TEXTO
Minha desgraça
Minha desgraça, não, não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta,
Tratar-me como trata-se um boneco...
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem m’o dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que o meu peito assim blasfema,
É ter para escrever todo um poema
E não ter um vintém para uma vela.
(AZEVEDO, Álvares de. Melhores poemas. 6. ed. 1. reimpr. São Paulo: Global, 2008. p. 83.)
No segundo verso da terceira estrofe do Texto, lemos: “O que faz que meu peito assim blasfema”. O ato de blasfemar foi um dos pecados perseguidos pelo Tribunal do Santo Ofício. Essa instituição, criada pela Igreja católica no século XIII, teve o seu auge no período moderno, reforçando tanto o poder do Estado quanto a concentração de riquezas nas mãos da emergente burguesia cristã.
Acerca da ação desse tribunal, também conhecido como Santa Inquisição, assinale a alternativa correta:
TEXTO
de repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que eu te vi
o dia em que me viste
de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm carro
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em copacabana
(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. 12. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 100.)
O Texto apresenta a atitude de um pai, certamente influenciado pelo american way of life. Essa visão da vida foi divulgada pelo cinema, pela televisão e pelas publicações norte-americanas, especialmente no contexto da Guerra Fria, por toda a América Latina. Considere as ações da política externa dos Estados Unidos nesse contexto e avalie as afirmações a seguir:
I - As ações visando ao domínio econômico e cultural se intensificaram principalmente após a vitória da Revolução Cubana, em 1959, que criara a esperança de uma via socialista, e era bastante crítica em relação às práticas imperialistas norte-americanas no Continente.
II - O imperialismo dos Estados Unidos na América Latina foi apenas reforçado no contexto da Guerra Fria, já que seu domínio era sistemático desde as independências nacionais, no decorrer do século XIX.
III - Durante a Guerra Fria, o lema da Doutrina Monroe – “a América para os americanos” – foi intensamente reproduzido nos países latino-americanos, de forma a atenuar os efeitos do bloqueio econômico criado pela União Soviética para o continente.
IV - Programas humanitários e de distribuição de alimentos como a Aliança para o Progresso (Alliance for Progress) podem ser enquadrados no reforço da atuação imperialista norte-americana no contexto da Guerra Fria.
Em relação às proposições analisadas, assinale a única alternativa cujos itens estão todos corretos:
TEXTO
A enxada
[...]
Na Forquilha, recebeu Supriano um pedaço de mato derrubado, queimado e limpo. Era do velho Terto, que não pôde tocar por ter morrido de sezão. Como o delegado houvesse aprevenido o novo dono de que Piano era muito velhaco, ao entregar a terra Elpídio ponderou muito braboso:
— Quero ver que inzona você vai inventar para não plantar a roça... Olha lá que não sou quitanda! Supriano não tinha inzona nenhuma.
Perguntou, porque foi só isso que veio à mente do coitado:
— E a enxada, adonde que ela está, nhô? Elpídio quase que engasga com o guspe de tanta jeriza:
— Nego à toa, não vale a dívida e ainda está querendo que te dê enxada! Hum, tem muita graça! Piano era trabalhador e honesto. Devia ao delegado porque ninguém era homem de acertar contas com esse excomungado. Pior que Capitão Benedito em três dobros. Se, porém, lhe pagassem o trabalho, capaz de aprumar. Não tinha muita saúde, por via do papo, mas era bom de serviço. Assim, diante da zoada do patrão, foi pelando-se de medo que o camarada arriscou um pedido:
— Me perdoa a confiança, meu patrão, mas mecê fia a enxada da gente e na safra, Deus ajudando, a gente paga com juro...
— Ocê que paga, seu berdamerda! — E Seu Elpídio ficou mais irado ainda. — Te dou enxada e ocê fica devendo a conta do delegado e a enxada pro riba. Não senhor. Vá plantar meu arroz já, já.
— Meu patrãozinho, mas plantar sem... — Elpídio o atalhou: — Vai-se embora, nego. E se fugir te boto soldado no seu rasto.
(ÉLIS, Bernardo. Melhores contos. 4. ed. São Paulo: Global, 2015. p. 58-59.)
O trabalhador Supriano foi chamado duas vezes de “nego” no Texto. Esse termo indica a herança da mão de obra escrava no Brasil e ressalta o racismo de Elpídio.
Sobre o trabalho escravo na produção agrícola da época colonial brasileira, assinale a alternativa correta:
TEXTO
16
Meu avô me levava sempre em suas visitas de corregedor às terras de seu engenho. Ia ver de perto os seus moradores, dar uma visita de senhor nos seus campos. O velho José Paulino gostava de percorrer a sua propriedade, de andá-la canto por canto, entrar pelas suas matas, olhar as suas nascentes, saber das precisões de seu povo, dar os seus gritos de chefe, ouvir queixas e implantar a ordem. Andávamos muito nessas suas visitas de patriarca. Ele parava de porta em porta, batendo com a tabica de cipó-pau nas janelas fechadas. Acudia sempre uma mulher de cara de necessidade: a pobre mulher que paria os seus muitos filhos em cama de vara e criava-os até grandes com o leite de seus úberes de mochila. Elas respondiam pelos maridos:
— Anda no roçado.
— Está doente.
— Foi pra rua comprar gás.
Outras se lastimavam de doenças em casa, com os meninos de sezão e o pai entrevado em cima da cama. E quando o meu avô queria saber por que o Zé Ursulino não vinha para os seus dias no eito, elas arranjavam desculpas:
— Levantou-se hoje do reumatismo.
O meu avô então gritava:
— Boto pra fora. Gente safada, com quatro dias de serviço adiantado e metidos no eito do Engenho Novo. Pensam que eu não sei? Toco fogo na casa.
— É mentira, seu coronel. Zé Ursulino nem pode andar. Tomou até purga de batata. O povo foi contar mentira pro senhor. Santa Luzia me cegue, se estou inventando.
E os meninos nus, de barriga tinindo como bodoque. E o mais pequeno na lama, brincando com o borro sujo como se fosse com areia da praia.
— Estamos morrendo de fome. Deus quisera que Zé Ursulino estivesse com saúde.
— Diga a ele que pra semana começa o corte da cana.
(REGO, José Lins do. Menino de engenho. 102. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2010. p. 57-58.)
No catolicismo popular, a devoção a Santa Luzia, referida no Texto, está relacionada à visão. Sua hagiografia conta que ela foi uma mártir cristã da época das perseguições promovidas pelo imperador Diocleciano (284-305 d.C.) e teve os olhos arrancados. Sobre a cristianização do Império Romano, analise as afirmações a seguir:
I - A estratégia de perseguição teve efeito inverso, pois, mesmo sem a política de tolerância implantada no início do século IV, a fé cristã não parou de expandir-se, principalmente entre as classes mais baixas do Império.
II - O que motivou as perseguições aos cristãos foi o fato de eles renegarem o culto ao imperador. Desde a época de Augusto (27 a.C.-14 d.C.), havia ritos específicos que lhe conferiam uma aura divina.
III - As perseguições e os martírios foram causados, principalmente, pelo fato de os cristãos liderarem várias revoltas escravas, guiados pelos princípios da igualdade de todos e do amor ao próximo.
Assinale a alternativa cujos itens são todos corretos:
TEXTO
[...]
Era uma promessa, mas eu não via grande coisa no futuro, o mar estava muito longe, meu pensamento estava cravado ali mesmo, nos dias e noites do presente, nas portas fechadas do liceu, na morte de Laval. Yaqub sabia disso? Ele notou minha inquietação, minha tristeza. Disse-lhe isto: que estava com medo, faltava pouco para terminar o curso no liceu. Um professor tinha sido assassinado, o Antenor Laval... Ele ficou pensativo, balançando a cabeça. Olhou para mim: “Eu também tenho um amigo... foi meu professor em São Paulo...”. Parou de falar, me olhou como se eu não fosse entender o que ele ia dizer. Na época em que havia estudado no colégio dos padres Yaqub talvez tivesse conhecido Laval.
Ele sabia que Manaus se tornara uma cidade ocupada. As escolas e os cinemas tinham sido fechados, lanchas da Marinha patrulhavam a baía do Negro, e as estações de rádio transmitiam comunicados do Comando Militar da Amazônia. Rânia teve que fechar a loja porque a greve dos portuários terminara num confronto com a polícia do Exército. Halim me aconselhou a não mencionar o nome de Laval fora de casa. Outros nomes foram emudecidos. A tarja preta que cobria uma parte da fachada do liceu fora arrancada e as portas do prédio permaneceram trancadas por várias semanas.
Mesmo assim, Yaqub não se intimidou com os veículos verdes que cercavam as praças e o Manaus Harbour, com os homens de verde que ocupavam as avenidas e o aeroporto. Nem mesmo um diabo verde o teria intimidado. Eu não queria sair de casa, não entendia as razões da quartelada, mas sabia que havia tramas, movimento de tropas, protestos por toda parte. Violência. Tudo me fez medo. Mas ele insistiu em que eu o acompanhasse: “Já fui militar, sou oficial da reserva”, me disse orgulhoso.
(HATOUM, Milton. Dois irmãos. 19. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 149.)
Os militares não apenas ocuparam a Amazônia, patrulharam as rotas, vigiaram os meios de comunicação e controlaram as escolas, como afirma o Texto, mas também criaram uma política específica para desenvolver a região.
Dentre as ações tomadas pelos governos da Ditadura Militar (1964-1985), com o intuito de promover o capitalismo na bacia Amazônica, assinale a alternativa correta: