TEXTO
João do Amor Divino
39 anos de batalha, sem descanso, na vida
19 anos, trapos juntos, com a mesma rapariga
09 bocas de criança para encher de comida
Mais de mil pingentes na família para dar guarita
Muita noite sem dormir na fila do INPS
Muita xepa sobre a mesa, coisa que já não estarrece
Todo dia um palhaço dizendo
que Deus dos pobres nunca esquece
E um bilhete, mal escrito,
Que causou um certo interesse
"É que meu nome é
João do Amor Divino de Santana e Jesus
Já entreguei, num güento mais,
O peso dessa minha cruz"
Sentado lá no alto do edifício
Ele lembrou do seu menor,
Chorou e, mesmo assim, achou que
O suicídio ainda era melhor
E o povo lá embaixo olhando o seu relógio
Exigia e cobrava a sua decisão
Saltou sem se benzer
por entre aplausos e emoção
Desceu os 7 andares num silêncio
de quem já morreu
Bateu no calçadão e de repente
Ele se mexeu
Sorriu e o aplauso em volta muito mais cresceu
João se levantou e recolheu a grana
Que a platéia deu
Agora ri da multidão executiva quando grita:
"Pula e morre, seu otário"
Pois como tantos outros brasileiros,
É profissional de suicídio
E defende muito bem o seu salário
(GONZAGINHA. Gonzaguinha da Vida. CD EMI/Odeon, 1979. Faixa 1)
O Texto se estrutura como uma narrativa que causa um efeito de surpresa para o leitor, na medida em que quebra a expectativa criada.
Os versos em que se estabelece essa quebra de expectativa são:
TEXTO
Trabalhadores do Brasil
Enquanto Zumbi trabalha cortando cana na zona da mata Pernambucana Olorô-Quê vende carne de segunda a segunda ninguém vive aqui com a bunda preta pra cima tá me ouvindo bem?
Enquanto a gente dança no bico da garrafinha Odé trabalha de segurança pegando ladrão que não respeita que não ganha o pão que o Tição amaçou honestamente enquanto Obatalá faz serviço pra muita gente não levanta um saco de cimento tá me ouvindo bem?
Enquanto o Olorum trabalha como cobrador de ônibus naquele transe infernal de trânsito Ossonhe sonha com um novo amor pra ganhar um passe ou dois na praça turbulenta do Pelô fazer sexo oral anal seja lá com quem for tá me ouvindo bem?
Enquanto Rainha Quelé limpa fossa de banheiro Sambongo bungo na lama isso parece que dá grana porque povo se junta e aplaude Sambongo na merda pulando de cima da ponte tá me ouvindo bem?
Hein seu branco safado?
Ninguém aqui é escravo de ninguém.
(FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2005. pp. 17-20)
O Texto explicita criticamente na cultura brasileira uma correlação histórica entre:
TEXTO
Trabalhadores do Brasil
Enquanto Zumbi trabalha cortando cana na zona da mata Pernambucana Olorô-Quê vende carne de segunda a segunda ninguém vive aqui com a bunda preta pra cima tá me ouvindo bem?
Enquanto a gente dança no bico da garrafinha Odé trabalha de segurança pegando ladrão que não respeita que não ganha o pão que o Tição amaçou honestamente enquanto Obatalá faz serviço pra muita gente não levanta um saco de cimento tá me ouvindo bem?
Enquanto o Olorum trabalha como cobrador de ônibus naquele transe infernal de trânsito Ossonhe sonha com um novo amor pra ganhar um passe ou dois na praça turbulenta do Pelô fazer sexo oral anal seja lá com quem for tá me ouvindo bem?
Enquanto Rainha Quelé limpa fossa de banheiro Sambongo bungo na lama isso parece que dá grana porque povo se junta e aplaude Sambongo na merda pulando de cima da ponte tá me ouvindo bem?
Hein seu branco safado?
Ninguém aqui é escravo de ninguém.
(FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2005. pp. 17-20)
A caracterização das personagens que, no texto de Marcelino Freire, representam os trabalhadores do Brasil, constitui uma alusão a elementos de afirmação da cultura afrodescendente.
O elemento de identidade que caracteriza a maioria das personagens do texto é:
TEXTO
João do Amor Divino
39 anos de batalha, sem descanso, na vida
19 anos, trapos juntos, com a mesma rapariga
09 bocas de criança para encher de comida
Mais de mil pingentes na família para dar guarita
Muita noite sem dormir na fila do INPS
Muita xepa sobre a mesa, coisa que já não estarrece
Todo dia um palhaço dizendo
que Deus dos pobres nunca esquece
E um bilhete, mal escrito,
Que causou um certo interesse
"É que meu nome é
João do Amor Divino de Santana e Jesus
Já entreguei, num güento mais,
O peso dessa minha cruz"
Sentado lá no alto do edifício
Ele lembrou do seu menor,
Chorou e, mesmo assim, achou que
O suicídio ainda era melhor
E o povo lá embaixo olhando o seu relógio
Exigia e cobrava a sua decisão
Saltou sem se benzer
por entre aplausos e emoção
Desceu os 7 andares num silêncio
de quem já morreu
Bateu no calçadão e de repente
Ele se mexeu
Sorriu e o aplauso em volta muito mais cresceu
João se levantou e recolheu a grana
Que a platéia deu
Agora ri da multidão executiva quando grita:
"Pula e morre, seu otário"
Pois como tantos outros brasileiros,
É profissional de suicídio
E defende muito bem o seu salário
(GONZAGINHA. Gonzaguinha da Vida. CD EMI/Odeon, 1979. Faixa 1)
Na primeira estrofe do Texto, o elemento da narrativa que intensifica e reitera a informação sobre a gravidade da condição do protagonista é:
TEXTO I
Trabalhadores do Brasil
Enquanto Zumbi trabalha cortando cana na zona da mata Pernambucana Olorô-Quê vende carne de segunda a segunda ninguém vive aqui com a bunda preta pra cima tá me ouvindo bem?
Enquanto a gente dança no bico da garrafinha Odé trabalha de segurança pegando ladrão que não respeita que não ganha o pão que o Tição amaçou honestamente enquanto Obatalá faz serviço pra muita gente não levanta um saco de cimento tá me ouvindo bem?
Enquanto o Olorum trabalha como cobrador de ônibus naquele transe infernal de trânsito Ossonhe sonha com um novo amor pra ganhar um passe ou dois na praça turbulenta do Pelô fazer sexo oral anal seja lá com quem for tá me ouvindo bem?
Enquanto Rainha Quelé limpa fossa de banheiro Sambongo bungo na lama isso parece que dá grana porque povo se junta e aplaude Sambongo na merda pulando de cima da ponte tá me ouvindo bem?
Hein seu branco safado?
Ninguém aqui é escravo de ninguém.
(FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2005. pp. 17-20)
TEXTO II
João do Amor Divino
39 anos de batalha, sem descanso, na vida
19 anos, trapos juntos, com a mesma rapariga
09 bocas de criança para encher de comida
Mais de mil pingentes na família para dar guarita
Muita noite sem dormir na fila do INPS
Muita xepa sobre a mesa, coisa que já não estarrece
Todo dia um palhaço dizendo
que Deus dos pobres nunca esquece
E um bilhete, mal escrito,
Que causou um certo interesse
"É que meu nome é
João do Amor Divino de Santana e Jesus
Já entreguei, num güento mais,
O peso dessa minha cruz"
Sentado lá no alto do edifício
Ele lembrou do seu menor,
Chorou e, mesmo assim, achou que
O suicídio ainda era melhor
E o povo lá embaixo olhando o seu relógio
Exigia e cobrava a sua decisão
Saltou sem se benzer
por entre aplausos e emoção
Desceu os 7 andares num silêncio
de quem já morreu
Bateu no calçadão e de repente
Ele se mexeu
Sorriu e o aplauso em volta muito mais cresceu
João se levantou e recolheu a grana
Que a platéia deu
Agora ri da multidão executiva quando grita:
"Pula e morre, seu otário"
Pois como tantos outros brasileiros,
É profissional de suicídio
E defende muito bem o seu salário
(GONZAGINHA. Gonzaguinha da Vida. CD EMI/Odeon, 1979. Faixa 1)
A ação da personagem João do Amor Divino (Texto II) pode ser melhor relacionada a de qual personagem de “Trabalhadores do Brasil” (Texto I):
Leia o texto abaixo:
"Na análise das origens das universidades na Idade Média, dois fatos históricos se destacam. O primeiro diz respeito ao conflito político entre os poderes laico e eclesiástico. O segundo liga-se à disseminação do pensamento aristotélico no Ocidente. Os estudiosos são unânimes em afirmar que diversos acontecimentos interferiram e estimularam o nascimento dessas instituições, como o renascimento das cidades, o desenvolvimento das corporações de ofícios, o florescimento do comércio, o aparecimento do mercador. (...) Há interpretações segundo as quais as universidades somente poderiam ter nascido no século XIII, o século das corporações de ofício. Contudo, a disputa pelo poder entre a realeza e o papado, que reivindicavam o governo da sociedade, influenciou sobremaneira o surgimento das universidades. No início do século XIII, o papa e os príncipes encaravam essas instituições como importantes pontos de apoio político e cultural. Em função disso, editaram leis e bulas com o objetivo de instituí-las, protegê-las e nelas intervir, tanto no ensino como nas relações entre estudantes e mestres e entre estes e a comunidade."
OLIVEIRA, Terezinha. Origem e memória das universidades medievais: a preservação de uma instituição educacional. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 23, nº 37: p.113-129, Jan/Jun 2007.
Sobre o tema e cenário histórico abordados no texto, é CORRETO afirmar: