Superávit primário, dívida bruta, ajuste fiscal, despesas de capitalização, créditos extraordinários, déficit previdenciário. Ao longo da semana, muitos brasileiros tiveram o primeiro contato com esses termos áridos da economia. A razão foi a imensa repercussão da votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que limita as despesas do governo federal, com cifras corrigidas pela inflação, por até 20 anos. A PEC provoca um debate de alta qualidade sobre a economia do país. No momento, é a proposta mais viável para conter a sangria nas contas públicas e a crise econômica.
A proposta dominou as discussões na imprensa e nas redes sociais. Para um grupo, é a “PEC da salvação” para um país à beira do abismo. Para outro, é a “PEC da morte”, que reverterá avanços sociais conquistados pelo Brasil nas últimas décadas.
Época, 12/10/2016
Do ponto de vista linguístico, a discussão sobre a PEC 241 permitiu à população o acesso ao significado de termos usados pelos economistas, um código indecifrável para a maioria das pessoas que não pertencem a esse grupo de profissionais; essa constatação possibilita concluirmos que
O cantor na biblioteca
Bob Dylan merece um Prêmio Nobel? E por quê? A pergunta foi feita a Sara Danius, secretária da Academia Sueca, instituição responsável pelo Nobel de Literatura, depois do anúncio, na quintafeira, 13, de que o vencedor deste ano não era um poeta, dramaturgo, mas um cantor, uma estrela do rock.
A conversa segue com os elogios convencionais próprios da ocasião – Dylan, segundo Sara Danius, “corporifica a tradição” e “sempre reinventou a si mesmo” -, até o momento em que o entrevistador pede à secretária que indique obras do compositor americano. Sara sugere que “se ouça ou leia” Blonde on Blonde, disco de 1966. Leitura? De um disco? O verbo “ler” pareceu estranhamente deslocado em uma conversa sobre o Nobel de Literatura.
Jerônimo Teixeira, Veja, 19/10/2016 – trecho
“A escolha de Bob Dylan para receber o Prêmio Nobel de Literatura de 2016 levantou reações puristas: se o prêmio é para realizações em literatura, cabe considerar letras de música?” O fragmento do texto que exemplifica esse tipo de reação está inscrito na alternativa
O cantor na biblioteca
Bob Dylan merece um Prêmio Nobel? E por quê? A pergunta foi feita a Sara Danius, secretária da Academia Sueca, instituição responsável pelo Nobel de Literatura, depois do anúncio, na quintafeira, 13, de que o vencedor deste ano não era um poeta, dramaturgo, mas um cantor, uma estrela do rock.
A conversa segue com os elogios convencionais próprios da ocasião – Dylan, segundo Sara Danius, “corporifica a tradição” e “sempre reinventou a si mesmo” -, até o momento em que o entrevistador pede à secretária que indique obras do compositor americano. Sara sugere que “se ouça ou leia” Blonde on Blonde, disco de 1966. Leitura? De um disco? O verbo “ler” pareceu estranhamente deslocado em uma conversa sobre o Nobel de Literatura.
Jerônimo Teixeira, Veja, 19/10/2016 – trecho
O título do texto, “O cantor na biblioteca”, no contexto em que ocorre, causa estranhamento se tomado em sentido literal; entretanto, se a expressão “O cantor” for substituída por “A obra do cantor”, a linearidade de sentido se estabelece. Essa possibilidade configura a ocorrência de uma
A capa da revista anuncia reportagem sobre o resultado das recentes eleições municipais. Analisando os recursos verbais e não verbais e considerando as possibilidades significativas das palavras, é possível inferir que
Entre os Maoris, um povo polinésio, existe uma dança destinada a proteger as sementeiras de batatas, que quando novas são muito vulneráveis aos ventos do leste: as mulheres executam a dança, entre os batatais, simulando com os movimentos do corpo o vento, a chuva, o desenvolvimento e o florescimento do batatal, sendo essa dança acompanhada de uma canção que é um apelo para que o batatal siga o exemplo do bailado. As mulheres interpretam em fantasia a realização prática de um desejo. É nisso que consiste a magia: uma técnica ilusória destinada a suplementar a técnica real.
Mas essa técnica ilusória não é vã. A dança não pode exercer qualquer efeito sobre as batatas, mas pode ter, como de fato tem, um efeito apreciável sobre as mulheres. Inspiradas pela convicção de que a dança protege a colheita, entregam-se ao trabalho com mais confiança e energia. E, deste modo, a dança acaba, afinal, por ter um efeito sobre a colheita.
George Thompson
Embora a plantação de batatas seja muito importante para os Maoris, as informações contidas no texto levam a crer que esse povo
Entre os Maoris, um povo polinésio, existe uma dança destinada a proteger as sementeiras de batatas, que quando novas são muito vulneráveis aos ventos do leste: as mulheres executam a dança, entre os batatais, simulando com os movimentos do corpo o vento, a chuva, o desenvolvimento e o florescimento do batatal, sendo essa dança acompanhada de uma canção que é um apelo para que o batatal siga o exemplo do bailado. As mulheres interpretam em fantasia a realização prática de um desejo. É nisso que consiste a magia: uma técnica ilusória destinada a suplementar a técnica real.
Mas essa técnica ilusória não é vã. A dança não pode exercer qualquer efeito sobre as batatas, mas pode ter, como de fato tem, um efeito apreciável sobre as mulheres. Inspiradas pela convicção de que a dança protege a colheita, entregam-se ao trabalho com mais confiança e energia. E, deste modo, a dança acaba, afinal, por ter um efeito sobre a colheita.
George Thompson
O ritual desenvolvido pelas mulheres Maoris permite afirmar que, no contexto em que ocorrem,