O trecho a seguir, extraído de Verão no Aquário, é um diálogo entre as personagens Patrícia e Raíza, respectivamente mãe e filha. Leia-o para responder à questão que segue.
- Vou pedir à titia que vista uma roupa de fada e me transforme num peixe. Deve ser boa a vida de peixe de aquário, murmurei.
- Deve ser fácil. Aí ficam eles dia e noite, sem se preocupar com nada, há sempre alguém para lhes dar de comer, trocar a água... Uma vida fácil, sem dúvida. Mas não boa. Não esqueça de que eles vivem dentro de um palmo de água quando há um mar lá adiante.
- No mar seriam devorados por um peixe maior, mãezinha.
- Mas pelo menos lutariam. E nesse aquário não há luta, filha. Nesse aquário não há vida.
TELES, L. G. Verão no Aquário. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
A pontuação no texto escrito constitui uma pista segura para o entendimento pretendido pelo discurso.
Em, “há sempre alguém para lhes dar de comer, trocar a água...” (2º.§), as reticências
O fragmento a seguir foi extraído do capítulo Despedida às travessuras. Nele, narram-se as traquinagens de Leonardo durante uma procissão que representava a via-sacra.
[...] Era a via-sacra do Bom Jesus.
Há bem pouco tempo existiam ainda em certas ruas desta cidade cruzes negras pregadas pelas paredes de espaço em espaço.
Às quartas-feiras e em outros dias da semana saía do Bom Jesus e de outras igrejas uma espécie de procissão composta de alguns padres conduzindo cruzes [...] Caminhavam eles em charola atrás da procissão, interrompendo a cantoria com ditérios em voz alta, ora simplesmente engraçados, ora pouco decentes; levavam longos fios de barbante, em cuja extremidade iam penduradas grossas bolas de cera. Se ia por ali ao seu alcance algum infeliz, a quem os anos tivessem despido a cabeça dos cabelos, colocavam-se em distância conveniente e, escondidos por trás de um ou de outro, arremessavam o projétil que ia bater em cheio sobre a calva do devoto; puxavam rapidamente o barbante, e ninguém podia saber donde tinha partido o golpe. Essas e outras cenas excitavam vozeria e gargalhadas na multidão.
Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
Os pronomes demonstrativos, em certos contextos, além de sua função coesiva, atuam como recurso estilístico.
Em “Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.”, o pronome “isto”, ao retomar o parágrafo anterior, e associado ao adjetivo devotos, sugere, na fala do narrador, um tom
O fragmento seguinte integra o primeiro capítulo do livro Memórias de um Sargento de Milícias, intitulado Origem, nascimento e batizado. Leia-o para responder à questão que segue.
[...] Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente que temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo. [...]
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
No contexto, o fragmento “Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo[...]”, de acordo com as relações sintático-semânticas, contém o sentido equivalente à
Do capítulo Contrariedades, extraiu-se o fragmento que segue. Leia-o para responder à questão.
[...] Se tinha alguma virtude, era a de não enganar pela cara. Entre todas as suas qualidades possuía uma
que felizmente caracterizava naquele tempo, e talvez que ainda hoje, positiva e claramente o fluminense,
era a maledicência. José Manuel era uma crônica viva, porém crônica escandalosa, não só de todos os seus
conhecimentos e amigos, e das famílias destes, mas ainda dos conhecidos e amigos dos seus amigos e
[5] conhecidos e de suas famílias. Debaixo do mais fútil pretexto tomava a palavra, e enfiava um discurso de
duas horas sobre a vida de fulano ou de beltrano.
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
No fragmento, considerando o contexto da obra, nota-se a presença da conotação enfática quando o narrador emprega a expressão
Leia o texto que segue para responder à questão.
Manuel Bandeira, autor de Libertinagem (1930), insere-se na primeira Geração do Modernismo no Brasil. Sua obra, também influenciada por sua história de vida, rompeu com os padrões rígidos ditados pela produção anterior ao Modernismo. Ocupa lugar de relevância na produção poética brasileira no séc. XX, sendo um dos poetas conhecidos e estudados na contemporaneidade. Especificamente, Libertinagem acompanha o ideário do grupo modernista da Semana de 22.
Lenda brasileira
A moita buliu. Bentinho Jararaca levou a arma à cara: o que saiu do mato foi o Veado Branco! Bentinho ficou pregado no chão. Quis puxar o gatilho e não pôde.
- Deus me perdoe!
Mas o Cussaruim veio vindo, veio vindo, parou junto do caçador e começou a comer devagarinho o cano da espingarda.
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013.
Em “A moita buliu”, considerando o contexto do poema, o verbo destacado tem sentido semelhante na seguinte frase:
Leia o texto que segue para responder à questão.
Manuel Bandeira, autor de Libertinagem (1930), insere-se na primeira Geração do Modernismo no Brasil. Sua obra, também influenciada por sua história de vida, rompeu com os padrões rígidos ditados pela produção anterior ao Modernismo. Ocupa lugar de relevância na produção poética brasileira no séc. XX, sendo um dos poetas conhecidos e estudados na contemporaneidade. Especificamente, Libertinagem acompanha o ideário do grupo modernista da Semana de 22.
Lenda brasileira
A moita buliu. Bentinho Jararaca levou a arma à cara: o que saiu do mato foi o Veado Branco! Bentinho ficou pregado no chão. Quis puxar o gatilho e não pôde.
- Deus me perdoe!
Mas o Cussaruim veio vindo, veio vindo, parou junto do caçador e começou a comer devagarinho o cano da espingarda.
BANDEIRA, M. Libertinagem. 2 ed. São Paulo: Global, 2013.
O termo “Cussaruim” é uma sinonímia para “diabo”, realizada a partir da aproximação com “coisa-ruim” ou “cousa ruim”, expressões populares de certas regiões do Brasil.
No processo formativo de “Cussaruim”, tem-se a