DEBATE ABERTO – Carta Maior, 12 mar. 2012
Proibir ou não, eis a não questão
Não adianta proibir uma torcida de assistir aos jogos. Pois basta que os mesmos sujeitos entrem com camisas brancas e pronto, a proibição está contor - nada. A questão é mais complicada, e tem ressalvas, confissões, críticas, soluções, avisos e enfins.
José Roberto Torero
Num vídeo disponível na internet, André Lezo, o torcedor que morreu neste domingo, fala que a Mancha e o Palmeiras eram sua vida. Isso é triste por várias razões:
Primeiro, pelo infeliz trocadilho, pois André não teve vida, mas morte, por conta de Palmeiras e Mancha.
Em segundo lugar, porque há uma certa desesperança em alguém dizer que o futebol é a coisa mais importante de sua vida. É muita falta de expectativa. É sinal de uma vida sem sentido.
Acredito que este crescimento da importância do futebol tem duas causas. A primeira é a queda do nível da educação nacional, que começou em meados dos anos sessenta, durante a ditadura militar. No longo prazo, essa educação falha fez com que valores fossem substituídos, que a cultura ficasse em segundo plano, que a participação na sociedade fosse evitada etc. Por outro lado, algumas forças sociais, como partidos políticos, comunidades eclesiais de base, sociedades amigos de bairro e sindicatos perderam seu poder de atração. Sem a ditadura como inimigo óbvio, elas não conseguiram criar novos desejos, novas causas.
As pessoas querem agir, querem fazer parte. E, sem muita concorrência, o futebol acabou canalizando boa parte deste desejo.
O que é uma pena, porque o futebol não tem importância nenhuma.
Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/templates/ colunaMostrar.cfm?coluna_id=5531. Acesso em: 8.mai.2012.
No lead, abertura do texto cuja função é apresentar uma síntese do assunto e destacar pontos de relevância, o autor emprega a palavra “enfins”. Qual o efeito de sentido desse emprego?
O mais nobre dos esportes
José Roberto Torero
O homem mais rico do mundo decidiu saber qual era o esporte mais nobre do mundo. Para isso mandou chamar três sábios de três partes diferentes do mundo. Um da China, porque a China é o berço da sabedoria, outro da França, que é o berço da ciência, e outro dos Estados Unidos, que não são o berço de coisa nenhuma, mas ganham muitas medalhas nas Olimpíadas.
Logo que os três sábios chegaram à casa do homem mais rico do mundo, este lhes perguntou: “Senhores quero que me digam qual o esporte mais nobre do mundo. Aquele que me convencer receberá um milhão de dólares”.
Então o chinês disse: “Honorável senhor, em todos os esportes há nobreza, mas em nenhum outro há mais do que no xadrez. Ele é um jogo de estratégias e inteligências, onde mais conta o cérebro do que qualquer outra coisa. O xadrez é o esporte do intelecto”. Depois, satisfeito com suas próprias palavras, sentou-se e tomou seu chá.
Então o francês falou: “Monsieur, nenhum esporte se compara à esgrima. Na esgrima, treinamos pontaria e rapidez, defesa e ataque, reflexos e precisão. É um esporte onde todo o corpo é necessário, e por isso é o esporte da habilidade física”. Depois, satisfeito com suas palavras, sentou-se e tomou seu vinho.
Então o norte-americano rosnou: “Mister, o xadrez e a esgrima são okeis, mas o mais nobre dos esportes é o pôquer. Ele exige dissimulação e farsa, psicologia e trama. É um esporte que não se joga apenas com o corpo e o cérebro, mas também com a alma. É o esporte do controle emocional”. Depois, satisfeito, sentou-se e tomou seu uísque.
O homem mais rico do mundo pediu então algum tempo para pensar sobre aqueles profundos arrazoamentos, e, como pensar dá fome, pediu uma pizza pelo telefone.
Quando o entregador chegou com as pizzas, o homem mais rico do mundo, só por brincadeira, resolveu lhe perguntar qual era o esporte mais nobre: o xadrez, a esgrima ou o pôquer. O entregador não se fez de rogado e disse assim:
“Esses três esportes são importantes, mas o mais nobre de todos é o futebol de botão”.
Os três sábios caíram na gargalhada, mas o entregador permaneceu imperturbável.
“Vejam, o futebol de botão é uma síntese do conhecimento humano. Ele necessita de movimentos estratégicos como o xadrez, pede pontaria, reflexos e precisão como a esgrima, e precisa de autodomínio como o pôquer. O futebol de botão é o único esporte onde são necessários intelecto, habilidade física e controle emocional. Tudo ao mesmo tempo e em igual proporção.”
Todos ficaram boquiabertos com tais idéias e as aplaudiram com entusiasmo.
O entregador então fez uma partida com cada um dos presentes para celebrar a mais nobre das artes. Ele venceu de 8 x 0 o chinês, goleou o francês por 9 x 0 e deu de 10 x 0 no norte-americano. Mas, estranhamente, perdeu de 1 x 0 para o anfitrião, com um gol contra.
Com isso, o homem mais rico do mundo ficou tão feliz, que não deu apenas um milhão de dólares ao entregador, mas dez. E a moral dessa fábula esportiva, se é que há alguma, é que é bom ser sábio. Ainda melhor é ser esperto.
In: Folha de S. Paulo, caderno Esporte, 10 out. 1998
Quais características permitem considerar o texto de Torero uma “fábula esportiva”?
O mais nobre dos esportes
José Roberto Torero
O homem mais rico do mundo decidiu saber qual era o esporte mais nobre do mundo. Para isso mandou chamar três sábios de três partes diferentes do mundo. Um da China, porque a China é o berço da sabedoria, outro da França, que é o berço da ciência, e outro dos Estados Unidos, que não são o berço de coisa nenhuma, mas ganham muitas medalhas nas Olimpíadas.
Logo que os três sábios chegaram à casa do homem mais rico do mundo, este lhes perguntou: “Senhores quero que me digam qual o esporte mais nobre do mundo. Aquele que me convencer receberá um milhão de dólares”.
Então o chinês disse: “Honorável senhor, em todos os esportes há nobreza, mas em nenhum outro há mais do que no xadrez. Ele é um jogo de estratégias e inteligências, onde mais conta o cérebro do que qualquer outra coisa. O xadrez é o esporte do intelecto”. Depois, satisfeito com suas próprias palavras, sentou-se e tomou seu chá.
Então o francês falou: “Monsieur, nenhum esporte se compara à esgrima. Na esgrima, treinamos pontaria e rapidez, defesa e ataque, reflexos e precisão. É um esporte onde todo o corpo é necessário, e por isso é o esporte da habilidade física”. Depois, satisfeito com suas palavras, sentou-se e tomou seu vinho.
Então o norte-americano rosnou: “Mister, o xadrez e a esgrima são okeis, mas o mais nobre dos esportes é o pôquer. Ele exige dissimulação e farsa, psicologia e trama. É um esporte que não se joga apenas com o corpo e o cérebro, mas também com a alma. É o esporte do controle emocional”. Depois, satisfeito, sentou-se e tomou seu uísque.
O homem mais rico do mundo pediu então algum tempo para pensar sobre aqueles profundos arrazoamentos, e, como pensar dá fome, pediu uma pizza pelo telefone.
Quando o entregador chegou com as pizzas, o homem mais rico do mundo, só por brincadeira, resolveu lhe perguntar qual era o esporte mais nobre: o xadrez, a esgrima ou o pôquer. O entregador não se fez de rogado e disse assim:
“Esses três esportes são importantes, mas o mais nobre de todos é o futebol de botão”.
Os três sábios caíram na gargalhada, mas o entregador permaneceu imperturbável.
“Vejam, o futebol de botão é uma síntese do conhecimento humano. Ele necessita de movimentos estratégicos como o xadrez, pede pontaria, reflexos e precisão como a esgrima, e precisa de autodomínio como o pôquer. O futebol de botão é o único esporte onde são necessários intelecto, habilidade física e controle emocional. Tudo ao mesmo tempo e em igual proporção.”
Todos ficaram boquiabertos com tais idéias e as aplaudiram com entusiasmo.
O entregador então fez uma partida com cada um dos presentes para celebrar a mais nobre das artes. Ele venceu de 8 x 0 o chinês, goleou o francês por 9 x 0 e deu de 10 x 0 no norte-americano. Mas, estranhamente, perdeu de 1 x 0 para o anfitrião, com um gol contra.
Com isso, o homem mais rico do mundo ficou tão feliz, que não deu apenas um milhão de dólares ao entregador, mas dez. E a moral dessa fábula esportiva, se é que há alguma, é que é bom ser sábio. Ainda melhor é ser esperto.
In: Folha de S. Paulo, caderno Esporte, 10 out. 1998
Qual elemento linguístico no penúltimo parágrafo justifica a moral da fábula?
O mais nobre dos esportes
José Roberto Torero
O homem mais rico do mundo decidiu saber qual era o esporte mais nobre do mundo. Para isso mandou chamar três sábios de três partes diferentes do mundo. Um da China, porque a China é o berço da sabedoria, outro da França, que é o berço da ciência, e outro dos Estados Unidos, que não são o berço de coisa nenhuma, mas ganham muitas medalhas nas Olimpíadas.
Logo que os três sábios chegaram à casa do homem mais rico do mundo, este lhes perguntou: “Senhores quero que me digam qual o esporte mais nobre do mundo. Aquele que me convencer receberá um milhão de dólares”.
Então o chinês disse: “Honorável senhor, em todos os esportes há nobreza, mas em nenhum outro há mais do que no xadrez. Ele é um jogo de estratégias e inteligências, onde mais conta o cérebro do que qualquer outra coisa. O xadrez é o esporte do intelecto”. Depois, satisfeito com suas próprias palavras, sentou-se e tomou seu chá.
Então o francês falou: “Monsieur, nenhum esporte se compara à esgrima. Na esgrima, treinamos pontaria e rapidez, defesa e ataque, reflexos e precisão. É um esporte onde todo o corpo é necessário, e por isso é o esporte da habilidade física”. Depois, satisfeito com suas palavras, sentou-se e tomou seu vinho.
Então o norte-americano rosnou: “Mister, o xadrez e a esgrima são okeis, mas o mais nobre dos esportes é o pôquer. Ele exige dissimulação e farsa, psicologia e trama. É um esporte que não se joga apenas com o corpo e o cérebro, mas também com a alma. É o esporte do controle emocional”. Depois, satisfeito, sentou-se e tomou seu uísque.
O homem mais rico do mundo pediu então algum tempo para pensar sobre aqueles profundos arrazoamentos, e, como pensar dá fome, pediu uma pizza pelo telefone.
Quando o entregador chegou com as pizzas, o homem mais rico do mundo, só por brincadeira, resolveu lhe perguntar qual era o esporte mais nobre: o xadrez, a esgrima ou o pôquer. O entregador não se fez de rogado e disse assim:
“Esses três esportes são importantes, mas o mais nobre de todos é o futebol de botão”.
Os três sábios caíram na gargalhada, mas o entregador permaneceu imperturbável.
“Vejam, o futebol de botão é uma síntese do conhecimento humano. Ele necessita de movimentos estratégicos como o xadrez, pede pontaria, reflexos e precisão como a esgrima, e precisa de autodomínio como o pôquer. O futebol de botão é o único esporte onde são necessários intelecto, habilidade física e controle emocional. Tudo ao mesmo tempo e em igual proporção.”
Todos ficaram boquiabertos com tais idéias e as aplaudiram com entusiasmo.
O entregador então fez uma partida com cada um dos presentes para celebrar a mais nobre das artes. Ele venceu de 8 x 0 o chinês, goleou o francês por 9 x 0 e deu de 10 x 0 no norte-americano. Mas, estranhamente, perdeu de 1 x 0 para o anfitrião, com um gol contra.
Com isso, o homem mais rico do mundo ficou tão feliz, que não deu apenas um milhão de dólares ao entregador, mas dez. E a moral dessa fábula esportiva, se é que há alguma, é que é bom ser sábio. Ainda melhor é ser esperto.
In: Folha de S. Paulo, caderno Esporte, 10 out. 1998
Aponte a que se referem os pronomes evidenciados, respeitando a ordem em que aparecem.
Não adianta proibir uma torcida de assistir aos jogos. Pois basta que os mesmos sujeitos entrem com camisas brancas e pronto, a proibição está contor - nada. A questão é mais complicada, e tem ressalvas, confissões, críticas, soluções, avisos e enfins.
José Roberto ToreroNum vídeo disponível na internet, André Lezo, o torcedor que morreu neste domingo, fala que a Mancha e o Palmeiras eram sua vida. Isso é triste por várias razões: Primeiro, pelo infeliz trocadilho, pois André não teve vida, mas morte, por conta de Palmeiras e Mancha. Em segundo lugar, porque há uma certa desesperança em alguém dizer que o futebol é a coisa mais importante de sua vida. É muita falta de expectativa. É sinal de uma vida sem sentido.
Acredito que este crescimento da importância do futebol tem duas causas. A primeira é a queda do nível da educação nacional, que começou em meados dos anos sessenta, durante a ditadura militar. No longo prazo, essa educação falha fez com que valores fossem substituídos, que a cultura ficasse em segundo plano, que a participação na sociedade fosse evitada etc. Por outro lado, algumas forças sociais, como partidos políticos, comunidades eclesiais de base, sociedades amigos de bairro e sindicatos perderam seu poder de atração. Sem a ditadura como inimigo óbvio, elas não conseguiram criar novos desejos, novas causas.
As pessoas querem agir, querem fazer parte. E, sem muita concorrência, o futebol acabou canalizando boa parte deste desejo.
O que é uma pena, porque o futebol não temimportância nenhuma.
Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5531. Acesso em: 8.mai.2012.Os elementos conectores destacados no texto, estabelecem, respectivamente, a ideia de