TEXTO:
A sua medicina [...] quantitativamente, assombra.
Da noite cerebral pirilampejam-lhe apozemas, cerotos,
arrobes e eletuários escapos à sagacidade cômica de
Mark Twain. [...] A rede na qual dois homens levam à
[5] cova as vítimas de semelhante farmacopeia é o
espetáculo mais triste da roça.
Quem aplica as mezinhas é o “curador”, um Eusébio
Macário de pé no chão e cérebro trancado como moita
de taquaruçu. O veículo usual das drogas é sempre a
[10] pinga — meio honesto de render homenagem à deusa
Cachaça, divindade que entre eles ainda não encontrou
heréticos.
Doenças hajam que remédios não faltam.
Para bronquite, é infalível cuspir o doente na boca
[15] de um peixe vivo e soltá-lo: o mal se vai com o peixe
água abaixo…
[...] O específico da brotoeja consiste em
cozimento de beiço de pote para lavagens. Ainda há
aqui um pormenor de monta; é preciso que antes do
[20] banho a mãe do doente molhe na água a ponta de sua
trança. As brotoejas saram como por encanto.
Para dor de peito que “responde na cacunda”,
cataplasma de “jasmim de cachorro” é um porrete.
Além dessa alopatia, para a qual contribui tudo
[25] quanto de mais repugnante e inócuo existe na natureza,
há a medicação simpática, baseada na influição
misteriosa de objetos, palavras e atos sobre o corpo
humano. [...]
A posse de certos objetos confere dotes
[30] sobrenaturais. A invulnerabilidade às facadas ou cargas
de chumbo é obtida graças à flor da samambaia.
[...]
Todos os volumes do Larousse não bastariam para
catalogar-lhes as crendices, e como não há linhas
divisórias entre essas e a religião, confundem-se ambas
[35] em maranhada teia, não havendo distinguir onde para
uma e começa outra.
LOBATO, Monteiro. Urupés. Disponível em: <books.google.com.br/ books2od=e Btwl.s9uj9EC>. Acesso em: 25 nov. 2017.
Quanto à estruturação do texto, é correto afirmar:
TEXTO:
Se o acesso à saúde pública ainda é um dos
maiores problemas enfrentados pela população no país,
nos interiores e periferias a situação é mais dramática.
Além da falta de hospitais e de unidades de saúde, locais
[5] mais afastados dos grandes centros em geral sofrem
com outra dificuldade, a falta de médicos. O assunto
voltou aos noticiários recentemente, depois de o governo
federal anunciar sua intenção de trazer profissionais
estrangeiros para trabalhar em áreas que carecem de
[10] mão de obra.
Enquanto a iniciativa suscita discordâncias e críticas
de entidades médicas contrárias à “importação” dos
trabalhadores nos moldes propostos pelo Executivo,
quem vive nos interiores tem de lidar com a ausência de
[15] profissionais. Dados do Ministério da Saúde divulgados
em junho mostram que, neste ano, 55% dos municípios
brasileiros que solicitaram médicos junto ao Programa
de Valorização da Atenção Básica (Provab) não
conseguiram sequer um profissional.
[20] A falta de médicos no interior, para o governo federal,
é reflexo do número insuficiente de profissionais no
Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o país
tem apenas 1,8 médico para cada mil brasileiros, índice
abaixo do registrado em países latino-americanos, como
[25] Cuba (6,39), Argentina (3,2) e México (2). Números do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged) também apontam uma carência de profissionais.
De acordo com o Caged, nos últimos dez anos, surgiram
147 mil vagas formais neste mercado contra 93 mil
[30] profissionais formados – um déficit de 54 mil médicos.
O presidente da Associação Brasileira de
Municípios (ABM), Eduardo Tadeu Pereira, reclama da
falta de profissionais. Segundo ele, é comum que as
prefeituras ofereçam salários muito além de suas
[35] possibilidades financeiras para atrair profissionais e,
mesmo assim, as vagas continuam em aberto. “Temos
exemplos de cidades que pagam até R$ 30 mil por mês
para um médico e, mesmo assim, não conseguem
contratar”, relata.
[40] Para o deputado Humberto Costa (PTPE), médico
e ex-ministro da Saúde no governo Lula, a falta de
médicos é uma realidade causada, em grande medida,
pelo corporativismo da categoria, que se mobilizou para
restringir a formação de novos profissionais. “Hoje a
[45] dificuldade é esta: se você se forma e no outro dia tem
um salário à disposição de R$ 15 ou 20 mil onde mora,
por que vai para o interior?”, exemplifica.
O Conselho Federal de Medicina (CFM), porém,
defende que não há falta de profissionais, e sim uma má
[50] distribuição. O corregedor da entidade, José Fernando
Maria Vinagre, lembra que a maioria dos profissionais
está concentrada nas capitais, especialmente nas
regiões Sul e Sudeste. A falta de profissionais no interior,
para ele, é resultado da precariedade das condições de
[55] trabalho impostas aos médicos. Além da falta de
garantias trabalhistas, Vinagre afirma que muitas
prefeituras não têm cumprido o que foi acordado antes
da contratação dos profissionais. “O que estamos vendo
na prática é que se oferece um salário alto, no primeiro
[60] mês se paga e aí começa a não pagar, atrasar ou a
reduzir os salários inicialmente prometidos”, afirma.
A falta de infraestrutura é outro ponto. Segundo o
corregedor do CFM, os médicos não se sentem atraídos
para locais onde não conseguirão desenvolver as suas
[65] atividades de forma satisfatória. “Não adianta só colocar
ele [médico] lá e não ter recursos de laboratório para
exames básicos ou um [aparelho de] Raio-X”, ilustra.
Para a médica e presidenta do Centro Brasileiro de
Estudos da Saúde (Cebes), Ana Maria Costa, o principal
[70] problema é a falta de políticas públicas que consigam
fixar o profissional no interior. Ela destaca que a
Constituição Federal e a Lei Orgânica da Saúde
determinam a construção de um plano de cargos e
salários para estimular a presença de médicos no interior,
[75] mas tais medidas nunca se concretizaram.
BENVENUTI, Patrícia. Falta de médicos afeta o interior. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/node/13465/ com cortes>. Acesso em: 20 nov. 2017. Adaptado.
A leitura do texto permite que se considere como opinião expressa da autora que a falta de médicos em locais mais afastados dos grandes centros
TEXTO:
Se o acesso à saúde pública ainda é um dos
maiores problemas enfrentados pela população no país,
nos interiores e periferias a situação é mais dramática.
Além da falta de hospitais e de unidades de saúde, locais
[5] mais afastados dos grandes centros em geral sofrem
com outra dificuldade, a falta de médicos. O assunto
voltou aos noticiários recentemente, depois de o governo
federal anunciar sua intenção de trazer profissionais
estrangeiros para trabalhar em áreas que carecem de
[10] mão de obra.
Enquanto a iniciativa suscita discordâncias e críticas
de entidades médicas contrárias à “importação” dos
trabalhadores nos moldes propostos pelo Executivo,
quem vive nos interiores tem de lidar com a ausência de
[15] profissionais. Dados do Ministério da Saúde divulgados
em junho mostram que, neste ano, 55% dos municípios
brasileiros que solicitaram médicos junto ao Programa
de Valorização da Atenção Básica (Provab) não
conseguiram sequer um profissional.
[20] A falta de médicos no interior, para o governo federal,
é reflexo do número insuficiente de profissionais no
Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o país
tem apenas 1,8 médico para cada mil brasileiros, índice
abaixo do registrado em países latino-americanos, como
[25] Cuba (6,39), Argentina (3,2) e México (2). Números do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged) também apontam uma carência de profissionais.
De acordo com o Caged, nos últimos dez anos, surgiram
147 mil vagas formais neste mercado contra 93 mil
[30] profissionais formados – um déficit de 54 mil médicos.
O presidente da Associação Brasileira de
Municípios (ABM), Eduardo Tadeu Pereira, reclama da
falta de profissionais. Segundo ele, é comum que as
prefeituras ofereçam salários muito além de suas
[35] possibilidades financeiras para atrair profissionais e,
mesmo assim, as vagas continuam em aberto. “Temos
exemplos de cidades que pagam até R$ 30 mil por mês
para um médico e, mesmo assim, não conseguem
contratar”, relata.
[40] Para o deputado Humberto Costa (PTPE), médico
e ex-ministro da Saúde no governo Lula, a falta de
médicos é uma realidade causada, em grande medida,
pelo corporativismo da categoria, que se mobilizou para
restringir a formação de novos profissionais. “Hoje a
[45] dificuldade é esta: se você se forma e no outro dia tem
um salário à disposição de R$ 15 ou 20 mil onde mora,
por que vai para o interior?”, exemplifica.
O Conselho Federal de Medicina (CFM), porém,
defende que não há falta de profissionais, e sim uma má
[50] distribuição. O corregedor da entidade, José Fernando
Maria Vinagre, lembra que a maioria dos profissionais
está concentrada nas capitais, especialmente nas
regiões Sul e Sudeste. A falta de profissionais no interior,
para ele, é resultado da precariedade das condições de
[55] trabalho impostas aos médicos. Além da falta de
garantias trabalhistas, Vinagre afirma que muitas
prefeituras não têm cumprido o que foi acordado antes
da contratação dos profissionais. “O que estamos vendo
na prática é que se oferece um salário alto, no primeiro
[60] mês se paga e aí começa a não pagar, atrasar ou a
reduzir os salários inicialmente prometidos”, afirma.
A falta de infraestrutura é outro ponto. Segundo o
corregedor do CFM, os médicos não se sentem atraídos
para locais onde não conseguirão desenvolver as suas
[65] atividades de forma satisfatória. “Não adianta só colocar
ele [médico] lá e não ter recursos de laboratório para
exames básicos ou um [aparelho de] Raio-X”, ilustra.
Para a médica e presidenta do Centro Brasileiro de
Estudos da Saúde (Cebes), Ana Maria Costa, o principal
[70] problema é a falta de políticas públicas que consigam
fixar o profissional no interior. Ela destaca que a
Constituição Federal e a Lei Orgânica da Saúde
determinam a construção de um plano de cargos e
salários para estimular a presença de médicos no interior,
[75] mas tais medidas nunca se concretizaram.
BENVENUTI, Patrícia. Falta de médicos afeta o interior. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/node/13465/ com cortes>. Acesso em: 20 nov. 2017. Adaptado.
O que se afirma sobre os recursos linguísticos usados no texto está correto na alternativa
TEXTO:
Se o acesso à saúde pública ainda é um dos
maiores problemas enfrentados pela população no país,
nos interiores e periferias a situação é mais dramática.
Além da falta de hospitais e de unidades de saúde, locais
[5] mais afastados dos grandes centros em geral sofrem
com outra dificuldade, a falta de médicos. O assunto
voltou aos noticiários recentemente, depois de o governo
federal anunciar sua intenção de trazer profissionais
estrangeiros para trabalhar em áreas que carecem de
[10] mão de obra.
Enquanto a iniciativa suscita discordâncias e críticas
de entidades médicas contrárias à “importação” dos
trabalhadores nos moldes propostos pelo Executivo,
quem vive nos interiores tem de lidar com a ausência de
[15] profissionais. Dados do Ministério da Saúde divulgados
em junho mostram que, neste ano, 55% dos municípios
brasileiros que solicitaram médicos junto ao Programa
de Valorização da Atenção Básica (Provab) não
conseguiram sequer um profissional.
[20] A falta de médicos no interior, para o governo federal,
é reflexo do número insuficiente de profissionais no
Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o país
tem apenas 1,8 médico para cada mil brasileiros, índice
abaixo do registrado em países latino-americanos, como
[25] Cuba (6,39), Argentina (3,2) e México (2). Números do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged) também apontam uma carência de profissionais.
De acordo com o Caged, nos últimos dez anos, surgiram
147 mil vagas formais neste mercado contra 93 mil
[30] profissionais formados – um déficit de 54 mil médicos.
O presidente da Associação Brasileira de
Municípios (ABM), Eduardo Tadeu Pereira, reclama da
falta de profissionais. Segundo ele, é comum que as
prefeituras ofereçam salários muito além de suas
[35] possibilidades financeiras para atrair profissionais e,
mesmo assim, as vagas continuam em aberto. “Temos
exemplos de cidades que pagam até R$ 30 mil por mês
para um médico e, mesmo assim, não conseguem
contratar”, relata.
[40] Para o deputado Humberto Costa (PTPE), médico
e ex-ministro da Saúde no governo Lula, a falta de
médicos é uma realidade causada, em grande medida,
pelo corporativismo da categoria, que se mobilizou para
restringir a formação de novos profissionais. “Hoje a
[45] dificuldade é esta: se você se forma e no outro dia tem
um salário à disposição de R$ 15 ou 20 mil onde mora,
por que vai para o interior?”, exemplifica.
O Conselho Federal de Medicina (CFM), porém,
defende que não há falta de profissionais, e sim uma má
[50] distribuição. O corregedor da entidade, José Fernando
Maria Vinagre, lembra que a maioria dos profissionais
está concentrada nas capitais, especialmente nas
regiões Sul e Sudeste. A falta de profissionais no interior,
para ele, é resultado da precariedade das condições de
[55] trabalho impostas aos médicos. Além da falta de
garantias trabalhistas, Vinagre afirma que muitas
prefeituras não têm cumprido o que foi acordado antes
da contratação dos profissionais. “O que estamos vendo
na prática é que se oferece um salário alto, no primeiro
[60] mês se paga e aí começa a não pagar, atrasar ou a
reduzir os salários inicialmente prometidos”, afirma.
A falta de infraestrutura é outro ponto. Segundo o
corregedor do CFM, os médicos não se sentem atraídos
para locais onde não conseguirão desenvolver as suas
[65] atividades de forma satisfatória. “Não adianta só colocar
ele [médico] lá e não ter recursos de laboratório para
exames básicos ou um [aparelho de] Raio-X”, ilustra.
Para a médica e presidenta do Centro Brasileiro de
Estudos da Saúde (Cebes), Ana Maria Costa, o principal
[70] problema é a falta de políticas públicas que consigam
fixar o profissional no interior. Ela destaca que a
Constituição Federal e a Lei Orgânica da Saúde
determinam a construção de um plano de cargos e
salários para estimular a presença de médicos no interior,
[75] mas tais medidas nunca se concretizaram.
BENVENUTI, Patrícia. Falta de médicos afeta o interior. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/node/13465/ com cortes>. Acesso em: 20 nov. 2017. Adaptado.
Para validar a sua argumentação, o articulista utiliza-se de outros discursos que, inseridos no contexto proposto,
TEXTO:
Estudos sobre a prevalência de doenças crônicas
revelam gradientes que tendem a apresentar os valores
mais elevados nos segmentos economicamente
desfavorecidos. A magnitude das desigualdades varia
[5] com o tipo de problema de saúde e com os subgrupos
demográficos analisados. Reconhecidamente, estes
diferenciais tendem a declinar com o avanço da idade,
apresentando-se menos exuberantes nos idosos de que
nos adultos jovens e na infância, o que em parte decorre
[10] da mortalidade mais precoce que acomete as camadas
sociais mais carentes.
AZEVEDO BARROS, Marilisa Berti de. Tendências das desigualdades sociais e demográficas na prevalência de doenças crônicas no Brasil, PNAD: 2003- 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ csc/v16n9/a12v16n9>. Acesso em: 20 nov. 2017.
A análise linguística do fragmento transcrito está correta em
TEXTO:
A sua medicina [...] quantitativamente, assombra.
Da noite cerebral pirilampejam-lhe apozemas, cerotos,
arrobes e eletuários escapos à sagacidade cômica de
Mark Twain. [...] A rede na qual dois homens levam à
[5] cova as vítimas de semelhante farmacopeia é o
espetáculo mais triste da roça.
Quem aplica as mezinhas é o “curador”, um Eusébio
Macário de pé no chão e cérebro trancado como moita
de taquaruçu. O veículo usual das drogas é sempre a
[10] pinga — meio honesto de render homenagem à deusa
Cachaça, divindade que entre eles ainda não encontrou
heréticos.
Doenças hajam que remédios não faltam.
Para bronquite, é infalível cuspir o doente na boca
[15] de um peixe vivo e soltá-lo: o mal se vai com o peixe
água abaixo…
[...] O específico da brotoeja consiste em
cozimento de beiço de pote para lavagens. Ainda há
aqui um pormenor de monta; é preciso que antes do
[20] banho a mãe do doente molhe na água a ponta de sua
trança. As brotoejas saram como por encanto.
Para dor de peito que “responde na cacunda”,
cataplasma de “jasmim de cachorro” é um porrete.
Além dessa alopatia, para a qual contribui tudo
[25] quanto de mais repugnante e inócuo existe na natureza,
há a medicação simpática, baseada na influição
misteriosa de objetos, palavras e atos sobre o corpo
humano. [...]
A posse de certos objetos confere dotes
[30] sobrenaturais. A invulnerabilidade às facadas ou cargas
de chumbo é obtida graças à flor da samambaia.
[...]
Todos os volumes do Larousse não bastariam para
catalogar-lhes as crendices, e como não há linhas
divisórias entre essas e a religião, confundem-se ambas
[35] em maranhada teia, não havendo distinguir onde para
uma e começa outra.
LOBATO, Monteiro. Urupés. Disponível em: <books.google.com.br/ books2od=e Btwl.s9uj9EC>. Acesso em: 25 nov. 2017.
Na descrição que Monteiro Lobato faz da “Medicina da roça”, na obra “Urupês”, que lança o famoso Jeca Tatu, é possível compreender a visão do autor sobre essa prática em