das 21 horas.
21h00 – Dormir.
Confesso que li, reli e não consegui entender direito esse regime para engordar, receita da revista O Cruzeiro. É nisso que dá ficar folheando revista velha numa tarde de segundafeira em pleno dois mil e quatorze.
(30/01/2014)
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/cultura/dieta-ja-3791.html>. Acesso em: 12 mar. 2014.
O título do texto promove uma intertextualidade com um importante movimento da história brasileira. Que estratégia é utilizada para essa promoção e qual ideia é comum nos eventos relacionados intertextualmente?
Dieta Já!
Alberto Villas
O que pode acontecer quando você começa a folhear uma revista O Cruzeiro bem antiga?
Minhas tias eram todas gordinhas. Minhas vizinhas, as mais novas e as mais velhinhas. Os homens também eram todos barrigudinhos, meus tios e meus vizinhos. Comia-se muito brigadeiro, muito cajuzinho, muito canudinho. No Mercado Central, comia-se muito torresminho, muito salgadinho, bebiase muita cervejinha. Tudo isso sem a menor dor na consciência. Só fui me tocar que havia regime quando Caetano cantou pela primeira vez na televisão “...bota o café com Suita/eu tomo!”
Foi então que fui procurar saber o que era Suita, e me disseram que era um adoçante que não deixava ninguém engordar. No país em que fritava-se tudo com banha de porco e a margarina tinha o nome de Saúde, de repente, decretaram guerra ao açúcar e a tudo que era imoral e engordava. Da rabada ao biscoitinho. Da feijoada ao pãozinho.
Folhear revista velha dá nisso. Essa semana estava aqui mergulhado em meio a um milhão de revistas, quando caiu na minha mão uma O Cruzeiro lá dos tempos de Getúlio Vargas. Uma reportagem de página inteira cujo título era a seguinte pergunta: “Você quer engordar?” Levei um susto. Parei, olhei, comecei a ler. Era uma matéria dizendo que muitas mulheres, devido à vida agitada daqueles tempos modernos que estavam começando a ter, não conseguiam engordar. Sim, todas já queriam ser cheinhas, bonitas, gostosas e poderosas. Enfim, a reportagem de O Cruzeiro deixava bem claro: Chega de ser magrela e feia!
Como nessas reportagens de hoje, sempre acompanhadas de dicas, aquela da revista O Cruzeiro de David Nasser e do Amigo da Onça também dava dicas para você ir engordando aos poucos, sem estresse e sem fazer muito esforço. Acompanhe comigo as dicas do “Programa para engordar, a ser seguido durante as férias” que estavam ali naquela página em preto e branco daquela que era a maior revista semanal do país. Vamos lá!
07h00 – Levante-se cedo para ter fome à hora do café. Faça exercícios respiratórios, tome um banho frio e faça alguns servicinhos de casa.
08h30 – Café bem farto, depois um divã (costura ou leitura) até as 11 horas.
11h00 – Saída, passeio a passos lentos.
12h00 – Meia hora de relaxação muscular antes de almoçar.
12h30 – Almoço leve. Mastigue bem, cuidadosamente, não leia, não ouça rádio.
13h30 – Sesta, repouso até as 17 horas.
17h00 – Duas horas de exercícios fortes ou de esporte (tênis, natação, caminhadas).
19h00 – Meia hora de relaxação antes do jantar.
19h30 – Jantar farto. Em seguida, um pequeno passeio. A
hora de dormir, haja o que houver, não deve passar das 21 horas.
21h00 – Dormir.
Confesso que li, reli e não consegui entender direito esse regime para engordar, receita da revista O Cruzeiro. É nisso que dá ficar folheando revista velha numa tarde de segundafeira em pleno dois mil e quatorze.
(30/01/2014)
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/cultura/dieta-ja-3791.html>. Acesso em: 12 mar. 2014.
Considerando a composição informacional e discursiva do Texto 2, o uso recorrente do diminutivo auxilia na
Texto 3
Você não entende nada
Caetano Veloso
Quando eu chego em casa nada me consola
Você está sempre aflita
Lágrimas nos olhos, de cortar cebola
Você é tão bonita
Você traz a coca-cola eu tomo
Você bota a mesa, eu como, eu como
Eu como, eu como, eu como
Você não está entendendo
Quase nada do que eu digo
Eu quero ir-me embora
Eu quero é dar o fora
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não aguento
Você está tão curtida
Eu quero tocar fogo neste apartamento
Você não acredita
Traz meu café com suita eu tomo
Bota a sobremesa eu como, eu como
Eu como, eu como, eu como
Você tem que saber que eu quero correr mundo
Correr perigo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo
Disponível em: <http://letras.mus.br/caetano-veloso/44792/>. Acesso em: 12 mar. 2014.
Os verbos de ligação nos versos “Você é tão bonita” e “Você está tão curtida” indicam, respectivamente:
Leia o trecho a seguir.
[…] Quando dizemos que uma pessoa, ou um bicho, morreu, o que aconteceu foi que mudou de morada. É assim, ó – e riscou uma linha no chão com um graveto. – Esta linha é a divisa. De um lado os que a gente diz que morreram, de outro os que estão vivos. Quando a pessoa, ou o bicho, passa de um lado para o outro, dizemos que morreu. Mas quem é que sabe qual é o lado dos vivos e qual o dos mortos? Para nós, que estamos do lado de cá, é o lado de lá; mas para eles deve ser o lado de cá. Quando uma pessoa atravessa a linha, morre de um lado mas nasce de outro. Você entendendo isso vai ver que quando Mangarito morria de cá nascia de lá. E você vai chorar só porque o seu cavalo mudou de morada? Tem cabimento isso?
Tubi pensou, quis se entusiasmar mas ficou na dúvida, perguntou se o Mangarito quando nasceu do outro lado nasceu pequeninho, se precisava mamar de novo, se nasceu sabendo marchar ou se tinha esquecido, se ia ter saudade do Amanhece e dele, Tubi. Belmiro ia ouvindo e respondendo de maneira a sossegar o menino e fazê-lo esquecer o choro.
– É isso mesmo. Vejo que você já entendeu.
VEIGA, José J. Na estrada do amanhece. In: ______. Melhores contos J. J. Veiga. Seleção de J. Aderaldo Castello. São Paulo: Global, 2000. p.154.
No trecho transcrito, as explicações da personagem Belmiro ao menino Tubi exprimem um questionamento sobre os limites entre o mundo real e o imaginado, o qual se evidencia por meio da