Leia o trecho do ensaio “Depressão e imagem do novo mundo”, de Maria Rita Kehl, para responder à questão.
A depressão, tão em voga em nossos dias quanto foi a histeria nos tempos de Freud, é uma expressão da dor psíquica que desafia todas as pretensões da ciência de programar a vida humana na direção de uma otimização de resultados. Fatia de mercado disputada pelos laboratórios farmacêuticos, os depressivos formam um grupo desunido e incômodo a desafiar, ainda que inadvertidamente, a norma do bem-estar predominante nas sociedades ditas avançadas: estas que se tornaram incapazes de refletir sobre a dor de viver. Estas que, convencidas de que a riqueza se mede pela abundância de mercadorias em circulação, tornaram-se incapazes de tolerar a falta, de criar estéticas para o vazio, de usufruir da lentidão e vislumbrar o saber contido na tristeza.
A experiência da depressão talvez prove que algo no humano resiste à aliança entre tecnologia e publicidade, assim como às novas formas de credo que elas promovem. Do homem, sabemos, a máquina de moer carne capitalista aproveita até o berro: os depressivos, porém, não oferecem nem isso. Os depressivos não berram. Seu silêncio, seu recolhimento, sua falta de interesse por todas as ofertas do gozo em circulação, fazem do depressivo a expressão do sintoma social contemporâneo. O depressivo, como no verso do poeta suicida Torquato Neto, desafina o coro dos contentes nestas primeiras décadas do século XXI.
(Adauto Novaes (org.). Mutações, 2008. Adaptado.)
Indicam incerteza e inclusão, respectivamente, os termos ou expressões sublinhados em:
Leia o trecho do ensaio “Depressão e imagem do novo mundo”, de Maria Rita Kehl, para responder à questão.
A depressão, tão em voga em nossos dias quanto foi a histeria nos tempos de Freud, é uma expressão da dor psíquica que desafia todas as pretensões da ciência de programar a vida humana na direção de uma otimização de resultados. Fatia de mercado disputada pelos laboratórios farmacêuticos, os depressivos formam um grupo desunido e incômodo a desafiar, ainda que inadvertidamente, a norma do bem-estar predominante nas sociedades ditas avançadas: estas que se tornaram incapazes de refletir sobre a dor de viver. Estas que, convencidas de que a riqueza se mede pela abundância de mercadorias em circulação, tornaram-se incapazes de tolerar a falta, de criar estéticas para o vazio, de usufruir da lentidão e vislumbrar o saber contido na tristeza.
A experiência da depressão talvez prove que algo no humano resiste à aliança entre tecnologia e publicidade, assim como às novas formas de credo que elas promovem. Do homem, sabemos, a máquina de moer carne capitalista aproveita até o berro: os depressivos, porém, não oferecem nem isso. Os depressivos não berram. Seu silêncio, seu recolhimento, sua falta de interesse por todas as ofertas do gozo em circulação, fazem do depressivo a expressão do sintoma social contemporâneo. O depressivo, como no verso do poeta suicida Torquato Neto, desafina o coro dos contentes nestas primeiras décadas do século XXI.
(Adauto Novaes (org.). Mutações, 2008. Adaptado.)
De acordo com a autora,
Leia a crônica “O pistolão”, de Lima Barreto, para responder à questão.
Quando o dr. Café foi nomeado diretor do Serviço de Construção de Albergues e Hospedarias, anunciou aos quatro ventos que não atenderia a pistolões.
Sabe toda a gente em que consiste o pistolão ou o cartucho. É uma carta ou cartão de pessoa influente, de amigo ou amiga, de chefão político que faz as altas autoridades torcerem a justiça e o direito.
Café tinha anunciado que não atenderia absolutamente aos tais “cartuchos”; que ia decidir por si todos os casos e questões.
Firme em tal propósito, ele se trancara no gabinete e lia os regulamentos que inteiramente desconhecia, sobretudo os da sua repartição.
Naquele dia, o doutor teve notícia de que um moço o procurava.
Deu ordem a um contínuo que o fizesse entrar.
— Que deseja?
— Vossa excelência há de perdoar-me o incômodo. Eu desejava ser nomeado porteiro do albergue da ilha do Governador.
— Há albergue lá?
— Há sim, senhor.
Café pensou um tempo e disse com rapidez:
— Não conheço bem o senhor. Quem me garante a sua idoneidade para o cargo?
— Vossa excelência disse que não admitia empenhos...
— É verdade...
— Mas saberá vossa excelência que eu...
— É, é... O senhor deve fazer-se recomendar.
— Tenho mesmo já a recomendação.
— De quem é?
— Do senador Xisto.
— Deixe-me ver.
Café leu a carta e lembrou-se de que esse senador tinha concorrido muito para a nomeação dele.
Leu e respondeu:
— Pode ir. Amanhã estará nomeado.
(Sátiras e outras subversões, 2016.)
Verifica-se expressão empregada em sentido figurado no seguinte trecho:
Leia a crônica “O pistolão”, de Lima Barreto, para responder à questão.
Quando o dr. Café foi nomeado diretor do Serviço de Construção de Albergues e Hospedarias, anunciou aos quatro ventos que não atenderia a pistolões.
Sabe toda a gente em que consiste o pistolão ou o cartucho. É uma carta ou cartão de pessoa influente, de amigo ou amiga, de chefão político que faz as altas autoridades torcerem a justiça e o direito.
Café tinha anunciado que não atenderia absolutamente aos tais “cartuchos”; que ia decidir por si todos os casos e questões.
Firme em tal propósito, ele se trancara no gabinete e lia os regulamentos que inteiramente desconhecia, sobretudo os da sua repartição.
Naquele dia, o doutor teve notícia de que um moço o procurava.
Deu ordem a um contínuo que o fizesse entrar.
— Que deseja?
— Vossa excelência há de perdoar-me o incômodo. Eu desejava ser nomeado porteiro do albergue da ilha do Governador.
— Há albergue lá?
— Há sim, senhor.
Café pensou um tempo e disse com rapidez:
— Não conheço bem o senhor. Quem me garante a sua idoneidade para o cargo?
— Vossa excelência disse que não admitia empenhos...
— É verdade...
— Mas saberá vossa excelência que eu...
— É, é... O senhor deve fazer-se recomendar.
— Tenho mesmo já a recomendação.
— De quem é?
— Do senador Xisto.
— Deixe-me ver.
Café leu a carta e lembrou-se de que esse senador tinha concorrido muito para a nomeação dele.
Leu e respondeu:
— Pode ir. Amanhã estará nomeado.
(Sátiras e outras subversões, 2016.)
“Deu ordem a um contínuo que o fizesse entrar.” (6° parágrafo)
Considerando que o dr. Café trata o contínuo por “você”, ao se transpor esse trecho para o discurso direto, o verbo “fizesse” assume a seguinte forma:
Leia o poema de Fernando Pessoa para responder à questão.
As rosas amo dos jardins de Adônis1,
Essas volucres2 amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo3 deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes4, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
(Obra poética, 1997.)
1Adônis: na mitologia grega, um jovem de notável beleza, o favorito da deusa Afrodite.
2volucre: efêmero, transitório.
3Apolo: na mitologia grega, o deus do Sol.
4insciente: não ciente, ignorante.
No poema, o eu lírico recorre reiteradamente ao recurso estilístico denominado