O instinto animal
[1] Alguns traduzem por "instinto animal" o que o economista inglês John Maynard Keynes na década
de 30 descreveu como "animal spirit", isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa
muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por
exemplo, quando se fala em empresários e economia. Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade
[5] geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos,
instituições, estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e
sabedoria, para que o bolo não desande.
Não me parece muito apurado o espírito animal que, nas palavras de uma autoridade, declara que
empregar 7% do PIB em educação (e 10% em mais alguns anos) vai "quebrar o país". Educação não quebra
[10] nada: só constrói. Sendo bom esse instinto ou espírito, o fator educação terá de ser visto como o mais
importante de todos. Aquele, sólido e ótimo, sem o qual não há crescimento, não há economia saudável, não
há felicidade. Uso sem medo o termo "felicidade", pois não me refiro a uma cômoda alienação e ignorância
dos problemas, mas ao mínimo de harmonia interna pessoal, e com o mundo que nos rodeia. Não precisar
ter angústias extremas com relação ao essencial para a nossa dignidade: moradia, alimentação, saúde,
[15] trabalho. Como base para tudo isso, educação. Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB
sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas
da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber
ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo.
[20] Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela
argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que
não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de
querer quebrar o país.
Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que
[25] pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites,
os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela
mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade. Pois
não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a
subserviência. Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os
[30] sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem
pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente
cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no
chamado concerto das nações, e nos torna respeitados — nos faz incluídos, consultados, procurados. Dirão
que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos
[35] que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e
fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente. Para que a gente possa ter esperanças
fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável,
aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas
listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.
[40] Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa
mais fundamental realidade: simples assim.
(LUFT, Lya. O instinto animal. Revista Veja, São Paulo, p. 2, julho de 2012.)
Observe o trecho: “A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação...” (Linha 19)
Em que alternativa a autora apresenta a definição da palavra em destaque?
O instinto animal
[1] Alguns traduzem por "instinto animal" o que o economista inglês John Maynard Keynes na década
de 30 descreveu como "animal spirit", isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa
muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por
exemplo, quando se fala em empresários e economia. Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade
[5] geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos,
instituições, estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e
sabedoria, para que o bolo não desande.
Não me parece muito apurado o espírito animal que, nas palavras de uma autoridade, declara que
empregar 7% do PIB em educação (e 10% em mais alguns anos) vai "quebrar o país". Educação não quebra
[10] nada: só constrói. Sendo bom esse instinto ou espírito, o fator educação terá de ser visto como o mais
importante de todos. Aquele, sólido e ótimo, sem o qual não há crescimento, não há economia saudável, não
há felicidade. Uso sem medo o termo "felicidade", pois não me refiro a uma cômoda alienação e ignorância
dos problemas, mas ao mínimo de harmonia interna pessoal, e com o mundo que nos rodeia. Não precisar
ter angústias extremas com relação ao essencial para a nossa dignidade: moradia, alimentação, saúde,
[15] trabalho. Como base para tudo isso, educação. Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB
sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas
da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber
ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo.
[20] Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela
argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que
não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de
querer quebrar o país.
Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que
[25] pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites,
os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela
mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade. Pois
não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a
subserviência. Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os
[30] sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem
pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente
cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no
chamado concerto das nações, e nos torna respeitados — nos faz incluídos, consultados, procurados. Dirão
que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos
[35] que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e
fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente. Para que a gente possa ter esperanças
fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável,
aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas
listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.
[40] Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa
mais fundamental realidade: simples assim.
(LUFT, Lya. O instinto animal. Revista Veja, São Paulo, p. 2, julho de 2012.)
A autora relaciona o significado de “espírito animal” com, EXCETO
O instinto animal
[1] Alguns traduzem por "instinto animal" o que o economista inglês John Maynard Keynes na década
de 30 descreveu como "animal spirit", isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa
muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por
exemplo, quando se fala em empresários e economia. Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade
[5] geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos,
instituições, estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e
sabedoria, para que o bolo não desande.
Não me parece muito apurado o espírito animal que, nas palavras de uma autoridade, declara que
empregar 7% do PIB em educação (e 10% em mais alguns anos) vai "quebrar o país". Educação não quebra
[10] nada: só constrói. Sendo bom esse instinto ou espírito, o fator educação terá de ser visto como o mais
importante de todos. Aquele, sólido e ótimo, sem o qual não há crescimento, não há economia saudável, não
há felicidade. Uso sem medo o termo "felicidade", pois não me refiro a uma cômoda alienação e ignorância
dos problemas, mas ao mínimo de harmonia interna pessoal, e com o mundo que nos rodeia. Não precisar
ter angústias extremas com relação ao essencial para a nossa dignidade: moradia, alimentação, saúde,
[15] trabalho. Como base para tudo isso, educação. Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB
sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas
da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber
ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo.
[20] Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela
argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que
não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de
querer quebrar o país.
Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que
[25] pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites,
os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela
mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade. Pois
não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a
subserviência. Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os
[30] sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem
pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente
cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no
chamado concerto das nações, e nos torna respeitados — nos faz incluídos, consultados, procurados. Dirão
que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos
[35] que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e
fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente. Para que a gente possa ter esperanças
fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável,
aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas
listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.
[40] Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa
mais fundamental realidade: simples assim.
(LUFT, Lya. O instinto animal. Revista Veja, São Paulo, p. 2, julho de 2012.)
No segundo parágrafo do texto, a autora contra-argumenta em relação à seguinte ideia:
O instinto animal
[1] Alguns traduzem por "instinto animal" o que o economista inglês John Maynard Keynes na década
de 30 descreveu como "animal spirit", isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa
muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por
exemplo, quando se fala em empresários e economia. Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade
[5] geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos,
instituições, estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e
sabedoria, para que o bolo não desande.
Não me parece muito apurado o espírito animal que, nas palavras de uma autoridade, declara que
empregar 7% do PIB em educação (e 10% em mais alguns anos) vai "quebrar o país". Educação não quebra
[10] nada: só constrói. Sendo bom esse instinto ou espírito, o fator educação terá de ser visto como o mais
importante de todos. Aquele, sólido e ótimo, sem o qual não há crescimento, não há economia saudável, não
há felicidade. Uso sem medo o termo "felicidade", pois não me refiro a uma cômoda alienação e ignorância
dos problemas, mas ao mínimo de harmonia interna pessoal, e com o mundo que nos rodeia. Não precisar
ter angústias extremas com relação ao essencial para a nossa dignidade: moradia, alimentação, saúde,
[15] trabalho. Como base para tudo isso, educação. Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB
sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas
da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber
ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo.
[20] Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela
argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que
não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de
querer quebrar o país.
Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que
[25] pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites,
os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela
mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade. Pois
não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a
subserviência. Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os
[30] sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem
pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente
cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no
chamado concerto das nações, e nos torna respeitados — nos faz incluídos, consultados, procurados. Dirão
que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos
[35] que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e
fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente. Para que a gente possa ter esperanças
fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável,
aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas
listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.
[40] Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa
mais fundamental realidade: simples assim.
(LUFT, Lya. O instinto animal. Revista Veja, São Paulo, p. 2, julho de 2012.)
Considere a afirmativa: “Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa mais fundamental realidade: simples assim.” (Linhas 40-41)
Todos os aspectos relacionados abaixo são aceitos pela autora como, ainda, utópicos, EXCETO
O instinto animal
[1] Alguns traduzem por "instinto animal" o que o economista inglês John Maynard Keynes na década
de 30 descreveu como "animal spirit", isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa
muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por
exemplo, quando se fala em empresários e economia. Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade
[5] geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos,
instituições, estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e
sabedoria, para que o bolo não desande.
Não me parece muito apurado o espírito animal que, nas palavras de uma autoridade, declara que
empregar 7% do PIB em educação (e 10% em mais alguns anos) vai "quebrar o país". Educação não quebra
[10] nada: só constrói. Sendo bom esse instinto ou espírito, o fator educação terá de ser visto como o mais
importante de todos. Aquele, sólido e ótimo, sem o qual não há crescimento, não há economia saudável, não
há felicidade. Uso sem medo o termo "felicidade", pois não me refiro a uma cômoda alienação e ignorância
dos problemas, mas ao mínimo de harmonia interna pessoal, e com o mundo que nos rodeia. Não precisar
ter angústias extremas com relação ao essencial para a nossa dignidade: moradia, alimentação, saúde,
[15] trabalho. Como base para tudo isso, educação. Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB
sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas
da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber
ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo.
[20] Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela
argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que
não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de
querer quebrar o país.
Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que
[25] pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites,
os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela
mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade. Pois
não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a
subserviência. Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os
[30] sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem
pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente
cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no
chamado concerto das nações, e nos torna respeitados — nos faz incluídos, consultados, procurados. Dirão
que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos
[35] que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e
fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente. Para que a gente possa ter esperanças
fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável,
aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas
listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.
[40] Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa
mais fundamental realidade: simples assim.
(LUFT, Lya. O instinto animal. Revista Veja, São Paulo, p. 2, julho de 2012.)
Considere o trecho: “Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no chamado concerto das nações...” (Linhas 30-33)
Em relação à palavra destacada, é CORRETO afirmar que, nesse contexto, foi usada com valor semântico de
O instinto animal
[1] Alguns traduzem por "instinto animal" o que o economista inglês John Maynard Keynes na década
de 30 descreveu como "animal spirit", isto é, espírito animal. A tradução do termo original não importa
muito, importa o que significa, e significa várias coisas: o gosto ou a capacidade pelo risco ao investir, por
exemplo, quando se fala em empresários e economia. Neste artigo tomo a expressão como nossa capacidade
[5] geral de sentir, pressentir algo, e agir conforme. Isso se refere não só a indivíduos, mas a grupos,
instituições, estados, governos. Sendo intuição e audácia, ele melhora se misturado com alguma prudência e
sabedoria, para que o bolo não desande.
Não me parece muito apurado o espírito animal que, nas palavras de uma autoridade, declara que
empregar 7% do PIB em educação (e 10% em mais alguns anos) vai "quebrar o país". Educação não quebra
[10] nada: só constrói. Sendo bom esse instinto ou espírito, o fator educação terá de ser visto como o mais
importante de todos. Aquele, sólido e ótimo, sem o qual não há crescimento, não há economia saudável, não
há felicidade. Uso sem medo o termo "felicidade", pois não me refiro a uma cômoda alienação e ignorância
dos problemas, mas ao mínimo de harmonia interna pessoal, e com o mundo que nos rodeia. Não precisar
ter angústias extremas com relação ao essencial para a nossa dignidade: moradia, alimentação, saúde,
[15] trabalho. Como base para tudo isso, educação. Educação que pode consumir bem mais do que 7% do PIB
sem quebrar coisa alguma, exceto a nossa miséria nascida da ignorância; nossas escolhas erradas nascidas
da desinformação; nossa má qualidade de vida; e a falta de visão quanto àquilo que temos direito de receber
ou de conquistar, com a plena consciência que nasce da educação.
A verdadeira democracia só floresce no terreno da boa educação e ótima informação de seu povo.
[20] Pois não será governo de todos o comando dos poucos que estudaram bem, os informados, levando pela
argola do nariz de bicho domesticado milhões e milhões de seres humanos cegos, aflitos ou alienados, que
não sabem; e que, se quiserem boa educação desde as bases na infância, correm o risco de ser acusados de
querer quebrar o país.
Precisamos medir nossas palavras: cuidar do que dizemos, do que escrevemos, e também do que
[25] pensamos e não dizemos. Podem acusar quanto quiserem os empresários, os louros de olhos azuis, as elites,
os ricos, os intelectuais, não importa: mas não acusem de querer o mal da nação aqueles que batalham pela
mera sobrevivência ou por uma vida melhor, num orçamento que tenha a educação como prioridade. Pois
não é certo que da treva sempre nasce a luz: dela brotam como flores fatídicas o sofrimento, a miséria, a
subserviência. Na treva da ignorância nasce o atraso, de suas raízes se alimenta a pobreza em todos os
[30] sentidos, financeira, moral, intelectual. Uma educação bem cuidada e fomentada, com professores bem
pagos, boas escolas desde a creche até a universidade, com orientação sadia e não ideológica, mas realmente
cultural, aberta ao mundo e não isolacionista, grande e não rasa, promove crescimento, nos insere no
chamado concerto das nações, e nos torna respeitados — nos faz incluídos, consultados, procurados. Dirão
que continuo repetitiva com esse tema: sou, e serei, porque acredito nisso. Precisamos ter cuidados pelos
[35] que nos governam: se nas relações pessoais amar é cuidar, na vida do país cuidar é nutrir não só o corpo e
fortalecer condições materiais de vida, mas iluminar a mente. Para que a gente possa ter esperanças
fundamentadas, emprego digno, salário compensador, morando e trabalhando num ambiente saudável,
aprendendo a administrar nossos ganhos, poucos ou abundantes. Para não estarmos entre os últimos nas
listas de povos mais ou menos educados e saudáveis, mas plenamente inseridos no mundo civilizado.
[40] Parece utopia, aceito isso. Mas batalharei, com muitos outros, para que ela se transforme na nossa
mais fundamental realidade: simples assim.
(LUFT, Lya. O instinto animal. Revista Veja, São Paulo, p. 2, julho de 2012.)
Assinale o contexto em que a autora faz uso da linguagem figurada, metafórica, como recurso de expressão.