Texto para a questão
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
[5] A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
[10] o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
[15] ,em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979
No poema, a referência à variedade padrão da língua está expressa no seguinte trecho:
As linhas nas duas figuras geram um efeito que se associa ao seguinte ditado popular:
Depois de um bom jantar: feijão com carne-seca, orelha de porco e couve com angu, arroz-mole engordurado, carne de vento assada no espeto, torresmo enxuto de toicinho da barriga, viradinho de milho verde e um prato de caldo de couve, jantar encerrado por um prato fundo de canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé saboreou o café forte e se estendeu na rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa de travesseiro, o indefectível cigarro de palha entre as pontas do indicador e do polegar, envernizados pela fumaça, de unhas encanoadas e longas, ficou-se de pança para o ar, modorrento, a olhar para as ripas do telhado.
Quem come e não deita, a comida não aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se a cochilar. A sua modorra durou pouco; Tia Policena, ao passar pela sala, bradou assombrada:
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não! Num presta... Dá pisadêra e póde morrê de ataque de cabeça! Despois do armoço num far-má... mais despois da janta?!”
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.
Nesse trecho, extraído de texto publicado originalmente em 1921, o narrador
No romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber o salário. Eis parte da cena:
Não se conformou: devia haver engano. (...)
Com certeza havia um erro no papel do branco. Não
se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos.
Passar a vida inteira assim no toco, entregando o
[5] que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo?
Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de
alforria?
O patrão zangou-se, repeliu a insolência,
achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço
[10] noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou.
Bem, bem. Não era preciso barulho não.
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003
No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário.
Pertence à variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho: