TEXTO
O suplício da mangueira centenária
[...]
Foi um momento de drama e de emoção. A raiz da mangueira reagiu à força dos homens e das máquinas. Ela resistia para não ir embora. Depois de cem anos, ela fazia parte daquela terra, daquele espaço. Vieram homens da Prefeitura com a Grande Máquina que prendia em si fortes correntes. Foi retirado o portão e parte do muro para que ela pudesse passar. Aquele povo todo descendo para a Rua de Baixo para assistir ao espetáculo e ela parada, dentro da cratera, não movia uma farpa sequer de seu enorme corpo. Os homens da Prefeitura, então, amarraram-lhe o corpo com as enormes correntes e começaram a acionar o motor da Grande Máquina para forçar a saída da raiz de dentro da enorme cratera. Mas as correntes escapavam e tudo voltava à estaca zero. Depois de algumas tentativas e rearranjos de matérias foi dado um forte arranque e ela foi jogada para fora. Daí, o sofrimento foi bem maior. Aquela raiz meio batata gigante rolava para um lado e para o outro como os loucos que não querem ser segurados ou como um animal feroz que se vê indo para a jaula. E a máquina começou a andar em direção da rua que estava encrespada de gente. O olho do povo estava arregalado e alguns até choravam. Muitas e muitas daquelas pessoas iam todos os anos lá pelos meados de dezembro buscar frutas que a mangueira produzia. Era das mais doces da cidade.
Naquela dificuldade de puxar a raiz, a máquina ziguezagueava e isso causava um barulho ensurdecedor. E simultaneamente, a última parte da árvore parecia responder a isso ao persistir nos gestos de resistência, enrolando-se e enrolando as correntes, ameaçando, tombando para os lados para dificultar a linha reta da máquina, enfim, não tinha como encontrar um acordo para a expulsão da raiz de seu habitat. E, assim, com todo esse esforço, a máquina conseguiu atravessar os limites do quintal e atingir a rua, arrastando a raiz. A raiz foi dominada ou foi domada pela força do homem. Mas ao entrar na rua, ela ainda guardava muita energia. Conforme a máquina a puxava ela ia amassando o asfalto e deixando seu rastro por onde passava.
(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 62-63.)
A escolha dos elementos lexicais, tais como “reagiu”, “parada”, “não movia”, “não querem”, “dificuldade”, “persistir”, “ameaçando”, “guardava” para narrar/ descrever o “suplício da mangueira centenária” coloca em destaque no Texto:
TEXTO
O suplício da mangueira centenária
[...]
Foi um momento de drama e de emoção. A raiz da mangueira reagiu à força dos homens e das máquinas. Ela resistia para não ir embora. Depois de cem anos, ela fazia parte daquela terra, daquele espaço. Vieram homens da Prefeitura com a Grande Máquina que prendia em si fortes correntes. Foi retirado o portão e parte do muro para que ela pudesse passar. Aquele povo todo descendo para a Rua de Baixo para assistir ao espetáculo e ela parada, dentro da cratera, não movia uma farpa sequer de seu enorme corpo. Os homens da Prefeitura, então, amarraram-lhe o corpo com as enormes correntes e começaram a acionar o motor da Grande Máquina para forçar a saída da raiz de dentro da enorme cratera. Mas as correntes escapavam e tudo voltava à estaca zero. Depois de algumas tentativas e rearranjos de matérias foi dado um forte arranque e ela foi jogada para fora. Daí, o sofrimento foi bem maior. Aquela raiz meio batata gigante rolava para um lado e para o outro como os loucos que não querem ser segurados ou como um animal feroz que se vê indo para a jaula. E a máquina começou a andar em direção da rua que estava encrespada de gente. O olho do povo estava arregalado e alguns até choravam. Muitas e muitas daquelas pessoas iam todos os anos lá pelos meados de dezembro buscar frutas que a mangueira produzia. Era das mais doces da cidade.
Naquela dificuldade de puxar a raiz, a máquina ziguezagueava e isso causava um barulho ensurdecedor. E simultaneamente, a última parte da árvore parecia responder a isso ao persistir nos gestos de resistência, enrolando-se e enrolando as correntes, ameaçando, tombando para os lados para dificultar a linha reta da máquina, enfim, não tinha como encontrar um acordo para a expulsão da raiz de seu habitat. E, assim, com todo esse esforço, a máquina conseguiu atravessar os limites do quintal e atingir a rua, arrastando a raiz. A raiz foi dominada ou foi domada pela força do homem. Mas ao entrar na rua, ela ainda guardava muita energia. Conforme a máquina a puxava ela ia amassando o asfalto e deixando seu rastro por onde passava.
(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 62-63.)
No fragmento de “O suplício da mangueira centenária” (Texto), a natureza e o homem travam um duelo no qual quem vence não é necessariamente o mais forte. A tenacidade da natureza se evidencia em:
I - “Ela resistia para não ir embora”.
II - “A raiz foi dominada ou domada pela força do homem”.
III - “Mas ao entrar na rua, ela guardava muita energia”.
Com base nas proposições, estão corretas as afirmativas (marque a alternativa correta):
TEXTO
O suplício da mangueira centenária
[...]
Foi um momento de drama e de emoção. A raiz da mangueira reagiu à força dos homens e das máquinas. Ela resistia para não ir embora. Depois de cem anos, ela fazia parte daquela terra, daquele espaço. Vieram homens da Prefeitura com a Grande Máquina que prendia em si fortes correntes. Foi retirado o portão e parte do muro para que ela pudesse passar. Aquele povo todo descendo para a Rua de Baixo para assistir ao espetáculo e ela parada, dentro da cratera, não movia uma farpa sequer de seu enorme corpo. Os homens da Prefeitura, então, amarraram-lhe o corpo com as enormes correntes e começaram a acionar o motor da Grande Máquina para forçar a saída da raiz de dentro da enorme cratera. Mas as correntes escapavam e tudo voltava à estaca zero. Depois de algumas tentativas e rearranjos de matérias foi dado um forte arranque e ela foi jogada para fora. Daí, o sofrimento foi bem maior. Aquela raiz meio batata gigante rolava para um lado e para o outro como os loucos que não querem ser segurados ou como um animal feroz que se vê indo para a jaula. E a máquina começou a andar em direção da rua que estava encrespada de gente. O olho do povo estava arregalado e alguns até choravam. Muitas e muitas daquelas pessoas iam todos os anos lá pelos meados de dezembro buscar frutas que a mangueira produzia. Era das mais doces da cidade.
Naquela dificuldade de puxar a raiz, a máquina ziguezagueava e isso causava um barulho ensurdecedor. E simultaneamente, a última parte da árvore parecia responder a isso ao persistir nos gestos de resistência, enrolando-se e enrolando as correntes, ameaçando, tombando para os lados para dificultar a linha reta da máquina, enfim, não tinha como encontrar um acordo para a expulsão da raiz de seu habitat. E, assim, com todo esse esforço, a máquina conseguiu atravessar os limites do quintal e atingir a rua, arrastando a raiz. A raiz foi dominada ou foi domada pela força do homem. Mas ao entrar na rua, ela ainda guardava muita energia. Conforme a máquina a puxava ela ia amassando o asfalto e deixando seu rastro por onde passava.
(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 62-63.)
O Texto apresenta uma reflexão sobre a relação dos homens com o meio ambiente. No ano de 2015, o Papa Francisco escreveu a encíclica que trata do cuidado da Casa Comum. Nela, ele trata da importância de todas as pessoas, religiosas ou não, buscarem, por iniciativas ousadas e urgentes, cuidar do mundo. De acordo com esse documento, o meio ambiente é um bem comum, uma herança coletiva de toda a humanidade, e somos todos responsáveis por ele. O Papa Francisco nos faz lembrar – das pessoas comuns aos líderes mundiais – que o enfrentamento das injustiças sociais e climáticas é um imperativo moral. Os pobres são os mais afetados pelas mudanças climáticas catastróficas, embora tenham sido os que menos contribuíram para o problema. Leia atentamente o fragmento a seguir:
A especialização própria da tecnologia importa grande dificuldade para se conseguir um olhar de conjunto. A fragmentação do saber propicia a obtenção de aplicações concretas, mas frequentemente leva à perda do sentido da totalidade, das relações que existem entre as coisas, do horizonte alargado, e valoriza um sentido irrelevante. Isso impede de individuar caminhos adequados para resolver os problemas mais complexos do mundo atual, sobretudo os do meio ambiente e os dos pobres. Problemas que não podem ser enfrentados a partir de uma única perspectiva, nem de um único tipo de interesse. Uma ciência que pretenda oferecer soluções para os grandes problemas deve necessariamente ter em conta tudo o que o conhecimento gerou em todas as áreas do saber, incluindo a Filosofia e a Ética Social. Mas, atualmente, isso é difícil de se conseguir. Por isso, também é difícil o reconhecimento de verdadeiros horizontes éticos de referência. A vida passa a ser uma rendição às circunstâncias condicionadas pela técnica, entendida como um recurso principal para a interpretação da existência. Na realidade concreta que nos interpela, vários sintomas mostram o erro: a degradação ambiental, a ansiedade, a perda do sentido da vida e da convivência social. Assim, se demonstra uma vez mais que a “realidade é superior à ideia”.
(Disponível em: https://w2.vatican.va/content/francescomobile/pt/ encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudatosi.html. Acesso em: 20 jan. 2016. Adaptado.)
Com base nessas informações, analise as afirmações a seguir:
I - A técnica, segundo o Pontífice, é a única solução para a crise mundial. Para sairmos da crise, é necessário fazer valer a máxima: “might makes right” (o poder faz o direito). O fato de algo ser tecnicamente viável também o torna moralmente lícito. O antropocentrismo absolutiza as vontades e convicções individuais. Isso acaba por fortalecer a sociedade, como já afirmava Espinosa. Afinal, para ele existe um Deus metafisico, que é responsável pelo nosso livre-arbítrio.
II - Francisco lembra o quanto são benéficos os progressos científicos e tecnológicos, mas, ao mesmo tempo, recorda que toda e qualquer intervenção em uma área determinada do ecossistema não pode prescindir da consideração de suas consequências em outras áreas.
III - Na encíclica, o Papa Francisco não se limitou a escrever sobre os danos que a humanidade está causando ao meio ambiente. Ele desenvolveu uma visão ampliada, que dá um sentido social e humano à questão. Ele descreve como é trágica a situação dos migrantes que fogem da miséria causada pela degradação ambiental, e carregam o peso da sua vida abandonada, sem qualquer tutela normativa.
Em relação às proposições analisadas, assinale a alternativa que contém todos os itens corretos:
TEXTO
Lavínia
Entrou no quarto e fechou silenciosamente a porta. Não acendeu a luz, preferindo ligar um pequeno abajur que iluminou debilmente o aposento. Deu alguns passos em direção à cama e sentou-se numa banqueta.
— Lavínia — murmurou — Já estou aqui.
Suspirou.
— Demorei um pouco, porque a governanta não queria me largar. Maldita! Tive que mentir que ia ao banheiro. Não foi boa essa, Lavínia? No banheiro. Soltou uma risadinha; um cão latiu ao longe como se estivesse respondendo. Ela olhou com ansiedade pela janela. Nada viu. O gramado bem tratado brilhava à luz da lua. Folhas de plátano boiavam na piscina.
— Agora está tudo bem. Vou cuidar de ti como só eu sei fazer. Antes de mais nada, um banho; um bom banho quente, de imersão. Vou prepará-lo agora mesmo. A governanta não quer que eu me aproxime da banheira. Diz que é perigoso, para uma menina de dez anos. Ouviste esta, Lavínia? Perigoso para mim! Naturalmente, ouço e calo. Posso responder àquela ignorante? Nem sequer falamos a mesma linguagem: o meu vocabulário é maior, mais rico, mais expressivo. Leio numa semana mais livros do que ela em toda sua vida.
Abaixou-se, tirou os sapatos.
— Não devemos fazer ruído.
Do bolso do casaco extraiu um pacote.
— Adivinha o que tenho aqui, Lavínia. Não adivinhas? Pois, exatamente: marrom-glacês. Marrom-glacês! Não é ótimo? E olha que me deu trabalho surrupiá-los. Mas eu o fiz: nas ventas da governanta. Vou colocá-los aqui, na mesinha de cabeceira. Serão saboreados depois do banho, não antes: banho com o estômago cheio é perigoso, dizia papai. Calou- -se bruscamente e ficou a olhar pela janela. Depois disse, sem se voltar:
Vais vestir o teu pijama de flanela azul, deitar na cama, acender a lâmpada de cabeceira e ler o teu livro predileto, saboreando os doces. Não é uma boa ideia, Lavínia? Me diz: alguém cuida tão bem de ti como eu? Mas assim deve ser, pois todos os outros são inimigos. Mamãe, aquele homem que vem aqui e a governanta.
Inclinou-se para a cama:
— E agora vem o melhor. Sabes o que vou fazer, antes de dormires? Vou te acariciar: passarei minha mão bem de leve em teu rosto suave, em teus cabelos de ouro, em tuas pálpebras macias. E, Lavínia — bem, isto não posso prometer, mas farei todo o possível — cantarei para ti. Cantarei baixinho aquela música que papai ensinou antes de morrer, aquela em francês, te lembras? Sobre as meninas solitárias. Estarás bem enroladinha no cobertor; como uma larva no casulo. E eu te darei boa-noite...
A porta se abriu. Era a governanta, iluminada pela luz forte do corredor.
— Lavínia — disse ela, em voz baixa. — Não há ninguém aqui além de ti, vês? Estás falando sozinha
— de novo. Agora, põe teus sapatos e desce; tua mãe e aquele senhor querem te dar boa-noite. Vão sair.
Arrumou-se vagarosamente. A governanta esperava, sorrindo sempre. Antes de sair, Lavínia voltou-se para cama e piscou um olho.
— Volto já — murmurou.
(SCLIAR, Moacyr. Melhores contos. 6. ed. São Paulo: Global, 2003. p. 83-84.)
No decorrer do Texto, a personagem Lavínia constrói no leitor a sua verdade, que é desfeita quando a governanta abre a porta e a chama para descer.
Assinale a alternativa que revela de forma mais explícita que, para a personagem, essa verdade é mantida:
TEXTO
Olho com desconfiança para a anciã grisalha e mirrada, mas com boa aparência, procurando brechas, fissuras onde pudesse injetar meu veneno. Pelo que eu sabia, Laura tinha mais de noventa anos. Quase um século vivido ali, impune e imune. Salva da própria maldade e completamente alheia às grandes tragédias que assolam o Planeta. Pensei: encastelada neste lugar, ela viu passar a Coluna Prestes, atravessou a Grande Recessão, a Primeira e a Segunda Grandes Guerras Mundiais; o surgimento e a queda do Estado Novo. Estava aqui, livre e solta, quando o Muro da Vergonha aprisionou inocentes; continuava no mesmo lugar no momento em que a muralha foi caninamente destroçada; guerras devastaram a África, dizimando tribos inteiras. Não tomou conhecimento das inúmeras invasões pelo Globo afora; ignorou a troca de mãos sofrida por populações inteiras, como se gente fosse mercadoria. Tornados, avalanchas, terremotos. Desconhece que mudanças climáticas instigam a ira da natureza e ninguém mais sabe onde vamos parar. Nada, nem a catástrofe em andamento parece perturbar a paz de seus dias iguais. Estou certa de que a velha ignora completamente a famigerada ação terrorista; a praga das drogas. De repente, parei meu tiroteio absurdo enquanto pensava: e quanto ao seu universo interior? Sim, porque ela deve ter um.
(BARROS, Adelice da Silveira. Mesa dos inocentes. Goiânia: Kelps, 2010. p. 13-14.)
Analise o primeiro período do Texto até o ponto final para assinalar a alternativa que indica corretamente qual é o sujeito gramatical da construção verbal “pudesse injetar”.
Assinale a resposta correta:
TEXTO
Eternidade
Ele reviu-se:
não era mais
nem corpo
nem sombra
nem escombros.
Como foi isso?
Tudo irreal:
um barco
sem mar
a boiar.
Ele sentiu-se:
recomeçava.
Vivera
morrendo
numa estrela.
Ele despiu-se
de quê?
De tudo
que amara.
Surdo-mudo
cegara.
Agora vê.
(LIMA, Jorge. Melhores poemas. 3. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 122-123.)
No Texto, “Eternidade”, a estrutura paralelística composta por ele + verbo + se, presente na primeira, terceira e quarta estrofes, contribui para a delimitação de atos importantes do “ele”.
Em relação às funções sintáticas do “se”, no texto, assinale a alternativa correta: