Assinale a alternativa em que a palavra “meio” NÃO deveria variar, em virtude de ser advérbio:
Nada parece incrível quando o assunto é política ou religião. Faz algum tempo, li no Estado de S. Paulo uma reportagem sobre um crente mineiro que havia comprado por 15 mil reais um diploma assinado por Jesus Cristo. A fotografia do diploma ilustrava o texto da reportagem. Incrédulo, vi a assinatura do filho de Deus. Consta que não tinha firma reconhecida num cartório de Minas. Não sei o que diriam o Santo Pontífice e seu enorme rebanho sobre essa blasfêmia, essa ignomínia. Sei, pela reportagem, o que disse a mãe do comprador do diploma: “Vou processar o pastor e sua igreja”. O filho diplomado (e ludibriado) levou um carão de sua mãe. Crente ou agnóstica, a verdade é que essa senhora ficou endividada até a medula. Ela, que não era uma mulher rica, agora é mais uma mãe mineira à beira da pobreza.
Minas Gerais de assombros e blasfêmias... Certa vez, ao entrar numa igrejinha de São João del-Rey vi, lado a lado, uma prostituta e um travesti, ambos ajoelhados, orando por algum santo ou por Deus e seu filho, que não desprezam os desvalidos deste mundo. Os dois fiéis saíram juntos da igreja, talvez penitenciados. Tive vontade de perguntar a eles o que tinham rezado, ou o que tinham pedido a Deus ou a algum santo. Não perguntei nada: a noite de São João os esperava.
E agora me lembro de uma das primeiras reportagens que escrevi para uma revista de São Paulo. Foi uma prova de fogo. Como o evento era no Pacaembu, imaginei um jogo de futebol, numa época em que não perdia clássicos disputados pelo Santos. “Não é futebol”, disse o editor. “É um jogo mais perigoso”.
Então, para não mais postergar o assunto, lembro que, em 1978 ou 79, assisti a um espetáculo inesquecível: o grande culto de uma igreja pentecostal, presidida por um grão-pastor, um bispo que se dirigia a milhares de fiéis magnetizados pelo dom do orador, cujo discurso em tom apocalíptico era enfatizado por gestos teatrais. Vi uma multidão de pobres e miseráveis brasileiros jogar moedas e cédulas em sacos de plástico preto; vi crianças agitadas, gritando com seus pais louvações a Jesus, todas em uníssono, como se estivessem preparadas para uma guerra.
Alguma coisa estava surgindo durante o crepúsculo no Pacaembu, algo terrível e inexorável, uma catarse coletiva da miséria, da loucura. Talvez seja mais correto dizer: da nossa miséria ancestral, histórica, irremediável. Naquela tarde, pensei que o estádio tivesse se transformado no maior manicômio do mundo, uma metonímia do Brasil e desta pobre América.
Trinta nos depois, um humilde zelador mineiro compra um diploma assinado por Jesus Cristo. Não sei quando tudo isso terminará. Talvez não termine nunca e seja apenas o começo de um tempo ainda mais sombrio.
(Milton Hatoum: Tarde delirante no Pacaembu, no livro Um solitário à espreita, p. 119)
Leia as afirmativas a seguir, feitas sobre o texto:
I. Tendo caráter dissertativo, o texto apresenta, no quarto parágrafo, uma narração.
II. O autor, implicitamente, defende o catolicismo, religião que prefere às evangélicas.
III. No primeiro parágrafo, a fala da mãe do diplomado, embora posta entre aspas, é um exemplo de discurso indireto.
IV.A palavra “metonímia”, no penúltimo parágrafo, indica que o Pacaembu, no episódio relatado, era o Brasil em tamanho menor.
V. Em pelo menos dois momentos o texto apresenta “flashback”, que se caracteriza por ser um retorno ao passado.
Assinale a alternativa correta:
Nada parece incrível quando o assunto é política ou religião. Faz algum tempo, li no Estado de S. Paulo uma reportagem sobre um crente mineiro que havia comprado por 15 mil reais um diploma assinado por Jesus Cristo. A fotografia do diploma ilustrava o texto da reportagem. Incrédulo, vi a assinatura do filho de Deus. Consta que não tinha firma reconhecida num cartório de Minas. Não sei o que diriam o Santo Pontífice e seu enorme rebanho sobre essa blasfêmia, essa ignomínia. Sei, pela reportagem, o que disse a mãe do comprador do diploma: “Vou processar o pastor e sua igreja”. O filho diplomado (e ludibriado) levou um carão de sua mãe. Crente ou agnóstica, a verdade é que essa senhora ficou endividada até a medula. Ela, que não era uma mulher rica, agora é mais uma mãe mineira à beira da pobreza.
Minas Gerais de assombros e blasfêmias... Certa vez, ao entrar numa igrejinha de São João del-Rey vi, lado a lado, uma prostituta e um travesti, ambos ajoelhados, orando por algum santo ou por Deus e seu filho, que não desprezam os desvalidos deste mundo. Os dois fiéis saíram juntos da igreja, talvez penitenciados. Tive vontade de perguntar a eles o que tinham rezado, ou o que tinham pedido a Deus ou a algum santo. Não perguntei nada: a noite de São João os esperava.
E agora me lembro de uma das primeiras reportagens que escrevi para uma revista de São Paulo. Foi uma prova de fogo. Como o evento era no Pacaembu, imaginei um jogo de futebol, numa época em que não perdia clássicos disputados pelo Santos. “Não é futebol”, disse o editor. “É um jogo mais perigoso”.
Então, para não mais postergar o assunto, lembro que, em 1978 ou 79, assisti a um espetáculo inesquecível: o grande culto de uma igreja pentecostal, presidida por um grão-pastor, um bispo que se dirigia a milhares de fiéis magnetizados pelo dom do orador, cujo discurso em tom apocalíptico era enfatizado por gestos teatrais. Vi uma multidão de pobres e miseráveis brasileiros jogar moedas e cédulas em sacos de plástico preto; vi crianças agitadas, gritando com seus pais louvações a Jesus, todas em uníssono, como se estivessem preparadas para uma guerra.
Alguma coisa estava surgindo durante o crepúsculo no Pacaembu, algo terrível e inexorável, uma catarse coletiva da miséria, da loucura. Talvez seja mais correto dizer: da nossa miséria ancestral, histórica, irremediável. Naquela tarde, pensei que o estádio tivesse se transformado no maior manicômio do mundo, uma metonímia do Brasil e desta pobre América.
Trinta nos depois, um humilde zelador mineiro compra um diploma assinado por Jesus Cristo. Não sei quando tudo isso terminará. Talvez não termine nunca e seja apenas o começo de um tempo ainda mais sombrio.
(Milton Hatoum: Tarde delirante no Pacaembu, no livro Um solitário à espreita, p. 119)
Dentre as palavras postas em destaque no texto, assinale aquela que se apresenta CORRETAMENTE definida, de acordo com o sentido do enunciado em que se insere:
Assinale a alternativa em que a forma verbal NÃO apresenta nem vogal temática nem desinência número pessoal:
Leia o texto a seguir para responder à questão:
Não conhecia Alumínio, um município paulista perto de São Roque, uma cidade histórica cercada por serras. No passado, esse relevo verde fazia parte da Mata Atlântica. Hoje, apenas um parque sobreviveu a essa floresta. Fundada há mais de quatro séculos por bandeirantes, a história de São Roque – capela, fazenda e escravos – diz muito sobre a história de São Paulo e do Brasil. Mas Alumínio, muito mais recente, também tem uma história.
(Milton Hatoum: Viagem ao interior paulista, no livro Um solitário à espreita, p. 142)
No texto predomina a função:
Assinale a alternativa em que o(s) acento(s) indicativo(s) de crase está(ao) CORRETAMENTE empregado(s):