Assaltos insólitos
[...]
— É um assalto, fica quieto senão leva chumbo.
Ele já se preparava para toda sorte de tragédias quando um dos ladrões pergunta:
— Cadê o patrão?
Num rasgo de criatividade, respondeu:
— Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta. — Então vamos lá dentro, mostre tudo.
Fingindo-se, então, de empregado de si mesmo, e, ao mesmo tempo para livrar sua cara, começou a dizer:
— Se quiserem levar, podem levar tudo, estou me lixando, não gosto desse patrão. Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele rádio ali? Olha, se eu fosse vocês, levava aquele som também. Na cozinha tem uma batedeira ótima da patroa. Não querem uns discos? Dinheiro não tem, pois ouvi dizerem que botam tudo no banco, mas ali dentro do armário tem uma porção de caixas de bombons, que o patrão é tarado por bombom.
Os ladrões recolheram tudo o que o falso empregado indicou e saíram apressados.
Daí a pouco chegavam a mulher e os filhos.
Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso quanto aliviado do próprio assalto que ajudara a fazer contra si mesmo.
SANTANNA, Affonso Romano. Porta de colégio e outras crônicas, São Paulo: Ática 1995.
O texto “Assaltos insólitos” é uma crônica porque
Notícias falsas são 70% mais compartilhadas do que as verdadeiras
O poder das notícias falsas é grande, mas a essa altura não é novidade para ninguém. Foi utilizado sistematicamente inclusive para ajudar a eleger o presidente Donald Trump, em 2016. “Definir o que é verdadeiro ou falso se tornou uma estratégica política comum, substituindo debates baseados em fatos mutuamente acordados”, afirma um estudo feito por pesquisadores do MIT publicado na revista Science.
Eles perceberam que os estudos atuais sobre as famigeradas notícias falsas (ou “fakenews”) se limitam a analisar rumores únicos com o objetivo de aprimorar sistemas de detecção de mentiras para reduzir a sua propagação. Nenhuma pesquisa, no entanto, havia se dedicado a entender a diferença da dispersão entre notícias falsas e verdadeiras.
Para isso, pegaram a base de dados de seis sites de checagem de fatos, selecionando as informações com pelo menos 95% de concordância entre eles sobre a veracidade ou não de determinada notícia. Acabaram com 126 mil rumores, espalhados por 3 milhões de usuários mais de 4,5 milhões de vezes.
“As notícias falsas se difundiram de maneira significativamente mais rápida, profunda e ampla do que os fatos verdadeiros”, concluíram. Enquanto as fakenews mais influentes atingiram de mil a 100 mil pessoas, as verdadeiras raramente foram difundidas para mais do que mil pessoas. A verdade, por sua vez, leva seis vezes mais tempo para atingir um grupo de 1,5 mil pessoas.
Quando a notícia falsa se trata de política, a dispersão é ainda mais intensa. Elas atingem 20 mil pessoas quase três vezes mais rápido que os outros tipos de notícias falsas atingem 10 mil. Quando estimaram a probabilidade de uma notícia ser compartilhada, viram que as falsas têm 70% mais chances de serem compartilhadas que as verdadeiras.
(...)
A explicação, segundo os pesquisadores pode ser bem simples: novidades atraem a atenção humana. Elas contribuem para a tomada de decisão e encorajam o compartilhamento de informações porque a novidade atualiza o entendimento do mundo.
Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/03/noticias-falsas-sao-70-maiscompartilhadas-do-que-verdadeiras.html. Acesso em 16 Out 2018.
De acordo com o texto, pode-se dizer que o uso de “fake news” como estratégia política está relacionado:
Tocando em Frente
Almir Sater / Renato Teixeira
Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque eu já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Eu só levo a certeza
De que muito pouco eu sei
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe
A sua própria história
E cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
O gênero música, como outros textos, está interrelacionado com outros discursos que podem apresentar uma complexidade social e histórica do sujeito. Em relação à letra da música deAlmir Sater e Renato Teixeira, analise as seguintes afirmações.
I. No título “Tocando em Frente”, o verbo tocar não se refere apenas ao seu significado lexical, mas também à condução do gado, à vida conduzida e ao próprio sujeito.
II. Na primeira estrofe, apresenta uma fase da vida marcada pela individualidade, a necessidade imediata própria da juventude.
III. Na terceira estrofe, ainda na primeira pessoa, apresenta as rimas “manhas/manhãs”, em que se percebe na primeira palavra – o que se aprende; e na segunda palavra – o que está posto.
IV. No trecho “cada um de nós compõe a sua história”, percebe-se um indivíduo consciente de sua posição social, mesmo sob uma ideologia, pode reverter sua história.
É correto apenas o que se afirma em
Amor Proibido
Cartola
Sabes que vou partir
Com os olhos rasos d’água
E o coração ferido
Quando lembrar de ti
Me lembrarei também
Deste amor proibido
Fácil demais
Fui presa
Servi de pasto
Em tua mesa
Mas fique certa que jamais
Terás o meu amor
Porque não tens pudor
Faço tudo para evitar o mal
Sou pelo mal perseguido
Só o que faltava era esta
Fui trair meu grande amigo
Mas vou limpar a mente
Sei que errei
Errei inocente
Disponível em: https://www.letras.mus.br. Acesso em: 25 set. 2018
As marcas linguísticas disseminadas pelo texto permitem identificar o seu locutor, ou o falante desse amor proibido.
Assinale a opção em que essas marcas linguísticas asseguram o gênero do locutor.
Costuma-se acreditar que, quando se relatam dados da realidade, não pode haver nisso subjetividade alguma e que relatos desse tipo merecem toda a nossa confiança porque são reflexo da neutralidade do produtor do texto e de sua preocupação com a verdade objetiva dos fatos.
Mas não é bem assim. Mesmo relatando dados objetivos, o produtor do texto pode ser tendencioso e ele, mesmo sem estar mentindo, insinua seu julgamento pessoal pela seleção dos fatos que está reproduzindo ou pelo destaque maior que confere a certos pormenores.
A essa escolha dos fatos e à ênfase atribuída a certos tipos de pormenores dá-se o nome de viés.
(...)
Nas campanhas políticas, órgãos da imprensa, dizendo-se imparciais e comprometidos com a neutralidade da informação, não podem manifestar claramente suas preferências partidárias. Mas estes acabam encontrando maneiras veladas de fazer propaganda, como, por exemplo, a prática do viés.
(...)
Para não cair na ingenuidade e para não se deixar levar pela malícia do produtor do texto, o leitor atento deve procurar reconhecer todo tipo de viés, pois essa é uma das formas de manipular o texto, pela qual o escritor cria uma imagem positiva ou negativa de um certo dado da realidade, fingindo estar sendo neutro.
PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto – leitura e redação. São Paulo: Ática, 1992 (fragmentos)
Considerando a natureza didática desse texto, os autores objetivam
Elogio da memória
O funil da ampulheta
Apressa, retardando-a
A queda
Da areia.
Nisso imita o jogo
Manhoso
De certos momentos
Que se vão embora
Quando mais queríamos
Que ficassem.
PAES, José Paulo. Socráticas: poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p.49
Com base na leitura do poema, considere as seguintes afirmações
I. Não é possível ir contra o fluxo do tempo.
II. Precisamos da memória para resgatar os momentos que se foram.
III. O poeta gostaria de eternizar os bons momentos.
IV. O texto pode ser considerado uma poesia concreta.
É correto apenas o que se afirma em