Leia atentamente o texto a seguir e responda à questão.
O que faz o brasil, Brasil?
Devo começar explicando o meu enigmático título. É que será preciso estabelecer uma distinção radical entre um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. O “brasil“ com b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de se reproduzir como sistema; como, aliás, queriam alguns teóricos sociais do século XIX, que viam na terra - um pedaço perdido de Portugal e da Europa - um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando-se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degeneração e à morte biológica, psicológica e social. Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval; que pode ser detida na morte e na memória e que pode ser trazida de volta na boa recordação da saudade. Tempo e temporalidade de ritmos localizados e, assim, insubstituíveis. Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de autorreflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História. Aqui, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso espírito. Como um Deus que está em todos os lugares e em nenhum, mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente. Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto - tal como acontece com as divindades - será preciso provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder. Caso contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que se respira e dela não se teria consciência a não ser pela comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas de suas manifestações mais contundentes.
(Da MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? 1ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.)
“...um conjunto doentio e condenado de raças que, misturandose ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degeneração e à morte biológica...”.
O segmento sublinhado acima constitui uma oração reduzida, cuja semântica, levando-se em conta o determinismo que caracterizou o final do século XIX, é identificada como
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O que faz o brasil, Brasil?
Devo começar explicando o meu enigmático título. É que será preciso estabelecer uma distinção radical entre um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. O “brasil“ com b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de se reproduzir como sistema; como, aliás, queriam alguns teóricos sociais do século XIX, que viam na terra - um pedaço perdido de Portugal e da Europa - um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando-se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degeneração e à morte biológica, psicológica e social. Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval; que pode ser detida na morte e na memória e que pode ser trazida de volta na boa recordação da saudade. Tempo e temporalidade de ritmos localizados e, assim, insubstituíveis. Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de autorreflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História. Aqui, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso espírito. Como um Deus que está em todos os lugares e em nenhum, mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente. Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto - tal como acontece com as divindades - será preciso provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder. Caso contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que se respira e dela não se teria consciência a não ser pela comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas de suas manifestações mais contundentes.
(Da MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? 1ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.)
Embora o título do livro do antropólogo Roberto DaMatta, em um primeiro momento, desconcerte o usuário da língua, o conhecimento da estrutura sintática pode ajudar a decodificá-lo. Estruturas como “o que faz o cidadão, responsável...”, ou “aquele acontecimento fez o rapaz, um especialista...” evidenciam o último termo como um estado ou uma qualidade de um nome, que o adquire por meio de uma transformação, pela ação do tempo.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o termo “Brasil”, no título, assume a função sintática de
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O que faz o brasil, Brasil?
Devo começar explicando o meu enigmático título. É que será preciso estabelecer uma distinção radical entre um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. O “brasil“ com b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de se reproduzir como sistema; como, aliás, queriam alguns teóricos sociais do século XIX, que viam na terra - um pedaço perdido de Portugal e da Europa - um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando-se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degeneração e à morte biológica, psicológica e social. Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval; que pode ser detida na morte e na memória e que pode ser trazida de volta na boa recordação da saudade. Tempo e temporalidade de ritmos localizados e, assim, insubstituíveis. Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de autorreflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História. Aqui, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso espírito. Como um Deus que está em todos os lugares e em nenhum, mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente. Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto - tal como acontece com as divindades - será preciso provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder. Caso contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que se respira e dela não se teria consciência a não ser pela comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas de suas manifestações mais contundentes.
(Da MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? 1ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.)
A distinção entre as palavras “Brasil” e “brasil”, proposta por Roberto DaMatta, evidencia uma postura crítica, por meio de uma perspectiva
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O que faz o brasil, Brasil?
Devo começar explicando o meu enigmático título. É que será preciso estabelecer uma distinção radical entre um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. O “brasil“ com b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de se reproduzir como sistema; como, aliás, queriam alguns teóricos sociais do século XIX, que viam na terra - um pedaço perdido de Portugal e da Europa - um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando-se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degeneração e à morte biológica, psicológica e social. Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval; que pode ser detida na morte e na memória e que pode ser trazida de volta na boa recordação da saudade. Tempo e temporalidade de ritmos localizados e, assim, insubstituíveis. Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de autorreflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História. Aqui, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso espírito. Como um Deus que está em todos os lugares e em nenhum, mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente. Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto - tal como acontece com as divindades - será preciso provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder. Caso contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que se respira e dela não se teria consciência a não ser pela comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas de suas manifestações mais contundentes.
(Da MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? 1ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.)
“É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus...”.
Assinale a opção que identifica o mecanismo de coesão usado no início de cada um dos períodos do fragmento acima.
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A cantiga abaixo é de Genésio Tocantins, um dos compositores abordados pelo livro de Paulo Albuquerque, Cantos em Si – Identidade Tocantinense.
Coco Livre S/A
Genésio Tocantins
A minha mãe quebrava coco pra comer
E hoje em dia, eu canto coco pra viver
A minha mãe quebrava coco pra comer
E hoje em dia, eu canto coco pra viver
Olha o coco! Quem vai querer?
Olha a cocada! Quem vai querer?
Olha o coco! Quem vai querer?
Olha a cocada! Quem vai querer?
Já cantei coco, quebrei coco e ralei coco
Conquista, cantando coco do oco do maracá
Meu camará coco de roda ciranda
Minha língua não desanda, no pandeiro e no ganzá
(...)
Solta esse coco, bota coco na cocada
Rebola na embolada, enrola a língua lhá ga lhá
Jeca total, capiau, chapéu de palha
Criança também trabalha, para o coco libertar
Mistura e manda, no pandeiro e no ganzá
Mistura e manda, no pandeiro e no ganzá
Parte, e reparte, eu falo que a melhor parte
É quando se parte com arte, a parte que nos tocou
O epicarpo, o mesocarpo, o endocarpo
Todo mundo policarpo, brasileiro sim senhor
Essa é a Maria tico-tico e onde ela põe a boca o beijaflor põe o bico
Essa é a Maria tico-tico, onde ela põe a boca o beijaflor põe o bico
Alegria do pobre sem a tristeza do rico
Alegria do pobre sem a tristeza do rico
Preciso libertar esse coco, preciso libertar esse coco
O coco livre nos alegra mais um pouco
O coco livre nos alegra mais um pouco (...)
(Disponível em: https://m.letras.mus.br/genesio-tocantins/coco-livre-sa/)
A palavra “coco”, usada tantas vezes na cantiga acima, ora representa um ritmo musical, ora o fruto do coqueiro.
Assinale o par de versos que exemplifica a homonímia referida na afirmação anterior.
23 de maio. Levantei de manhã triste porque estava chovendo. [...] O barraco está numa desordem horrivel. É que eu não tenho sabão para lavar as louças. Digo louça por hábito. Mas é as latas. Se tivesse sabão eu ia lavar as roupas. Eu não sou desmazelada. Se ando suja é devido a reviravolta da vida de um favelado. Cheguei a conclusão que quem não tem de ir pro céu, não adianta olhar pra cima. É igual a nós que não gostamos da favela, mas somos obrigados a residir na favela.
...Fiz a comida. Achei bonito a gordura frigindo na panela. Que espetáculo deslumbrante! As crianças sorrindo vendo a comida ferver nas panelas. Ainda mais quando é arroz e feijão, é um dia de festa para eles.
Antigamente era a macarronada o prato mais caro. Agora é o arroz e feijão que suplanta a macarronada. São os novos ricos. Passou para o lado dos fidalgos. Até vocês, feijão e arroz, nos abandona! Vocês que eram os amigos dos marginais, dos favelados, dos indigentes. Vejam só. Até o feijão nos esqueceu. Não está ao alcance dos infelizes que estão no quarto de despejo. Quem não nos despresou foi o fubá. Mas as crianças não gostam de fubá.
Quando puis a comida o João sorriu. Comeram e não aludiram a cor negra do feijão. Porque negra é a nossa vida. Negro é tudo que nos rodeia. (...)
(JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2014.)
Pode-se afirmar, pela leitura do trecho acima, que a referência aos utensílios domésticos e a personificação dos alimentos sugerem uma estratégia para