O que segue é fragmento do Prefácio do tradutor, na obra Os jogos olímpicos na Grécia antiga: Olímpia antiga e os jogos olímpicos.
[1] O leitor talvez fique surpreso de encontrar a palavra
“Grécia” apenas no título deste livro (apenas por uma questão
de primeira identificação), ao passo que em todas as outras
páginas unicamente se mencione o seu sinônimo mais erudito:
[5] “Hélade”. Do mesmo modo, não encontrará, como ocorre
praticamente em todas as traduções que versam sobre a
“Grécia antiga”, o etnônimo “grego”, com referência ao povo da
“Hélade”, mas sim o termo “heleno”, utilizado para este mister.
Não se trata, desde logo, de pedantismo ou mera
[10] afetação de erudição. O termo “Grécia” jamais foi empregado
pelos povos de língua helênica para designar o seu país: nos
tempos históricos, os helenos chamavam sua pátria de Hellás
(que é, atualmente, o nome oficial do país) e denominavam-se
a si mesmos “helenos”, nome de uma tribo que, na época das
[15] migrações, estabeleceu-se em uma parte da Tessália. Foram
os romanos que denominaram Graii os colonos de Cumas,
pois Graia era o nome de um distrito obscuro da Grécia
ocidental, de onde, talvez, tivessem emigrado alguns colonos.
Graeci é, portanto, uma forma derivada de Graii, e Graecia foi
[20] o nome dado pelos romanos à Hélade. Desse modo, o termo
“Grécia” está vinculado ao período de dominação da Hélade
pelos romanos. Esse termo se impôs no Ocidente, mesmo
depois que a Hélade se tornou independente.
Ora, recentemente, quando a Hélade passou a fazer
[25] parte da União Europeia, o nome que passou a ser incluído
entre as nações integrantes foi Hellás (“Hélade”), que é o
nome oficial do país, e não Graecia ou Greece [...].
(M. Andronicos e outros. Trad. de Luiz Alberto Machado Cabral. São Paulo: Odysseus Editora, 2004, p. XII)
É correto afirmar que, no texto acima,
(...) plebe tão em extremo plebe, que só ela o pode ser da que se repute e mais infame, e o é de todas as plebes, por comporse de índios, de negros, criolos e boçais de diferentes nações, de chineses, de mulatos, de "zambaigos"*, e também de espanhóis que, declarando-se "zaramullos" (que é o mesmo que pícaros, grosseiros e "arrebatacapas") e degenerando de suas obrigações, são os piores entre canalhas tão ruins. *Filho de mulato e ameríndia
(Carlos Sigüenza y Góngora. Relaciones históricas. México: Biblioteca del Estudiante Universitário, UNAM, 1972, p. 133 Apud Angel Rama. A cidade das letras. Trad. Emir Sader. SP: Brasiliense, 1984, p. 57)
O significado original do termo plebe, usado para designar a maioria da população romana durante a Antiguidade, remetia a uma camada social composta por
(...) plebe tão em extremo plebe, que só ela o pode ser da que se repute e mais infame, e o é de todas as plebes, por comporse de índios, de negros, criolos e boçais de diferentes nações, de chineses, de mulatos, de "zambaigos"*, e também de espanhóis que, declarando-se "zaramullos" (que é o mesmo que pícaros, grosseiros e "arrebatacapas") e degenerando de suas obrigações, são os piores entre canalhas tão ruins. *Filho de mulato e ameríndia
(Carlos Sigüenza y Góngora. Relaciones históricas. México: Biblioteca del Estudiante Universitário, UNAM, 1972, p. 133 Apud Angel Rama. A cidade das letras. Trad. Emir Sader. SP: Brasiliense, 1984, p. 57)
O texto evidencia tensões sociais na América espanhola. Pode-se afirmar que, ao longo do período colonial, as tensões entre os colonizadores espanhóis que habitavam a América e os brancos nascidos nesse continente (criollos) se agravaram em decorrência de fatores como a
A sua ferocidade ultrapassa tudo: sulcam de profundas cicatrizes, com um ferro, as faces dos recém-nascidos para lhes destruir as raízes dos pelos; e desse modo crescem e envelhecem imberbes e sem graça, como eunucos. Têm o corpo atarracado, os membros robustos e a nuca grossa: a largura das costas fá-los assustadores . (...) Não põem pé em terra nem para comer nem para dormir e dormem deitados sobre o magro pescoço da montada, onde sonham à sua vontade. (..) Nenhum deles se for interrogado poderá dizer donde é natural, porque, concebido num lugar, nasceu já noutro ponto e foi educado mais longe.
(Descrição dos Hunos em Fernando Espinosa. Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: SÁ da Costa, 1972, p. 4-6)
O temor aos “povos bárbaros” no Ocidente, no final da Antiguidade, era resultante, dentre outros fatores,
Em qualquer sociedade de tipo feudal, a lealdade dos servos se exercita em troca da segurança que o senhor pode dar. Creio que a lealdade dos jagunços, em face do chefe, tinha também um fundamento parecido: seria talvez o medo da solidão em face de uma natureza tão grandiosa, tão áspera, tão despovoada que levaria aqueles homens humildes a aderir ao grupo guerreiro, entregando-se a uma vida aventurosa em troca de uma solidariedade fraterna. A aventura: “eu avistava as novas estradas, diversidade de terras”. A ausência de fraternidade, do amor, parece ser sinal de alienação para o jagunço: “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”, diz Riobaldo. A lealdade é, porém, o grande valor social, disseminado entre os jagunços de Grande sertão: veredas.
(Adaptado de Fernando Correia Dias. Aspectos sociológicos de Grande sertão: veredas, in Guimarães Rosa – Fortuna crítica. Org. por Eduardo de Faria Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira / INL, 1983, p. 401
O texto faz referência a um tipo de relação social que, na Idade Média, deve-se ao fato de, nesse período,
Se a complexidade que o movimento renascentista representou deve ser vista como a raiz de nossa consciência moderna, então não se deve ressaltar apenas a dimensão metódica e harmoniosa em torno do eixo dessa consciência. Deve haver nela um espaço equivalente para a fantasia, a angústia, o desejo, a vontade, a sensação e o medo também. Neste sentido é que estaríamos mergulhando fundo em nossa raiz, neste sentido é que seríamos realmente radicais e poderíamos declarar como Lord MacBeth:
“Ouso tudo o que é próprio de um homem;
Quem ousar fazer mais do que isso, não o é”.
(Nicolau Sevcenko in Antonio P. Rezende e Maria T. Didier Rumos da História: História Geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2001, p.123)
O texto de Nicolau Sevcenko permite inferir que, com o Renascimento, o