TEXTO
A POLÊMICA DO SOL
(Daniel Cunha)
[1] [...] Os humanos, desde sempre, mantiveram uma relação íntima com o Sol. Mas, quando a
Revolução Industrial entrou em cena, no século 18, essa história tomou outro rumo. Abarrotadas de
trabalhadores, as cidades começaram a se estreitar, com prédios cada vez mais próximos, ficando cheias de
sombras. A fuligem da queima de carvão, além de poluir, dificultava a passagem dos raios solares. Crianças
[5] da Inglaterra e do norte da Europa começaram a apresentar deformações nos ossos, bolinhas na pele e máformação
dos dentes. Estavam sofrendo de uma doença pouco conhecida até o momento: o raquitismo.
Em 1916, Harry Steenbock, da Universidade de Wisconsin, descobriu que a luz solar era a resposta
para o raquitismo. Surgiu então a moda da helioterapia (terapia de exposição ao sol), que havia sido
idealizada pela primeira vez pelo historiador grego Heródoto, no século I. Na Europa e nos EUA, hospitais
[10] construíram solários e varandas para banhos de sol. Nessa mesma época, outros pesquisadores queriam
entender por que a Noruega, ao contrário dos países vizinhos, registrava baixos índices de raquitismo. O
segredo estava na dieta: os noruegueses se alimentavam, principalmente, de peixes selvagens – e
consumiam muito óleo de fígado de bacalhau. O bioquímico americano Elmer McCollum, também da
Universidade de Wisconsin, analisou esses alimentos e neles encontrou uma nova substância, que batizou de
[15] vitamina D. Os médicos passaram a receitar óleo de fígado de bacalhau, alimento que contém uma
quantidade considerável da substância [...]. A indústria do leite começou a fortificar o produto com vitamina
D, que pode ser sintetizada quimicamente ou retirada do sebo de ovelhas.
Mas, de lá para cá, aconteceram duas coisas. Primeiro, nosso estilo de vida passou a incluir cada vez
menos sol. Usamos protetor solar, nos cobrimos mais, ficamos mais tempo em locais fechados. No Brasil, o
[20] consumo de protetor sextuplicou em menos de 15 anos. Por uma boa causa, claro: proteger a pele do câncer.
Só que isso derruba a produção de vitamina D. Aplicar um filtro solar fator (FPS) 15 reduz em 98% a
produção dessa vitamina.
A outra mudança foi na própria atmosfera terrestre. Um estudo feito na Índia comparou dois grupos
de bebês, com idades entre 9 e 24 meses. Todos seguiam a mesma dieta (as mães eram vegetarianas, e os
[25] bebês se alimentavam de leite materno), eram da mesma etnia e tinham o mesmo nível socioeconômico. A
única diferença estava no ar. Um grupo morava num bairro com alto nível de poluição atmosférica; o outro
respirava ar mais puro. Os resultados foram claríssimos – e chocantes. Os bebês do bairro poluído tinham 12
monogramas de vitamina D por mililitro de sangue. Os outros tinham 27, mais que o dobro. A poluição
literalmente bloqueia a luz solar, dificultando seu trabalho. “Os compostos químicos que estão no ar
[30] absorvem parte dos raios UVB”, explica Lilian Cuppari, pesquisadora da Unifesp e uma das autoras do
estudo sobre a falta de vitamina D no Brasil. Talvez nada ilustre melhor a importância do sol do que a
história recente do Irã. Até a Revolução Iraniana, o país era governado pelo xá Reza Pahlavi, amigo dos
Estados Unidos. Tudo era bem ocidentalizado, inclusive as roupas das pessoas. Em 1979, o aiatolá
Khomeini tomou o poder, instaurou um governo islâmico, e as mulheres passaram a usar trajes tradicionais
[35] e recatados, que cobrem quase todo o corpo. O efeito sobre a saúde foi imediato – e fortíssimo. Entre 1989 e
2006, o número de casos de esclerose múltipla cresceu 800% no país (como mostrou um estudo realizado
em 2013 pela Universidade de Oxford).
Até a década de 1990, acreditava-se que a única função da vitamina D era contribuir para a saúde
dos ossos. Nos últimos anos, pipocaram novos estudos (foram mais de 2 mil só em 2014) e hoje sabe-se que
[40] ela age em diversas partes do corpo: incluindo o cérebro, coração, estômago e pulmões. [...]
Sem falar no câncer. Há pesquisas mostrando que a vitamina D desacelera a progressão do câncer de
Apesar de tantas evidências, a vitamina D ainda é alvo de muita polêmica. A maior parte das
sociedades médicas do mundo e dos órgãos responsáveis por definir as diretrizes para os profissionais de
[45] saúde continuam recomendando cuidado com o sol [...]
No fim da história, [...] uma só dica sobre o futuro seria esta: tome um pouco de sol. Não muito: 15
minutos, sem protetor solar, bastam para a maioria das pessoas (sempre tendo o cuidado de não passar do
ponto e ficar vermelho, o que é perigoso). Quanto maior a região do corpo exposta, maior será a produção.
Não precisa expor o rosto – que é muito sensível e tem uma área relativamente pequena, portanto produz
[50] pouca vitamina D. Tomar sol nos braços e nas pernas já está bom. “Esperar o ônibus no ponto sem protetor
já é capaz de elevar significativamente as taxas”, explica a médica Lilian Cuppari. [...]
(Revista Superinteressante, edição 345, p. 35-42, abril de 2015. Adaptado.) mama e de próstata [...] câncer de cólon, pâncreas, cérebro, bexiga, rins e leucemia. [...]
Os benefícios da exposição ao sol
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A POLÊMICA DO SOL
(Daniel Cunha)
[1] [...] Os humanos, desde sempre, mantiveram uma relação íntima com o Sol. Mas, quando a
Revolução Industrial entrou em cena, no século 18, essa história tomou outro rumo. Abarrotadas de
trabalhadores, as cidades começaram a se estreitar, com prédios cada vez mais próximos, ficando cheias de
sombras. A fuligem da queima de carvão, além de poluir, dificultava a passagem dos raios solares. Crianças
[5] da Inglaterra e do norte da Europa começaram a apresentar deformações nos ossos, bolinhas na pele e máformação
dos dentes. Estavam sofrendo de uma doença pouco conhecida até o momento: o raquitismo.
Em 1916, Harry Steenbock, da Universidade de Wisconsin, descobriu que a luz solar era a resposta
para o raquitismo. Surgiu então a moda da helioterapia (terapia de exposição ao sol), que havia sido
idealizada pela primeira vez pelo historiador grego Heródoto, no século I. Na Europa e nos EUA, hospitais
[10] construíram solários e varandas para banhos de sol. Nessa mesma época, outros pesquisadores queriam
entender por que a Noruega, ao contrário dos países vizinhos, registrava baixos índices de raquitismo. O
segredo estava na dieta: os noruegueses se alimentavam, principalmente, de peixes selvagens – e
consumiam muito óleo de fígado de bacalhau. O bioquímico americano Elmer McCollum, também da
Universidade de Wisconsin, analisou esses alimentos e neles encontrou uma nova substância, que batizou de
[15] vitamina D. Os médicos passaram a receitar óleo de fígado de bacalhau, alimento que contém uma
quantidade considerável da substância [...]. A indústria do leite começou a fortificar o produto com vitamina
D, que pode ser sintetizada quimicamente ou retirada do sebo de ovelhas.
Mas, de lá para cá, aconteceram duas coisas. Primeiro, nosso estilo de vida passou a incluir cada vez
menos sol. Usamos protetor solar, nos cobrimos mais, ficamos mais tempo em locais fechados. No Brasil, o
[20] consumo de protetor sextuplicou em menos de 15 anos. Por uma boa causa, claro: proteger a pele do câncer.
Só que isso derruba a produção de vitamina D. Aplicar um filtro solar fator (FPS) 15 reduz em 98% a
produção dessa vitamina.
A outra mudança foi na própria atmosfera terrestre. Um estudo feito na Índia comparou dois grupos
de bebês, com idades entre 9 e 24 meses. Todos seguiam a mesma dieta (as mães eram vegetarianas, e os
[25] bebês se alimentavam de leite materno), eram da mesma etnia e tinham o mesmo nível socioeconômico. A
única diferença estava no ar. Um grupo morava num bairro com alto nível de poluição atmosférica; o outro
respirava ar mais puro. Os resultados foram claríssimos – e chocantes. Os bebês do bairro poluído tinham 12
monogramas de vitamina D por mililitro de sangue. Os outros tinham 27, mais que o dobro. A poluição
literalmente bloqueia a luz solar, dificultando seu trabalho. “Os compostos químicos que estão no ar
[30] absorvem parte dos raios UVB”, explica Lilian Cuppari, pesquisadora da Unifesp e uma das autoras do
estudo sobre a falta de vitamina D no Brasil. Talvez nada ilustre melhor a importância do sol do que a
história recente do Irã. Até a Revolução Iraniana, o país era governado pelo xá Reza Pahlavi, amigo dos
Estados Unidos. Tudo era bem ocidentalizado, inclusive as roupas das pessoas. Em 1979, o aiatolá
Khomeini tomou o poder, instaurou um governo islâmico, e as mulheres passaram a usar trajes tradicionais
[35] e recatados, que cobrem quase todo o corpo. O efeito sobre a saúde foi imediato – e fortíssimo. Entre 1989 e
2006, o número de casos de esclerose múltipla cresceu 800% no país (como mostrou um estudo realizado
em 2013 pela Universidade de Oxford).
Até a década de 1990, acreditava-se que a única função da vitamina D era contribuir para a saúde
dos ossos. Nos últimos anos, pipocaram novos estudos (foram mais de 2 mil só em 2014) e hoje sabe-se que
[40] ela age em diversas partes do corpo: incluindo o cérebro, coração, estômago e pulmões. [...]
Sem falar no câncer. Há pesquisas mostrando que a vitamina D desacelera a progressão do câncer de
Apesar de tantas evidências, a vitamina D ainda é alvo de muita polêmica. A maior parte das
sociedades médicas do mundo e dos órgãos responsáveis por definir as diretrizes para os profissionais de
[45] saúde continuam recomendando cuidado com o sol [...]
No fim da história, [...] uma só dica sobre o futuro seria esta: tome um pouco de sol. Não muito: 15
minutos, sem protetor solar, bastam para a maioria das pessoas (sempre tendo o cuidado de não passar do
ponto e ficar vermelho, o que é perigoso). Quanto maior a região do corpo exposta, maior será a produção.
Não precisa expor o rosto – que é muito sensível e tem uma área relativamente pequena, portanto produz
[50] pouca vitamina D. Tomar sol nos braços e nas pernas já está bom. “Esperar o ônibus no ponto sem protetor
já é capaz de elevar significativamente as taxas”, explica a médica Lilian Cuppari. [...]
(Revista Superinteressante, edição 345, p. 35-42, abril de 2015. Adaptado.) mama e de próstata [...] câncer de cólon, pâncreas, cérebro, bexiga, rins e leucemia. [...]
Os termos “claríssimos” (linha 27), “chocantes” (linha 27), “fortíssimo” (linha 35) e “pipocaram” (linha 39) foram utilizados no texto com a intenção de
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A POLÊMICA DO SOL
(Daniel Cunha)
[1] [...] Os humanos, desde sempre, mantiveram uma relação íntima com o Sol. Mas, quando a
Revolução Industrial entrou em cena, no século 18, essa história tomou outro rumo. Abarrotadas de
trabalhadores, as cidades começaram a se estreitar, com prédios cada vez mais próximos, ficando cheias de
sombras. A fuligem da queima de carvão, além de poluir, dificultava a passagem dos raios solares. Crianças
[5] da Inglaterra e do norte da Europa começaram a apresentar deformações nos ossos, bolinhas na pele e máformação
dos dentes. Estavam sofrendo de uma doença pouco conhecida até o momento: o raquitismo.
Em 1916, Harry Steenbock, da Universidade de Wisconsin, descobriu que a luz solar era a resposta
para o raquitismo. Surgiu então a moda da helioterapia (terapia de exposição ao sol), que havia sido
idealizada pela primeira vez pelo historiador grego Heródoto, no século I. Na Europa e nos EUA, hospitais
[10] construíram solários e varandas para banhos de sol. Nessa mesma época, outros pesquisadores queriam
entender por que a Noruega, ao contrário dos países vizinhos, registrava baixos índices de raquitismo. O
segredo estava na dieta: os noruegueses se alimentavam, principalmente, de peixes selvagens – e
consumiam muito óleo de fígado de bacalhau. O bioquímico americano Elmer McCollum, também da
Universidade de Wisconsin, analisou esses alimentos e neles encontrou uma nova substância, que batizou de
[15] vitamina D. Os médicos passaram a receitar óleo de fígado de bacalhau, alimento que contém uma
quantidade considerável da substância [...]. A indústria do leite começou a fortificar o produto com vitamina
D, que pode ser sintetizada quimicamente ou retirada do sebo de ovelhas.
Mas, de lá para cá, aconteceram duas coisas. Primeiro, nosso estilo de vida passou a incluir cada vez
menos sol. Usamos protetor solar, nos cobrimos mais, ficamos mais tempo em locais fechados. No Brasil, o
[20] consumo de protetor sextuplicou em menos de 15 anos. Por uma boa causa, claro: proteger a pele do câncer.
Só que isso derruba a produção de vitamina D. Aplicar um filtro solar fator (FPS) 15 reduz em 98% a
produção dessa vitamina.
A outra mudança foi na própria atmosfera terrestre. Um estudo feito na Índia comparou dois grupos
de bebês, com idades entre 9 e 24 meses. Todos seguiam a mesma dieta (as mães eram vegetarianas, e os
[25] bebês se alimentavam de leite materno), eram da mesma etnia e tinham o mesmo nível socioeconômico. A
única diferença estava no ar. Um grupo morava num bairro com alto nível de poluição atmosférica; o outro
respirava ar mais puro. Os resultados foram claríssimos – e chocantes. Os bebês do bairro poluído tinham 12
monogramas de vitamina D por mililitro de sangue. Os outros tinham 27, mais que o dobro. A poluição
literalmente bloqueia a luz solar, dificultando seu trabalho. “Os compostos químicos que estão no ar
[30] absorvem parte dos raios UVB”, explica Lilian Cuppari, pesquisadora da Unifesp e uma das autoras do
estudo sobre a falta de vitamina D no Brasil. Talvez nada ilustre melhor a importância do sol do que a
história recente do Irã. Até a Revolução Iraniana, o país era governado pelo xá Reza Pahlavi, amigo dos
Estados Unidos. Tudo era bem ocidentalizado, inclusive as roupas das pessoas. Em 1979, o aiatolá
Khomeini tomou o poder, instaurou um governo islâmico, e as mulheres passaram a usar trajes tradicionais
[35] e recatados, que cobrem quase todo o corpo. O efeito sobre a saúde foi imediato – e fortíssimo. Entre 1989 e
2006, o número de casos de esclerose múltipla cresceu 800% no país (como mostrou um estudo realizado
em 2013 pela Universidade de Oxford).
Até a década de 1990, acreditava-se que a única função da vitamina D era contribuir para a saúde
dos ossos. Nos últimos anos, pipocaram novos estudos (foram mais de 2 mil só em 2014) e hoje sabe-se que
[40] ela age em diversas partes do corpo: incluindo o cérebro, coração, estômago e pulmões. [...]
Sem falar no câncer. Há pesquisas mostrando que a vitamina D desacelera a progressão do câncer de
Apesar de tantas evidências, a vitamina D ainda é alvo de muita polêmica. A maior parte das
sociedades médicas do mundo e dos órgãos responsáveis por definir as diretrizes para os profissionais de
[45] saúde continuam recomendando cuidado com o sol [...]
No fim da história, [...] uma só dica sobre o futuro seria esta: tome um pouco de sol. Não muito: 15
minutos, sem protetor solar, bastam para a maioria das pessoas (sempre tendo o cuidado de não passar do
ponto e ficar vermelho, o que é perigoso). Quanto maior a região do corpo exposta, maior será a produção.
Não precisa expor o rosto – que é muito sensível e tem uma área relativamente pequena, portanto produz
[50] pouca vitamina D. Tomar sol nos braços e nas pernas já está bom. “Esperar o ônibus no ponto sem protetor
já é capaz de elevar significativamente as taxas”, explica a médica Lilian Cuppari. [...]
(Revista Superinteressante, edição 345, p. 35-42, abril de 2015. Adaptado.) mama e de próstata [...] câncer de cólon, pâncreas, cérebro, bexiga, rins e leucemia. [...]
É CORRETO afirmar a respeito do que se diz no texto:
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A POLÊMICA DO SOL
(Daniel Cunha)
[1] [...] Os humanos, desde sempre, mantiveram uma relação íntima com o Sol. Mas, quando a
Revolução Industrial entrou em cena, no século 18, essa história tomou outro rumo. Abarrotadas de
trabalhadores, as cidades começaram a se estreitar, com prédios cada vez mais próximos, ficando cheias de
sombras. A fuligem da queima de carvão, além de poluir, dificultava a passagem dos raios solares. Crianças
[5] da Inglaterra e do norte da Europa começaram a apresentar deformações nos ossos, bolinhas na pele e máformação
dos dentes. Estavam sofrendo de uma doença pouco conhecida até o momento: o raquitismo.
Em 1916, Harry Steenbock, da Universidade de Wisconsin, descobriu que a luz solar era a resposta
para o raquitismo. Surgiu então a moda da helioterapia (terapia de exposição ao sol), que havia sido
idealizada pela primeira vez pelo historiador grego Heródoto, no século I. Na Europa e nos EUA, hospitais
[10] construíram solários e varandas para banhos de sol. Nessa mesma época, outros pesquisadores queriam
entender por que a Noruega, ao contrário dos países vizinhos, registrava baixos índices de raquitismo. O
segredo estava na dieta: os noruegueses se alimentavam, principalmente, de peixes selvagens – e
consumiam muito óleo de fígado de bacalhau. O bioquímico americano Elmer McCollum, também da
Universidade de Wisconsin, analisou esses alimentos e neles encontrou uma nova substância, que batizou de
[15] vitamina D. Os médicos passaram a receitar óleo de fígado de bacalhau, alimento que contém uma
quantidade considerável da substância [...]. A indústria do leite começou a fortificar o produto com vitamina
D, que pode ser sintetizada quimicamente ou retirada do sebo de ovelhas.
Mas, de lá para cá, aconteceram duas coisas. Primeiro, nosso estilo de vida passou a incluir cada vez
menos sol. Usamos protetor solar, nos cobrimos mais, ficamos mais tempo em locais fechados. No Brasil, o
[20] consumo de protetor sextuplicou em menos de 15 anos. Por uma boa causa, claro: proteger a pele do câncer.
Só que isso derruba a produção de vitamina D. Aplicar um filtro solar fator (FPS) 15 reduz em 98% a
produção dessa vitamina.
A outra mudança foi na própria atmosfera terrestre. Um estudo feito na Índia comparou dois grupos
de bebês, com idades entre 9 e 24 meses. Todos seguiam a mesma dieta (as mães eram vegetarianas, e os
[25] bebês se alimentavam de leite materno), eram da mesma etnia e tinham o mesmo nível socioeconômico. A
única diferença estava no ar. Um grupo morava num bairro com alto nível de poluição atmosférica; o outro
respirava ar mais puro. Os resultados foram claríssimos – e chocantes. Os bebês do bairro poluído tinham 12
monogramas de vitamina D por mililitro de sangue. Os outros tinham 27, mais que o dobro. A poluição
literalmente bloqueia a luz solar, dificultando seu trabalho. “Os compostos químicos que estão no ar
[30] absorvem parte dos raios UVB”, explica Lilian Cuppari, pesquisadora da Unifesp e uma das autoras do
estudo sobre a falta de vitamina D no Brasil. Talvez nada ilustre melhor a importância do sol do que a
história recente do Irã. Até a Revolução Iraniana, o país era governado pelo xá Reza Pahlavi, amigo dos
Estados Unidos. Tudo era bem ocidentalizado, inclusive as roupas das pessoas. Em 1979, o aiatolá
Khomeini tomou o poder, instaurou um governo islâmico, e as mulheres passaram a usar trajes tradicionais
[35] e recatados, que cobrem quase todo o corpo. O efeito sobre a saúde foi imediato – e fortíssimo. Entre 1989 e
2006, o número de casos de esclerose múltipla cresceu 800% no país (como mostrou um estudo realizado
em 2013 pela Universidade de Oxford).
Até a década de 1990, acreditava-se que a única função da vitamina D era contribuir para a saúde
dos ossos. Nos últimos anos, pipocaram novos estudos (foram mais de 2 mil só em 2014) e hoje sabe-se que
[40] ela age em diversas partes do corpo: incluindo o cérebro, coração, estômago e pulmões. [...]
Sem falar no câncer. Há pesquisas mostrando que a vitamina D desacelera a progressão do câncer de
Apesar de tantas evidências, a vitamina D ainda é alvo de muita polêmica. A maior parte das
sociedades médicas do mundo e dos órgãos responsáveis por definir as diretrizes para os profissionais de
[45] saúde continuam recomendando cuidado com o sol [...]
No fim da história, [...] uma só dica sobre o futuro seria esta: tome um pouco de sol. Não muito: 15
minutos, sem protetor solar, bastam para a maioria das pessoas (sempre tendo o cuidado de não passar do
ponto e ficar vermelho, o que é perigoso). Quanto maior a região do corpo exposta, maior será a produção.
Não precisa expor o rosto – que é muito sensível e tem uma área relativamente pequena, portanto produz
[50] pouca vitamina D. Tomar sol nos braços e nas pernas já está bom. “Esperar o ônibus no ponto sem protetor
já é capaz de elevar significativamente as taxas”, explica a médica Lilian Cuppari. [...]
(Revista Superinteressante, edição 345, p. 35-42, abril de 2015. Adaptado.) mama e de próstata [...] câncer de cólon, pâncreas, cérebro, bexiga, rins e leucemia. [...]
Esse texto é uma reportagem de revista. São características desse gênero textual, EXCETO
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A POLÊMICA DO SOL
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[1] [...] Os humanos, desde sempre, mantiveram uma relação íntima com o Sol. Mas, quando a
Revolução Industrial entrou em cena, no século 18, essa história tomou outro rumo. Abarrotadas de
trabalhadores, as cidades começaram a se estreitar, com prédios cada vez mais próximos, ficando cheias de
sombras. A fuligem da queima de carvão, além de poluir, dificultava a passagem dos raios solares. Crianças
[5] da Inglaterra e do norte da Europa começaram a apresentar deformações nos ossos, bolinhas na pele e máformação
dos dentes. Estavam sofrendo de uma doença pouco conhecida até o momento: o raquitismo.
Em 1916, Harry Steenbock, da Universidade de Wisconsin, descobriu que a luz solar era a resposta
para o raquitismo. Surgiu então a moda da helioterapia (terapia de exposição ao sol), que havia sido
idealizada pela primeira vez pelo historiador grego Heródoto, no século I. Na Europa e nos EUA, hospitais
[10] construíram solários e varandas para banhos de sol. Nessa mesma época, outros pesquisadores queriam
entender por que a Noruega, ao contrário dos países vizinhos, registrava baixos índices de raquitismo. O
segredo estava na dieta: os noruegueses se alimentavam, principalmente, de peixes selvagens – e
consumiam muito óleo de fígado de bacalhau. O bioquímico americano Elmer McCollum, também da
Universidade de Wisconsin, analisou esses alimentos e neles encontrou uma nova substância, que batizou de
[15] vitamina D. Os médicos passaram a receitar óleo de fígado de bacalhau, alimento que contém uma
quantidade considerável da substância [...]. A indústria do leite começou a fortificar o produto com vitamina
D, que pode ser sintetizada quimicamente ou retirada do sebo de ovelhas.
Mas, de lá para cá, aconteceram duas coisas. Primeiro, nosso estilo de vida passou a incluir cada vez
menos sol. Usamos protetor solar, nos cobrimos mais, ficamos mais tempo em locais fechados. No Brasil, o
[20] consumo de protetor sextuplicou em menos de 15 anos. Por uma boa causa, claro: proteger a pele do câncer.
Só que isso derruba a produção de vitamina D. Aplicar um filtro solar fator (FPS) 15 reduz em 98% a
produção dessa vitamina.
A outra mudança foi na própria atmosfera terrestre. Um estudo feito na Índia comparou dois grupos
de bebês, com idades entre 9 e 24 meses. Todos seguiam a mesma dieta (as mães eram vegetarianas, e os
[25] bebês se alimentavam de leite materno), eram da mesma etnia e tinham o mesmo nível socioeconômico. A
única diferença estava no ar. Um grupo morava num bairro com alto nível de poluição atmosférica; o outro
respirava ar mais puro. Os resultados foram claríssimos – e chocantes. Os bebês do bairro poluído tinham 12
monogramas de vitamina D por mililitro de sangue. Os outros tinham 27, mais que o dobro. A poluição
literalmente bloqueia a luz solar, dificultando seu trabalho. “Os compostos químicos que estão no ar
[30] absorvem parte dos raios UVB”, explica Lilian Cuppari, pesquisadora da Unifesp e uma das autoras do
estudo sobre a falta de vitamina D no Brasil. Talvez nada ilustre melhor a importância do sol do que a
história recente do Irã. Até a Revolução Iraniana, o país era governado pelo xá Reza Pahlavi, amigo dos
Estados Unidos. Tudo era bem ocidentalizado, inclusive as roupas das pessoas. Em 1979, o aiatolá
Khomeini tomou o poder, instaurou um governo islâmico, e as mulheres passaram a usar trajes tradicionais
[35] e recatados, que cobrem quase todo o corpo. O efeito sobre a saúde foi imediato – e fortíssimo. Entre 1989 e
2006, o número de casos de esclerose múltipla cresceu 800% no país (como mostrou um estudo realizado
em 2013 pela Universidade de Oxford).
Até a década de 1990, acreditava-se que a única função da vitamina D era contribuir para a saúde
dos ossos. Nos últimos anos, pipocaram novos estudos (foram mais de 2 mil só em 2014) e hoje sabe-se que
[40] ela age em diversas partes do corpo: incluindo o cérebro, coração, estômago e pulmões. [...]
Sem falar no câncer. Há pesquisas mostrando que a vitamina D desacelera a progressão do câncer de
Apesar de tantas evidências, a vitamina D ainda é alvo de muita polêmica. A maior parte das
sociedades médicas do mundo e dos órgãos responsáveis por definir as diretrizes para os profissionais de
[45] saúde continuam recomendando cuidado com o sol [...]
No fim da história, [...] uma só dica sobre o futuro seria esta: tome um pouco de sol. Não muito: 15
minutos, sem protetor solar, bastam para a maioria das pessoas (sempre tendo o cuidado de não passar do
ponto e ficar vermelho, o que é perigoso). Quanto maior a região do corpo exposta, maior será a produção.
Não precisa expor o rosto – que é muito sensível e tem uma área relativamente pequena, portanto produz
[50] pouca vitamina D. Tomar sol nos braços e nas pernas já está bom. “Esperar o ônibus no ponto sem protetor
já é capaz de elevar significativamente as taxas”, explica a médica Lilian Cuppari. [...]
(Revista Superinteressante, edição 345, p. 35-42, abril de 2015. Adaptado.) mama e de próstata [...] câncer de cólon, pâncreas, cérebro, bexiga, rins e leucemia. [...]
De acordo com Koch (2009, p. 16), no livro A coesão textual, “a coesão ocorre quando a interpretação de algum elemento no discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro, no sentido de que não pode ser efetivamente decodificado a não ser por recurso ao outro”.
Trazendo à tona esse conceito, assinale a alternativa em que, a seguir, está estabelecida corretamente essa relação textual de coesão.
TEXTO
A POLÊMICA DO SOL
(Daniel Cunha)
[1] [...] Os humanos, desde sempre, mantiveram uma relação íntima com o Sol. Mas, quando a
Revolução Industrial entrou em cena, no século 18, essa história tomou outro rumo. Abarrotadas de
trabalhadores, as cidades começaram a se estreitar, com prédios cada vez mais próximos, ficando cheias de
sombras. A fuligem da queima de carvão, além de poluir, dificultava a passagem dos raios solares. Crianças
[5] da Inglaterra e do norte da Europa começaram a apresentar deformações nos ossos, bolinhas na pele e máformação
dos dentes. Estavam sofrendo de uma doença pouco conhecida até o momento: o raquitismo.
Em 1916, Harry Steenbock, da Universidade de Wisconsin, descobriu que a luz solar era a resposta
para o raquitismo. Surgiu então a moda da helioterapia (terapia de exposição ao sol), que havia sido
idealizada pela primeira vez pelo historiador grego Heródoto, no século I. Na Europa e nos EUA, hospitais
[10] construíram solários e varandas para banhos de sol. Nessa mesma época, outros pesquisadores queriam
entender por que a Noruega, ao contrário dos países vizinhos, registrava baixos índices de raquitismo. O
segredo estava na dieta: os noruegueses se alimentavam, principalmente, de peixes selvagens – e
consumiam muito óleo de fígado de bacalhau. O bioquímico americano Elmer McCollum, também da
Universidade de Wisconsin, analisou esses alimentos e neles encontrou uma nova substância, que batizou de
[15] vitamina D. Os médicos passaram a receitar óleo de fígado de bacalhau, alimento que contém uma
quantidade considerável da substância [...]. A indústria do leite começou a fortificar o produto com vitamina
D, que pode ser sintetizada quimicamente ou retirada do sebo de ovelhas.
Mas, de lá para cá, aconteceram duas coisas. Primeiro, nosso estilo de vida passou a incluir cada vez
menos sol. Usamos protetor solar, nos cobrimos mais, ficamos mais tempo em locais fechados. No Brasil, o
[20] consumo de protetor sextuplicou em menos de 15 anos. Por uma boa causa, claro: proteger a pele do câncer.
Só que isso derruba a produção de vitamina D. Aplicar um filtro solar fator (FPS) 15 reduz em 98% a
produção dessa vitamina.
A outra mudança foi na própria atmosfera terrestre. Um estudo feito na Índia comparou dois grupos
de bebês, com idades entre 9 e 24 meses. Todos seguiam a mesma dieta (as mães eram vegetarianas, e os
[25] bebês se alimentavam de leite materno), eram da mesma etnia e tinham o mesmo nível socioeconômico. A
única diferença estava no ar. Um grupo morava num bairro com alto nível de poluição atmosférica; o outro
respirava ar mais puro. Os resultados foram claríssimos – e chocantes. Os bebês do bairro poluído tinham 12
monogramas de vitamina D por mililitro de sangue. Os outros tinham 27, mais que o dobro. A poluição
literalmente bloqueia a luz solar, dificultando seu trabalho. “Os compostos químicos que estão no ar
[30] absorvem parte dos raios UVB”, explica Lilian Cuppari, pesquisadora da Unifesp e uma das autoras do
estudo sobre a falta de vitamina D no Brasil. Talvez nada ilustre melhor a importância do sol do que a
história recente do Irã. Até a Revolução Iraniana, o país era governado pelo xá Reza Pahlavi, amigo dos
Estados Unidos. Tudo era bem ocidentalizado, inclusive as roupas das pessoas. Em 1979, o aiatolá
Khomeini tomou o poder, instaurou um governo islâmico, e as mulheres passaram a usar trajes tradicionais
[35] e recatados, que cobrem quase todo o corpo. O efeito sobre a saúde foi imediato – e fortíssimo. Entre 1989 e
2006, o número de casos de esclerose múltipla cresceu 800% no país (como mostrou um estudo realizado
em 2013 pela Universidade de Oxford).
Até a década de 1990, acreditava-se que a única função da vitamina D era contribuir para a saúde
dos ossos. Nos últimos anos, pipocaram novos estudos (foram mais de 2 mil só em 2014) e hoje sabe-se que
[40] ela age em diversas partes do corpo: incluindo o cérebro, coração, estômago e pulmões. [...]
Sem falar no câncer. Há pesquisas mostrando que a vitamina D desacelera a progressão do câncer de
Apesar de tantas evidências, a vitamina D ainda é alvo de muita polêmica. A maior parte das
sociedades médicas do mundo e dos órgãos responsáveis por definir as diretrizes para os profissionais de
[45] saúde continuam recomendando cuidado com o sol [...]
No fim da história, [...] uma só dica sobre o futuro seria esta: tome um pouco de sol. Não muito: 15
minutos, sem protetor solar, bastam para a maioria das pessoas (sempre tendo o cuidado de não passar do
ponto e ficar vermelho, o que é perigoso). Quanto maior a região do corpo exposta, maior será a produção.
Não precisa expor o rosto – que é muito sensível e tem uma área relativamente pequena, portanto produz
[50] pouca vitamina D. Tomar sol nos braços e nas pernas já está bom. “Esperar o ônibus no ponto sem protetor
já é capaz de elevar significativamente as taxas”, explica a médica Lilian Cuppari. [...]
(Revista Superinteressante, edição 345, p. 35-42, abril de 2015. Adaptado.) mama e de próstata [...] câncer de cólon, pâncreas, cérebro, bexiga, rins e leucemia. [...]
Em termos de sentido, considerando especialmente o contexto em que se encontra, pertence ao mesmo campo semântico o par de palavras/expressões da alternativa: