Crase errada irrita Caetano
Uma crase fora do lugar certo rendeu uma bronca de Caetano Veloso na sua equipe de produção, responsável pelas suas publicações nas redes sociais. O erro idiota, segundo Caetano, surgiu na legenda de uma foto do cantor e de Milton Nascimento publicada em 11 de junho.
A expressão “Homenagem a Bituca”, apelido de Milton Nascimento, trazia o sinal de crase em cima da preposição. Errado, diz Caetano que, em tom professoral, dá uma aula sobre o tema, em vídeo divulgado pela sua própria produção. A equipe admite a “falta grave”, pede desculpas ao “chefe” e promete revisitar a gramática do português.
Disponível em: http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/crase-fora-do-lugar-enfurece-caetano-confira-a-aula. Acesso em 23/06/2015
A respeito do episódio relatado, é correto afirmar que a irritação do músico se justifica, porque a inclusão do acento grave na expressão “Homenagem a Bituca”
Sotaque carioca
Quando esteve aqui pela primeira vez, no início dos anos 1960, (...) o escritor cubano Guillermo Cabrera Infante se encantou com o sotaque carioca – sobretudo com o das cariocas. Pareceu-lhe semelhante demais ao de Havana.
Delírio auditivo de Cabrera Infante, que se orgulhava de ter conseguido, no romance "Três Tristes Tigres", transpor o enunciado oral havanês para o registro escrito? Não. Desde que lá também se faça chiar o S, traço mais marcante no falar do Rio. Nosso famoso chiado teria sido introduzido pela corte de dom João 6º. Já por volta de 1860, baianos podiam distinguir a fala "bastante aportuguesa" do sotaque carioca, que, com o tempo, incorporou elementos africanos – daí a conexão com Havana.
Sotaque, seja daqui ou de alhures, é natural. Pode-se ter orgulho dele, invejar ou fazer chacota. E pode-se – caso dos jogadores de futebol que vão para o exterior – perdê-lo para sempre. O estranho é virar "patrimônio cultural de natureza imaterial", como na lei agora aprovada na Câmara Municipal, que ainda depende da sanção do prefeito.
(...)
A rigor, falar como carioca não quer dizer nada além do óbvio. O que interessa é o que falamos e como agimos.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/alvaro-costa-e-silva/2015/07/1651992-sotaque-carioca.shtml. Acesso em 16/04/2016.
Toda língua apresenta uma sonoridade própria, uma certa musicalidade que a distingue e a torna reconhecida mesmo por quem não a fala.
Em relação ao sotaque carioca, o cronista defende que
Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma
Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
Oh sonora audição colorida do aroma!
GUIMARAENS, A. “Soneto do Aroma”. Disponível em: http://www.elsonfroes.com.br/sonetario/guimaraens.htm. Acesso em 16/04/2016.
Na poesia simbolista, a emoção estética é despertada a partir de uma linguagem que sintetiza múltiplas sensações.
Para atingir esse propósito, Alphonsus de Guimaraens, nos versos acima, recorre ao emprego da
A expressividade da tirinha de Adão Iturrusgarai é gerada pela presença do(a)
I ADAGIO CANTABILE
MARIA REGINA acompanhou a avó até o quarto, despediu-se e recolheu-se ao seu. A mucama que a servia, apesar da familiaridade que existia entre elas, não pôde arrancar-lhe uma palavra, e saiu, meia hora depois, dizendo que Nhanhã estava muito séria. Logo que ficou só, Maria Regina sentou-se ao pé da cama, com as pernas estendidas, os pés cruzados, pensando.
A verdade pede que diga que esta moça pensava amorosamente em dous homens ao mesmo tempo, um de vinte e sete anos, Maciel — outro de cinquenta, Miranda. Convenho que é abominável, mas não posso alterar a feição das cousas, não posso negar que se os dous homens estão namorados dela, ela não o está menos de ambos. Uma esquisita, em suma; ou, para falar como as suas amigas de colégio, uma desmiolada. Ninguém lhe nega coração excelente e claro espírito; mas a imaginação é que é o mal, uma imaginação adusta e cobiçosa, insaciável principalmente, avessa à realidade, sobrepondo às cousas da vida outras de si mesma; daí curiosidades irremediáveis.
ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar 1994. v. II.
O excerto acima é a abertura do conto “Trio em lá menor”, no qual se podem identificar, através da descrição do perfil da protagonista, traços marcantes da obra machadiana, como a/o
Texto para a questão
Mãe galinha
Tente uniformizar o design dos aviões sem ouvir os comandantes, os controladores de voo, os engenheiros, o pessoal de terra, os meteorologistas e as aeromoças. As turbinas acabarão no lugar das rodas e as asas sairão do nariz do avião, como bigodes. Foi o que aconteceu à língua portuguesa com o "Acordo" Ortográfico imposto pelo Brasil e, até hoje, não aceito nem assimilado por Portugal.
Há dias, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, admitiu que "talvez tenhamos errado no processo de normatização, que teve um caráter tecnicista e não envolveu os criadores de todos os países". Exatamente: esqueceram-se de combinar conosco, que lidamos com a língua nas escolas, nos livros, nos jornais e na publicidade. Sem necessidade, baniram grafias seculares de Portugal, assim como o hífen, o trema e os acentos diferenciais. (...) De que adianta o "acordo" criar uma escrita comum se as pronúncias continuam diferentes, além da particularidade de milhares de conteúdos? No Brasil, uma mãe que se orgulha dos filhos e os protege é uma mãe coruja. Em Portugal, é uma mãe galinha. Vá dizer aos portugueses que eles deveriam mudar isso. (...)
A magia da língua portuguesa é a de que, não importa a variedade de grafias ou pronúncias, ela é sempre compreensível para os que a falam e leem, sejam portugueses, brasileiros ou africanos. "A língua é viva, e temos a vida inteira para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico", disse o ministro. Eu não tenho. Por isso, não aderi a ele. Continuo escrevendo lingüiça e, se quiserem, me corrijam.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2015/08/1675694-mae-galinha.shtml. Acesso em 16/04/2016. (Adaptado)
Em seu texto, Ruy Castro expõe sua avaliação pessoal sobre o Novo Acordo Ortográfico.
Das afirmações a seguir, a que apresenta ideia compatível com a argumentação do autor é: